.: Capítulo 25 :.

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"Talvez hoje seja o amanhã que você tanto procura."

Acordei no meio de um sonho – estava cantando novamente no mesmo palco do show de talentos e conseguia ver meus pais na primeira fileira ao lado de um rosto bastante familiar... Ele tinha cabelos negros, olhos misteriosos, um sorriso cínico nos lábios e eu sabia muito bem de quem se tratava.

Me mexi lentamente e senti o braço de Ethan sobre meu ombro. Levantei-me devagar para não despertá-lo e vesti uma camisola que encontrei no pé da cama. Ele dormia como um anjo e eu  poderia ficar ali, admirando-o por um longo tempo. Caminhei até a janela que ainda estava molhada – a chuva havia trazido folhas secas e amareladas para as calçadas, o que deixava o asfalto em um tom dourado delicado. Olhei rapidamente para o relógio ao lado de minha cama. Já passava da uma da manhã. Procurei pela lua e logo a encontrei sorrindo para mim. A noite estava perfeita para ser admirada.

― Queria poder ler seus pensamentos. – a voz de Ethan me fez dar um salto. Seus lábios tocavam meus ouvidos e suas mãos minhas cinturas.

― Acredite! São pensamentos ótimos. – eu disse me virando para encará-lo.

Ele vestia apenas suas calças jeans. Seu peito estava à mostra e seus cabelos charmosamente bagunçados. Ele me encarava com ternura, mas eu sabia o que aqueles olhos queriam.

― Estou faminta! – eu sussurrei em seu ouvido.

― Eu também... – ele sibilou com segundas intenções.

Eu joguei a cabeça para trás e dei uma gargalhada silenciosa:

― Não nesse sentido. – eu disse ainda sorrindo.

― Que pena! – foi a vez de ele gargalhar.

Chegamos à cozinha e comecei a pegar alguns queijos e pães para podermos comer. Ethan pegou copos e uma garrafa de suco de laranja na geladeira. Conversamos sobre o show de talentos e demos muitas risadas ― eu gostaria de viver aquele momento inúmeras vezes. 

Já era tarde quando ele vestiu sua camisa e desceu as escadas em direção à porta. Antes de sair pegou a margarida que ainda estava sobre o aparador ao lado da porta e me entregou novamente. Suas mãos encontraram minha nuca e seus lábios chegaram aos meus rapidamente – minhas costas logo estavam encostadas na coluna ao lado da porta, sentindo o corpo pesado e forte de Ethan me pressionar cada vez mais.

― Nem pense em faltar à aula amanhã. – eu disse recuperando o fôlego.

― E deixar de te ver? Jamais. – ele sorriu vestindo sua jaqueta – Durma com os anjos.

­― Você também! – disse sorrindo ao abrir a porta.

Esperei que ele subisse na moto e desse partida,somente depois disso eu entrei. Segurei a margarida com força e sorri aolembrar-me de todas as emoções vividas naquela noite maluca. 

●●●

Eu dormi pouco, mas o suficiente para acordar com um sorriso no rosto. O dia estava deliciosamente frio e após enrolar um cachecol no pescoço e engolir um copo de leite segui para mais um dia de aula. As ruas estavam repletas de folhas secas – o outono prometia ser gelado e perfeitamente aconchegante.

Encontrei Elena na cafeteria e não ousei em questioná-la:

― Então quer dizer que você e Ethan são cúmplices? – eu perguntei fazendo-a dar um salto.

― Ele te contou? Que traíra. – ela bufou.

― Você achou mesmo que eu não descobriria? – eu tentei parecer séria.

― Ok. Depois resolvemos isso. Agora quero saber de tudo! – ela se ajeitou no banco enquanto segurava um copo de café.

― Nós jantamos, ele me levou de volta para casa, começou a chover, eu pedi para que ele entrasse... – eu comecei a contar, mas fui interrompida.

― Estou sentindo que tem coisa boa vindo aí... – Elena bateu palmas – Aposto que vocês não ficaram assistindo Bob Esponja até a chuva passar.

Eu não consegui conter o riso. Elena tinha um humor incrível.

― Você não quer saber detalhes, né?

― É claro que quero! Não ouse me esconder nada. – ela fez uma careta.

No mesmo instante em que me sentei ao seu lado, o sinal tocou nos fazendo dar um pulo.

― Droga! Mais tarde eu quero saber de tudo. –  ela disse enquanto cada uma seguia para um lado com destino as nossas salas de aula. 

Minha primeira aula era com a Srta. Adams de Biologia e sabia que chegaria atrasada, pois o laboratório ficava no terceiro andar e eu estava no térreo. Corri o máximo que pude e entrei na sala esbaforida. Todas as carteiras duplas estavam lotadas, exceto uma... Ao lado de Zoey Green. Revirei os olhos ao perceber o quão torturante aquela aula seria. Eu preferia sentar em um formigueiro a ter que passar cinquenta minutos ao lado dela – os cinquenta minutos mais longos de minha vida.

― Botas de cowboy são tão over. – ela disse assim que me sentei.

― Pena que eu não pedi a sua opinião. – respondi rispidamente.

― Você é hilária, Miss Kansas. Adoro esse seu humor matinal! Irei até te convidar para minha festa anual de Halloween. – um convite nas cores laranja e preta surgiu a minha frente.

― Obrigada, mas eu dispenso. – respondi sem encará-la.

― Não me faça essa desfeita, querida. Vamos! Muitas pessoas dessa sala dariam tudo para ir a esta festa. – ela insistiu.

― Então entregue esse convite a elas.

― Bom, aqui está caso você mude de ideia. – Zoey disse enfiando o convite entre as folhas do meu livro de Biologia.

Eu não sei ao certo o que ela queria, mas eu sabia que não era boa coisa. Desde quando Zoey e eu nos tornamos amigas? Acho que perdi essa parte da história. Fechei os olhos, respirei fundo e me concentrei na voz doce da Srta. Adams – só haviam se passado dez minutos de aula, ainda havia muita tortura pela frente. 

SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora