.: Capítulo 24 :.

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"Os dispostos se atraem."

Cheguei em casa tarde da noite. Subi as escadas com dificuldade, pois meus pés estavam dormentes e meu corpo estava exausto. Minha mente pedia cama, mas eu precisava de um banho antes. Ao entrar no meu quarto, peguei o porta retratos onde havia uma fotografia de meus pais. Eu gostaria muito que eles estivessem na plateia e me dissessem o que acharam da apresentação, mas onde quer que eles estejam, tenho certeza que assistiam a tudo de camarote. As palavras de tia Steph sobre o quanto eles deveriam estar orgulhos ainda ecoavam em meus ouvidos e eu sabia que ela estava certa.

Naquela noite, dormi com o porta retrato em meu colo. Dormi como um anjo e sonhei que estava novamente em cima do palco, porém dessa vez as únicas duas pessoas na plateia eram meus pais, que sorriam e aplaudiam a cada verso cantado.

Acordei no domingo com um pouco de dor de garganta e me arrependi de não ter preparado a voz com mais antecedência. Preparei um chá de limão com mel, me enrolei em uma manta e me joguei no sofá. Resolvi assistir ao vídeo que Elena havia me enviado – era o vídeo da apresentação da noite passada. Assisti apenas uma vez, pois ainda era estranho me ver cantando em cima de um palco. Pouco tempo depois meu celular apitou:

"Nem pense em me dar um bolo. Já escolhi o restaurante. Te pego às oito. E."

Eu havia esquecido completamente de inventar uma desculpa e cancelar o tal jantar com Ethan. Olhei no relógio e já passava do meio-dia. Eu não estava muito animada em ter que sair de casa, gostaria mesmo era de passar o dia inteiro no sofá assistindo comédias românticas e comendo pipoca, mas decidi dar uma chance a Ethan, ir ao jantar seria a minha forma de agradece-lo por ter me inscrito no show de talentos, pois eu jamais teria coragem para fazer aquilo:

"Espero que o restaurante tenha comida de verdade. Odeio frescuras! A."

Permaneci no sofá até o fim da tarde e só então após assistir a três filmes seguidos, levantei-me para preparar algo para comer. Já passava das 19h quando comecei a me arrumar para o jantar. Vesti meias-calças e um vestido azul marinho de mangas longas – o clima do outono estava ficando cada vez mais gelado e eu não estava a fim de pegar um resfriado. Calcei botas de cano baixo e soltei os cabelos. Fiz uma maquiagem rápida e estava terminando de passar o batom quando ouvi uma buzina. Não me mexi, iria esperá-lo vir até a porta e tocar a campainha,  o que não demorou a acontecer. Desci as escadas e sem pressa abri a porta. Ethan estava parado de costas a poucos centímetros da porta. Vestia calças jeans pretas – como sempre – e uma camisa de botões também azul marinho com os punhos dobrados até os cotovelos. Ele se virou assim que me ouviu pigarrear:

― Uau! – foi a primeira palavra que sibilou – Se tivéssemos combinados as cores não teria dado tão certo.

Ele se dirigiu para mais perto e seu perfume amadeirado chegou até mim me fazendo puxar o ar com mais força. Só então percebi que ele segurava uma única margarida em sua mão esquerda.

― Meu pai me disse que mulheres adoram flores. – ele disse me entregando-a.

― De onde você roubou essa flor? – eu perguntei tentando segurar o riso.

Ethan coçou a cabeça e então soltou uma gargalhada.

― Espero que sua vizinha não se incomode... – ele respondeu inclinando a cabeça para o lado apontando um pequeno canteiro de flores. Srta. Wilson cultivava margaridas e eu sabia disso desde o dia em que me mudei.

Coloquei a flor sobre o aparador ao lado da porta e peguei meu casaco antes de seguir Ethan até sua... moto? Parei imediatamente ao vê-la estacionada na entrada da garagem:

SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora