Meio dia, como o combinado e eu estou aqui, com o último capítulo.
Eu vou postar um epílogo no fim de semana, então não tirem o livro da biblioteca de vocês ainda!
Muito obrigada. Por tudo.
Último recado: Eu vi alguns autores por aqui fazerem um jogo de perguntas e respostas e achei a ideia super maneira, então se vocês tiverem alguma pergunta para fazer para mim, ou para um dos personagens, coloquem elas nos comentários e eu faço um capítulo respondendo!
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•- Isso é ridículo- foi o comentário de Amberly. Ela começa a cantar- solte ela.
Ele permaneceu imóvel.
- Eu disse solte ela. Deixe ela ir.
- Seria bem idiota da minha parte fazer isso.
Amberly ergueu as sobrancelhas.
- Como você está fazendo isso?- ela pareceu refletir um pouco. Então ela riu, o som reverberando contra as minhas costas- Elizabeth, isso é coisa sua?
- Ele é imune- eu respondi, com um sorriso no rosto. Isso tinha que ser uma vantagem, algum dia.
- Eu percebi. Mas ele não pode simplesmente ser imune. Não é assim que as coisas funcionam. Você está protegendo ele?
- Não. Ele é imune, como eu falei.
Eu senti ela na nossa rede telepática. Era como se ela nunca tivesse saído, talvez ela nunca tivesse saído mesmo. Eu conseguia perceber o foco dela em mim, ela vasculhando meus pensamentos. Adrien fechou os olhos, como se ele estivesse incomodado com algo, mas manteve seu braço que estava segurando a mão de Mika que estava segurando a adaga firme.
- Você está protegendo ele! E o pior é que você nem sabe que você está fazendo isso. Uma sereia tão desesperada para ser uma adolescente normal que ela torna um garoto imune ao canto para ela se rebaixar ao nível dele. O trabalho que você teve para incluir ele na rede de telepatia foi incrível, e eu não tenho a mínima ideia de como você conseguiu isso sem dar um colar para ele. Eu estaria admirada se isso não fosse tão patético.
- Mas eu estou me desviando muito do assunto- disse Amberly, se voltando pra Adrien- como você quer resolver isso, garoto humano? Eu libero a sua, você libera a minha?
- Só se a Rose soltar a faca- Adrien respondeu- Rose não, Mika. Desculpe, força do hábito.
- Para você usar essa faca para matar nós duas depois? Nada feito.
- Então você não vai ter a Elizabeth aqui de volta também.
- E você não vai ter a Mika.
Silêncio.
- Eu entendo, vocês três devem ter os seus problemas com ela- Amberly disse, revirando os olhos- Então faça o seguinte. Vocês se resolvam como vocês quiserem, façam a justiça que vocês queiram, e me deixem ir. Temos um acordo?
O ar ficou ainda mais pesado, de repente.
O corpo de Mika ficou mole nas mãos de Adrien. A mão dela soltou o cabo da adaga, que Adrien foi rápido em pegar. Ele a manteve pressionada no quadril de Mika, mas não com força o bastante para cortar.
- Você vai deixar eles me matarem?- ela disse, sua voz um sussurro- depois de tudo o que eu fiz por você, você vai deixar eles me matarem?
- Temos um acordo?- Amberly pressionou.
- Eu menti por você. Eu vivi por você, eu matei por você. E você não se importa, não é?- a expressão de Mika ficou mais séria.
Todos ficaram parados, como se o tempo tivesse congelado.
- Me solta- Mika disse, ainda em um tom sussurrado. Lágrimas tinham começado a correr em seus olhos- Me solta!!
Adrien olhou para mim.
- Não podemos confiar na palavra dela- ele disse.
A mão de Amberly no meu pescoço estava apertada o bastante para eu não conseguir falar. Todos ali ouviriam o que eu estava pensando, mas aquilo não importava mais.
"Deixe ela ir" eu mandei "Você está com a adaga. Nós temos a vantagem".
A mão ficou ainda mais apertada no meu pescoço, deixando o canto da minha visão borrado e escuro. Adrien hesitou um pouco, mas a soltou, mantendo sua mão firme no cabo da adaga, e saiu correndo para longe da beira do penhasco assim que teve a oportunidade.
Mika nem mesmo se moveu quando Adrien a soltou. Ela ficou ali, parada, lágrimas descendo suas bochechas.
- Você nunca se importou com ninguém além de você mesma. Eu fui muito ingênua de pensar que comigo seria diferente.
Ela começou a andar, dando passos trêmulos.
- Você me ressuscitou. Você me deu uma nova vida, mas você nunca se importou comigo não é? Eu era só um recurso. Como todas as outras que nós usamos.
A mão de Amberly largou meu pescoço para segurar meu pulso esquerdo atrás das minhas costas. Quando ela conseguiu, ela puxou sua mão para cima para segurar a parte de trás do meu colar, e levando meu pulso junto. Meu ombro deslocou com um barulho muito alto e eu dei um grito. Amberly quis tirar sua mão da frente do meu pescoço para me usar como escudo humano.
Mika deu alguns passos na nossa direção. Eles eram firmes, tinham uma certeza neles.
- Eu entendo elas agora- Mika continuou, erguendo sua cabeça- Ninguém nunca deveria sentir isso.
- Fala sério Mika, depois que tudo que nós passamos você vai deixar uma coisinha pequena como essa ficar entre nós? Deixa isso para lá, você está sendo dramática! Você está solta e eu tenho uma refém, nós deveríamos focar nisso.
- Mas a questão é que ela não é só uma refém!- Mika respondeu- Ela é uma pessoa! Ou bem, quase, mas esse não é o ponto. Ela foi minha amiga. Eu me importo com ela, assim como eu me importei com a Sam, a Caroline e todas as outras. Eu tentei ser fria como você e fingir que eu não me importava, mas eu não consigo. Não é quem eu sou.
"Você realmente acha que vale a pena, Amberly? Você realmente acredita que todas as vidas que nós tiramos valem a minha e a sua? Você nunca ficou acordada depois de noites seguidas sem conseguir dormir e olhou para o nascer do sol e pensou em quantas pessoas não veriam aquela mistura de cores no céu nunca mais por nossa causa?"
- Remorso não importa depois que o que foi feito foi feito. Se sentir culpada não te torna menos culpada. Só te torna mais hipócrita.
- Eu faria tudo por você. Eu te amava, Amberly! Eu culpei a Elizabeth, eu achava que era ela que tinha contaminado o grupo com as emoções dela. Mas ela ainda está aqui, e eu não sei se eu te amo ainda. Se eu for honesta, eu acho que eu estava tentando me prender a uma coisa que já não estava ali há muito tempo.
- Eu nunca pedi nada de você. Eu não pedi o seu amor, e eu com certeza não me importo com a sua opinião sobre mim. Eu continuo a mesma que eu sempre fui, e eu nunca te enganei.
Mika riu, mas o som era amargo.
- E pensar que eu estava prestes a deixar meu grupo morrer por você. A matar elas com as minhas próprias mãos. Elas se importam comigo, se importam de verdade- seu olhar suavizou ao focar em Kat, depois em mim- e mesmo que elas não se importem mais comigo depois de hoje, elas ainda vão se importar umas com as outras, e isso vai ser o suficiente. Eu sempre quis viver algo assim, mas você não era a pessoa certa para isso.
- Você está exagerando! Nós temos isso. Eu te ajudo, e você me ajuda.
- Não Amberly, nós não temos. E eu cansei de ser tratada como inferior, eu cansei de fazer seu trabalho sujo e eu cansei de viver por uma pessoa que não se importa comigo. Se a minha única boa ação no mundo for deixar que elas vivam, eu vou estar feliz.
O seu olhar endureceu novamente. Ela afastou seus pés um do outro oe fechou seus punhos, em uma base de luta.
- Então deixe ela ir e lute comigo!
Amberly riu.
- Você só pode estar brincando.
- Não estou. Isso deveria ser entre eu e você. Deixe elas fora disso.
- Duas sereias em ótima condição seriam ótimas para mim. Eu não tenho como 'deixar elas fora disso'. Eu já estou ganhando, eu não preciso da sua proposta.
Mika estava frustrada. Ela parecia estar ao ponto de gritar, mas ela respirou fundo e desfez sua pose.
- Você está com medo de fazer isso?
- Isso não vai funcionar em mim, Mika. Eu não estou com medo, eu só não sou idiota.
- Mas e se fossem três?
A pegada de Amberly no meu braço pareceu mais fraca, mas ainda não fraca o bastante para eu conseguir me mover.
- Como assim?
- Três sereias em ótima condição ao invés de duas? Eu não garanto que a Liz e a Kat vão se render sem lutar, mas eu garanto que eu vou. Isso é, se você ganhar, é claro.
- E se eu perder?
- Então você deixa nós três irmos.
- Não!- eu gritei, usando a pouca força que eu tinha- Nós quatro. Adrien precisa sair vivo.
- Você não vai deixar nem o humano?- eu conseguia imaginar a careta no rosto da Amberly.
Mika ergueu as sobrancelhas e inclinou a cabeça na minha direção, em um pedido silêncio.
- Ele continua vivo- eu falei, com certeza- eu... eu fico como sua garantia, se você precisar. Eu prometo me render sem lutar, se vocês não envolverem ele nisso.
- Elizabeth, não- Adrien começou a andar na minha direção, mas Amberly o viu e puxou meu braço ainda mais para cima, fazendo com que eu desse um gritinho de dor. Ele congelou onde estava.
Mika parecia hesitante.
- Elizabeth, você tem certeza? Você não vai ter como voltar atrás depois disso.
Eu olhei para Adrien novamente, e um pequeno sorriso surgiu nos meus lábios. Meus olhos ardiam, e eu sentia minhas bochechas molhadas. Pelo menos eu não era a única assim. Ele estava chorando também.
- Eu não consegui salvar meu irmão- eu falei, voltando a olhar para Mika- eu não consegui salvar as milhares de pessoas que matamos ao longo dos anos. Mas eu consigo salvar ele.
Mika me conhecia a mais de um século. Ela sabia que eu era teimosa, e que ela não me faria mudar de ideia nem que nós tivéssemos mais um século a nossa disposição. Ela assentiu.
- Se ela vai ficar, eu também vou- Adrien bateu o pé no chão, como uma criança fazendo birra.
- Adrien...
- Não- ele me cortou, quase soluçando- eu não posso simplesmente dirigir para casa enquanto você fica aqui e morre. Não me peça para fazer isso.
- Adrien- eu estava me controlando para não desabar em lágrimas, de dor de tristeza, de luto- você tem uma vida inteira pela frente. Vá para a escola. Faça amigos. Arrume garotas que não tem mais de cem anos e muito mais de mil homicídios nas costas- eu tentei soltar uma risada, mas saiu mais como um soluço.
- Você não pode me pedir para esquecer de você.
- Considere como meu último pedido.
Ele ficou imóvel.
- Isso foi golpe baixo.
- Eu sei.
Eu dei mais uma risada fraca.
- Agora seria um momento terrível para falar que eu te amo?
Ele arregalou os olhos.
- Sim, seria- ele disse, dando um sorriso triste- mas eu gostaria de ouvir mesmo assim.
- Bem, eu te amo.
- Eu também te amo.
- Vocês dois podem por favor parar de agir como se eu já tivesse perdido a aposta?- Mika disse, interrompendo o momento- Meu deus.
Eu limpei a garganta, mas não me dei ao trabalho de secar minhas lágrimas.
- Me desculpe. Vai lá, acreditamos em você, Mika.
Amberly soltou meu braço, e eu caí de joelhos na grama quase imediatamente. Eu não consegui mover meu braço esquerdo sem sentir como se ele fosse soltar a qualquer momento, e ele não iria curar até que ele fosse movido para o lugar onde ele deveria estar, o que eu não conseguiria fazer sozinha. E pela pouca visão que eu conseguia ter do meu ombro esquerdo, o concerto dele não seria fácil.
- Eu não ligo para o garoto- disse Amberly, dando de ombros- mas se jogar no acordo, Mika?- ela abriu um sorriso de lado- muito nobre da sua parte.
- Eu não tenho medo de uma aposta que eu vou ganhar.
