.: Capítulo 8 :.

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"Perder-se também é o caminho."

Antes de ir embora, Elena disse que no sábado aconteceria o tradicional Baile de Outono no colégio:

― Você deve ter visto os cartazes. – ela disse dando de ombros – Você vai né?

― Claro. – eu respondi sem ter certeza.

O outono me trazia péssimas lembranças, já que meus pais sofreram o acidente uma semana depois dele começar. Naquele mês faria um ano desde as suas mortes e eu ainda tinha a sensação de que eles estariam na sala depois do jantar. Aquele um ano não foi nada fácil, mas o que mais me confortava era lembrar do conselho que minha mãe havia me dado um mês antes de tudo acontecer: "Não importa o que aconteça, Abby, nunca desvie de seu caminho. Siga seus sonhos e não tenha medo do que vier pela frente. Você é forte, querida!" - parecia que ela sabia o que estava para acontecer. Naquele dia eu havia discutido com meu pai, uma discussão boba, sobre meu futuro. Ele sempre me apoiou com a música, mas naquele dia estava estressado com o trabalho e acabou dizendo para eu parar de sonhar tão alto. Aquilo caiu como uma bomba em minhas costas e lembro-me que chorei bastante no colo de minha mãe. Claro que após algumas horas ele veio até meu quarto se desculpar.

Eu enfrentaria aquilo com muita força e não me deixaria abalar. Quando me mudei para São Francisco prometi a mim mesma que não iria ficar me lamuriando pelos cantos. A vida precisava seguir e eu era muito nova para desistir de tudo assim tão fácil – eu não decepcionaria meus pais, não importava onde eles estivessem.

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As provas mensais chegaram ao fim, juntamente com o final de semana. A escola estava a mil com as preparações para o Baile de Outono e esse foi o assunto nos corredores durante toda a semana. Eu já havia começado a trabalhar como monitora na Hope Kids e estava adorando aquela experiência – trabalhar com crianças era mágico. Os dias estavam corridos, já que eu saia do colégio às 13h e precisava estar às 14h na creche. Só voltava para casa por voltas das 18h30, mas confesso que estava adorando aquela responsabilidade.

Acordei tarde no sábado, pois precisava colocar meu sono em dia. A claridade invadia meu quarto docemente e o céu estava tão azul que chegava a ser inspirador. Ouvi o barulho do cortador de grama lá embaixo e olhei pela janela. Era minha tia que dançava e cortava grama ao mesmo tempo: "Ah, o amor!" – eu suspirei sorrindo.

Meu café/almoço foi um pedaço de torta de frango feito por ela na noite anterior e após lavar a louça decidi assistir um pouco de TV – tinha tempo que eu não fazia aquilo. Já até havia me esquecido de como era bom assistir a desenhos animados no final de semana. Eu costumava fazer isso com mais frequência quando era mais nova.

Já passava das 18h quando comecei a me vestir para o baile. Não sabia ao certo o que vestir, pois não havia um tema específico para ele. Revirei meu armário de cabeça para baixo até encontrar um vestido que era de minha mãe. Ele era lindo! Era branco com rendas nas mangas e na barra. Era ele que eu usaria naquela noite. Comecei a procurar outra coisa em meu quarto e a encontrei embaixo da cama: minhas botas estilo cowboy, que havia ganhado de meu pai no meu último aniversário.

Coloquei alguns acessórios e soltei os cabelos que caíram levemente cacheados em meus ombros. Me olhei no espelho e sorri: "Miss Kansas está devidamente pronta!"

Minha tia estava na sala ao lado de Ralf e sorriu ao me ver descer as escadas:

― Você está linda, querida! – ela exclamou e eu pude sentir sinceridade em suas palavras – Você está muito parecida com a sua mãe quando tinha sua idade. – pude ver seus olhos marejarem.

SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora