-Q-quem são vocês- gaguejei com dificuldade.
-Somos sereias.- a mais perto de mim falou. Seus olhos azuis e sua pele morena refletia na água- Meu nome é Amberly. Estas são, Caroline, - ela apontou a uma garota ruiva a sua direita- Mika,- uma japonesa a sua esquerda. - e Sam- a garota, que tinha os cabelos loiros quase brancos, acenou para mim.
- E... o que vocês querem comigo?
- Queremos que vocês se juntem a nós- disse Sam.
Olhei para elas incrédula. Depois de matarem minha família, elas achavam mesmo que eu ia me juntar a elas, pulando de felicidade? Pelo menos eu ficaria viva se ficasse com elas. Desviei meu olhar para cima da bolha e consegui ver algumas pessoas tentando nadar para conseguir respirar. Será que alguma delas sobreviveria?
- Vocês mataram minha família- falei voltando a olhar para elas- Por quê?
- Por um bom motivo-afirmou Sam- as mortes fortalecem a vida da Água.
- Como assim? Água não tem vida.
- Obvio que tem. E nós sereias temos que garantir que ela continue viva.
- Matando pessoas
- Pense como uma vida para salvar milhões. - Sam disse. Pelo seu tom, percebi que ela estava perdendo a paciência.
Pensei um pouco. Se eu não aceitasse, acho que elas iriam me deixar ali no mar para morrer e iriam simplesmente achar outra pessoa para fazer isso.
- Mas se eu aceitasse, teria de fazer isso para sempre?
Amberly sorriu, como se esperasse aquela pergunta.
- Não. A Água nos torna imortais durante 130 anos, o que significa que você terá essa aparência de hoje durante todo esse tempo. Depois você será liberada e voltará a ser...- ela parou para lembrar a palavra certa- mortal.
Fiz uma careta. Cento e trinta anos era muita coisa e eu não queria morrer agora. Mas também queria matar outras pessoas.
- Olha, nós só cantamos, no máximo, umas quatro vezes no ano.- Sam falou meio impaciente-Você pode fazer o que quiser no resto do tempo.
Dei uma última olhada para cima. Agora só tinha uma pessoa lutando para respirar. Quando a reconheci quase chorei.
Alex. Ele ainda estava vivo.
- Alex!!- comecei a gritar desesperadamente. Não importava o que aquelas meninas iam pensar de mim- Alex!! Você está me ouvindo?
Comecei a pular, gritando desesperada. Sam me explicou que ninguém conseguia nos ouvir de baixo d'agua.
- Olha-disse com lágrimas nos olhos- eu topo. Eu viro uma sereia, mas vocês salvam meu irmão. Okay?Por favor!
- Não podemos fazer isso.- Amberly disse com pena- sinto muito.
- Por favor!! Eu sigo todas as regras!! Eu... eu faço tudo que vocês quiserem. Só salvem meu irmão. Por favor.
Elas pediram um segundo e se encararam. Amberly fez que sim em um certo momento, Mika sorriu, e as outras duas a olharam como se ela fosse louca.
- Tudo bem. Fechado?
Olhei e assenti com a cabeça.
- Fechado.
Elas me tiraram da bolha e mandaram eu me deitar. Elas cantaram alguma coisa numa língua que eu não entendia, e então começou.
Imagine morrer. Aquela transformação foi bem pior.
Senti meu corpo queimar, não conseguia respirar, abrir meus olhos, muito menos fazer qualquer movimento. Foram no máximo uns cinco minutos, mas parecia que foram horas. Quando elas acabaram, porém, eu me senti ótima. Um pouco cansada apenas, mas bem. Então olhei para meus pés, e vi que eles, bem, não estavam lá. No lugar tinha uma cauda com um degradê que ia de laranja quase vermelho e ficava amarela na ponta.
- Nossa -falei impressionada dando uma volta. Vi que também estava usando uma blusa branca rendada estilo cropped muito bonita. Sorri radiante para as outras meninas, que também sorriram para mim.
Apenas Sam não estava lá, pois estava ajudando o meu irmão a voltar para uma praia. "Pelo menos ele está bem" pensei.
"Tenho certeza que está" uma voz falou dentro da minha cabeça.
Girei assustada tentando ver quem tinha falado aquilo. Caroline riu da minha confusão e esclareceu que as sereias podiam ler alguns dos meus pensamentos. Não gostei nada daquilo, mas não reclamei.
Amberly, a mais velha que já era sereia há cento e poucos anos, me explicou algumas coisas, como por exemplo que nós podíamos conversar por telepatia, tanto entre nós quanto entre os humanos, embora isso não fosse muito indicado, já que precisávamos manter nossa verdadeira identidade em segredo, e para isso nos mudávamos de país e de nome a cada dez anos. Depois ela me deu um cordão, com o desenho de uma concha. Ela me explicou que aquele cordão faria com que eu pudesse assumir a forma humana e que quando isso acontecesse, o colar mudaria seu desenho e viraria uma pequena sereia.
O colar era feito de ouro imperial, um ouro muito raro e mágico. Por último ela me deu a mão e perguntou se eu queria morar com elas numa ilha do Caribe, onde elas moravam no momento, e como eu não tinha escolha, fiz que sim e deixei ela me puxar pelo mar.
"Pelo meu irmão" repeti na minha cabeça até chegarmos lá.
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Por trás das ondas
FantasyElizabeth é forçada a se tornar uma sereia em 1900 para que seu irmão fosse poupado da morte. Cento e oito anos depois ela conhece um surfista, Adrien Lacosta. Ela descobre que o garoto é imune ao seus poderes de sereia e planeja ir fundo para desc...