"Talvez hoje seja o amanhã que você tanto procura."
Acordei no meio de um sonho – estava cantando novamente no mesmo palco do show de talentos e conseguia ver meus pais na primeira fileira ao lado de um rosto bastante familiar... Ele tinha cabelos negros, olhos misteriosos, um sorriso cínico nos lábios e eu sabia muito bem de quem se tratava.
Me mexi lentamente e senti o braço de Ethan sobre meu ombro. Levantei-me devagar para não despertá-lo e vesti uma camisola que encontrei no pé da cama. Ele dormia como um anjo e eu poderia ficar ali, admirando-o por um longo tempo. Caminhei até a janela que ainda estava molhada – a chuva havia trazido folhas secas e amareladas para as calçadas, o que deixava o asfalto em um tom dourado delicado. Olhei rapidamente para o relógio ao lado de minha cama. Já passava da uma da manhã. Procurei pela lua e logo a encontrei sorrindo para mim. A noite estava perfeita para ser admirada.
― Queria poder ler seus pensamentos. – a voz de Ethan me fez dar um salto. Seus lábios tocavam meus ouvidos e suas mãos minhas cinturas.
― Acredite! São pensamentos ótimos. – eu disse me virando para encará-lo.
Ele vestia apenas suas calças jeans. Seu peito estava à mostra e seus cabelos charmosamente bagunçados. Ele me encarava com ternura, mas eu sabia o que aqueles olhos queriam.
― Estou faminta! – eu sussurrei em seu ouvido.
― Eu também... – ele sibilou com segundas intenções.
Eu joguei a cabeça para trás e dei uma gargalhada silenciosa:
― Não nesse sentido. – eu disse ainda sorrindo.
― Que pena! – foi a vez de ele gargalhar.
Chegamos à cozinha e comecei a pegar alguns queijos e pães para podermos comer. Ethan pegou copos e uma garrafa de suco de laranja na geladeira. Conversamos sobre o show de talentos e demos muitas risadas ― eu gostaria de viver aquele momento inúmeras vezes.
Já era tarde quando ele vestiu sua camisa e desceu as escadas em direção à porta. Antes de sair pegou a margarida que ainda estava sobre o aparador ao lado da porta e me entregou novamente. Suas mãos encontraram minha nuca e seus lábios chegaram aos meus rapidamente – minhas costas logo estavam encostadas na coluna ao lado da porta, sentindo o corpo pesado e forte de Ethan me pressionar cada vez mais.
― Nem pense em faltar à aula amanhã. – eu disse recuperando o fôlego.
― E deixar de te ver? Jamais. – ele sorriu vestindo sua jaqueta – Durma com os anjos.
― Você também! – disse sorrindo ao abrir a porta.
Esperei que ele subisse na moto e desse partida,somente depois disso eu entrei. Segurei a margarida com força e sorri aolembrar-me de todas as emoções vividas naquela noite maluca.
●●●
Eu dormi pouco, mas o suficiente para acordar com um sorriso no rosto. O dia estava deliciosamente frio e após enrolar um cachecol no pescoço e engolir um copo de leite segui para mais um dia de aula. As ruas estavam repletas de folhas secas – o outono prometia ser gelado e perfeitamente aconchegante.
Encontrei Elena na cafeteria e não ousei em questioná-la:
― Então quer dizer que você e Ethan são cúmplices? – eu perguntei fazendo-a dar um salto.
― Ele te contou? Que traíra. – ela bufou.
― Você achou mesmo que eu não descobriria? – eu tentei parecer séria.
― Ok. Depois resolvemos isso. Agora quero saber de tudo! – ela se ajeitou no banco enquanto segurava um copo de café.
― Nós jantamos, ele me levou de volta para casa, começou a chover, eu pedi para que ele entrasse... – eu comecei a contar, mas fui interrompida.
― Estou sentindo que tem coisa boa vindo aí... – Elena bateu palmas – Aposto que vocês não ficaram assistindo Bob Esponja até a chuva passar.
Eu não consegui conter o riso. Elena tinha um humor incrível.
― Você não quer saber detalhes, né?
― É claro que quero! Não ouse me esconder nada. – ela fez uma careta.
No mesmo instante em que me sentei ao seu lado, o sinal tocou nos fazendo dar um pulo.
― Droga! Mais tarde eu quero saber de tudo. – ela disse enquanto cada uma seguia para um lado com destino as nossas salas de aula.
Minha primeira aula era com a Srta. Adams de Biologia e sabia que chegaria atrasada, pois o laboratório ficava no terceiro andar e eu estava no térreo. Corri o máximo que pude e entrei na sala esbaforida. Todas as carteiras duplas estavam lotadas, exceto uma... Ao lado de Zoey Green. Revirei os olhos ao perceber o quão torturante aquela aula seria. Eu preferia sentar em um formigueiro a ter que passar cinquenta minutos ao lado dela – os cinquenta minutos mais longos de minha vida.
― Botas de cowboy são tão over. – ela disse assim que me sentei.
― Pena que eu não pedi a sua opinião. – respondi rispidamente.
― Você é hilária, Miss Kansas. Adoro esse seu humor matinal! Irei até te convidar para minha festa anual de Halloween. – um convite nas cores laranja e preta surgiu a minha frente.
― Obrigada, mas eu dispenso. – respondi sem encará-la.
― Não me faça essa desfeita, querida. Vamos! Muitas pessoas dessa sala dariam tudo para ir a esta festa. – ela insistiu.
― Então entregue esse convite a elas.
― Bom, aqui está caso você mude de ideia. – Zoey disse enfiando o convite entre as folhas do meu livro de Biologia.
Eu não sei ao certo o que ela queria, mas eu sabia que não era boa coisa. Desde quando Zoey e eu nos tornamos amigas? Acho que perdi essa parte da história. Fechei os olhos, respirei fundo e me concentrei na voz doce da Srta. Adams – só haviam se passado dez minutos de aula, ainda havia muita tortura pela frente.
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SETEMBRO (concluída)
Teen FictionAbby Stuart nunca foi muito fã de clichês, mas surpreendentemente, sua vida havia se tornado um daqueles clichês bobos de filmes. Perder seus pais em um acidente de carro, mudar de cidade e começar em uma nova escola - esses eram apenas alguns que a...