Para Leigh-Anne a sensação de ter a pele tocada pelo calor do sol, era como o abraço mais terno que ela poderia ser capaz de sentir, sorriu amargo ao perceber que o sol era uma das poucas coisas a qual tinha direito. "Neta de escravos", era assim que a chamavam a atenção nas ruas, mercadores, populares, qualquer um, seja para convence-la a comprar algo, ou conversas cotidianas, nunca lhe chamaram pelo nome, e não era por não a conhecerem que assim faziam.
Afinal fora criada correndo por todas as ruas e vielas desde pequena, livre e solta, não havia resquícios da senzala em sua infância, lamentava apenas que a avó não tivesse tido a mesma experiência, a escravidão fez com que sua vida ficasse marcada pela sombra dos açoites e o som do estralo da chibata. Sua mãe já havia partido quando a irmã ainda era um bebê, e Leigh tinha um ano de vida, duas crianças nascidas quando aquela infame tortura teve seu fim. A negra voltou-se para o pedaço de pão sobre o balcão, era preciso um milagre pra faze-lo render o mês inteiro.
- Oh,Deus! Precisarei de outro emprego se quisermos nos manter! - A porta de entrada se abriu.
- Bom dia, minha neta! Espero que tenha descansado. - A senhora suspirou. - Trabalhar a noite não é o melhor trabalho pra você, querida.
- Eu bem sei disso avó querida, bom dia! - A moça Entregou um pedaço de pão após beijar a face da idosa. - Infelizmente é isso que nos tem mantido vivas minha avó.
- Eu sei , você é o anjo desta casa, você e Annastácia tenho tanto orgulho de vocês meus tesouros!
- Acredite que o verdadeiro tesouro é, e sempre foi você minha avó, a senhora foi visitar Annastácia? Como ela têm passado?
Annastácia era a irmã caçula. Há um ano atrás Leigh-Anne começara a trabalhar em uma taverna como cantora, sempre gostou de cantar, desde pequena quando ouvia as cantigas antigas de seu povo quando sua avó cantava para ela e sua irmã. O dinheiro fora investido na educação de Annastácia, que sonhava em lecionar, para tal foi matriculada desde os sete anos de idade em um bom colégio de freiras, infelizmente a anciã da família encontrava-se muito doente para trabalhar, por isso a única renda era advinda do trabalho da neta mais velha Leigh-Anne e a quantia já não era mais suficiente, passavam fome as vezes, mas para Leigh a ideia de por um fim no estudos da irmã jamais passaria por sua cabeça. Como poderia ela poupar-lhe a possibilidade de melhorar sua vida e realizar seus sonhos?
- Esta tão radiante filha, a cada dia parece mais feliz, eu fico boba vendo- a ler pra mim. Ela queria me ensinar a ler como vocês, imagina uma velha como eu?!- A senhora solta uma risada, para a jovem neta, a mais doce que existia.
- Ora essa, vovó é claro que pode, a senhora é a mulher mais inteligente que conheço, seria fácil aprender. Mas me agrada o coração saber que ela ama o que escolheu fazer.
- Oh querida! Nós duas bem sabemos que graças a você ela pode escolher, já você se mata de tanto trabalhar. Diz pra sua velha avó, onde fica seus sonhos? - Ela se aproximou e tocando o jovem rosto da neta que por sua vez afagou-lhe as mãos em seus próprios cabelos, antes de levá-las aos lábios e depositar um suave beijo - Aqui... Meus sonhos ficam aqui, com a senhora ao meu lado, com Anna estudando como sonha e cantando na taverna, amo cantar a senhora bem sabe.
- Sei que cantas e como cantas meu pequeno rouxinol, sempre foi assim!
- Oh Vovó! Este rouxinol precisa de outra coisa além de somente cantar!
- Do que fala Leigh querida?
- A comida nunca dura até o fim do mês vovó, precisarei de outro emprego para complementar a renda, parece que Deus tem nos abençoado ouvi falar que Lord Edwards busca uma dama de companhia para a filha é um ótimo emprego e nos salvaria.
- Outro emprego? Filha você não vai descansar um só minuto.
- Terei as madrugadas para dormir vovó! Além disso é uma oportunidade da qual não posso abrir mão.
- Esses nobres não querem saber de negros, filha. Na certa procuram alguma moça que seja tão pálida como a gélida pele que eles possuem e seus frios corações, incapazes de nos enxergar como seres humanos como eles. Jamais terão nossa pele de cor vívida, nem sangue quente ou coração intenso como o de nosso povo!
- Eu sei minha avó, e é justamente por toda essa força, que eu não desistirei sem tentar a senhora me conhece. Vou até lá, e se for da vontade dos céus, sei que conseguirei ser a Dama de companhia que eles buscam!
- Dama de companhia?! O que é isto agora mamãe? Você e papai resolveram se unir para decidir minha vida sem meu conhecimento?
- Não exagere querida. - O pai pondera enquanto brinca com o pudim. Perrie ainda não entendia, como ele conseguia repetir isso todos os cafés da manhã . Era um hábito que normalmente a faria sorrir, mas não hoje, hoje ela se sentia irritada, todos decidiam tudo por ela!
- Evidente que a dama de companhia se torna indispensável na vida de uma mulher casada, uma confidente de idade similar a sua que possa te acompanhar aos lugares sozinha, uma mulher casada na sua posição chegar desacompanhada aos lugares, que vergonha seria!
- Casada? Mamãe eu nem mesmo o conheci ainda.
- Mas conhecerá e tenho certeza que o rapaz lhe agradará, tive a oportunidade de conhece- lo numa dessas viagem de negócios em que seu pai se reuniu com o pai dele em um jantar, Austin é um ótimo rapaz de boa estirpe, gentil, educado, atraente, você verá.
- Não duvido que ele seja, mas ainda sim devo conhece- lo antes de decidir qualquer coisa.
- Claro, meu anjo! No seu momento!
- Assim eu espero pai. E sobre esta dama? Que ideia é essa?
- Você não é mais criança minha filha, e a Nana precisa se aposentar.- Nana, a quem a mãe se referia, era a empregada mais velha da casa devia ter por volta de setenta anos cuidara e de Perrie desde criança, fora sua ama de leite e dela a jovem era mais próxima que da própria mãe. - A seleção será feita amanhã de manhã, pode escolher se quiser.
- Ora vejam! Quer dizer que finalmente poderei decidir algo que diz respeito a minha própria vida, quem diria, não?- Perrie sorriu em deboche.
- Você precisa crescer Perrie Edwards uma boa esposa não deve ser rude ou irônica.
- Jura?! Sorte minha então não ser esposa de ninguém! - Perrie notou que o pai ameaçava rir, mas o olhar penetrante de sua mãe cortara qualquer tentativa. Por fim rendeu-se.
- Perrie minha filha, tenha mais respeito por sua mãe. - Apesar de suas palavras, o sábio Lord pensava como a filha, a esposa estava errada e ele sabia disso.
- Como quiser papai, agora com licença, preciso respirar o ar dos jardins.
- Claro.
A jovem Lady retirou-se da sala com os pensamentos pesados, sua vida estava a se transformar diante dela, suas mãos estavam atadas e ela não sabia como lidaria com isso.
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Uma Dama Para Lady Edwards
FanfictionA Viena do século XIX caminhava para o progresso desatando as amarras da escravidão, com seus heróis aclamados nas altas cortes, enquanto o povo liberto permanecia cativo, seus carrascos agora nomeavam-se fome, medo e desabrigo. A jovem camponesa Le...