- Como você quer fazer isso então?- Amberly disse, sorrindo e indo na direção dela.
- Nós lutamos com as mãos, sem armas. A primeira a desistir perde. Um jogo limpo, ninguém precisará morrer.
Amberly deu um sorriso assimétrico.
- Isso é, se você ganhar.
Mika semicerrou os olhos. Amberly avançou para cima dela, sem nenhum aviso prévio.
Adrien aproveitou que Amberly estava ocupada com outra coisa que não fosse eu e se aproximou de mim.
- Elizabeth. Minha Amy, você não precisa fazer isso.
- Eu apoiei a aposta para que você pudesse ter uma chance. Você não deveria ter apoiado ela também.
- Eu não quero te deixar sozinha.
- Você não entende, não é? Você tem uma chance. Sua vida é.. é uma grande tela em branco. Você pode ser o que quiser, fazer o que você quiser, viver livre. Eu estou fazendo isso por você, mas eu não tenho outra opção. Eu não posso simplesmente parar de virar barcos por tempo o bastante para eu me tornar humana e simplesmente deixar isso para lá.
- É claro que você pode!
- Eu matei pessoas por anos, Adrien- eu senti um gosto amargo na minha boca- e para nada. Eu não estava ajudando ninguém.
- Você não tinha como saber- ele me deu um meio-abraço, sua mão encostando no meu ombro ruim e eu estremeci- meu deus, o seu ombro.
- Não é nada. Eu ficarei bem.
Ele fez uma cara de quem parecia que ia insistir, mas afastou sua mão.
- Meu irmão faz medicina- ele disse, sua voz baixa- ele pode te acertar se você voltasse para casa comigo agora.
- Eu consigo acertar sozinha quando eu tiver um espelho- eu respondi- provavelmente. E seu irmão não precisa saber de...- eu fiz um gesto com meu braço bom- tudo isso.
- Nós poderíamos deixar elas aqui e correr. Talvez um carro nos dê carona no caminho.
- Eu não posso deixar elas aqui sozinhas, Adrien.
- Elas não pareciam sentir o mesmo.
- Elas só estavam seguindo ordens. E me parece que elas mudaram de ideia. Eu não vou abandonar elas quando elas decidiram me ajudar- eu suspirei- A palavra de alguém tem que valer alguma coisa por aqui.
A briga entre as duas não era nada demais, levando em conta que as duas eram praticamente imortais, mas não era algo bonito de se ver. Elas ainda sentiam dor, e elas ainda sangravam, mesmo que as feridas cicatrizassem rapidamente. Em um certo momento, Mika se atirou para cima de Amberly, uma mão atrás de seu joelho, e conseguiu derruba-la, vira-la de barriga para o chão e prender seu braço em um ângulo que parecia desconfortável.
- É isso- falou Mika- eu ganhei.
- Eu achei que isso só acabasse quando eu desistisse- Amberly lembrou- Eu não desisti ainda.
- Amberly, se eu puxar mais eu posso quebrar o seu braço bem feio. Pode levar um tempo para cicatrizar.
Ao invés de se render, Amberly riu. Não era possível ver, mas o som era inconfundível. Ela puxou seu braço da pegada de Mika com muita força, fazendo com que ela fizesse um som de surpresa e a soltasse. Amberly se levantou e, fazendo um punho com a mão esquerda, que bateu entre as costelas de Mika. Ela caiu, tentando inspirar ar e falhando.
- Você ainda não consegue me machucar, consegue? Não de verdade- Amberly notou, parecendo se divertir- Todo aquele papo de me deixar para trás e de que você estava cansada de se importar- uma das mãos dela se enrolou no pescoço da outra- Mas você ainda se importa, não é?
Mika precisaria se render, mais cedo ou mais tarde. Ela não faria isso. Eu era teimosa, mas ela também era.
Eu sinto muito" ela pensou, e nós ouvimos "Por tudo".
- Então você se rende?- Amberly perguntou.
Nenhuma resposta.
Eu estava me sentindo tão inútil, parada ali olhando isso tudo acontecer. Eu queria muito ajudar, mas eu nem saberia o que fazer em uma briga.
Amberly esperou um pouco mais. O silêncio permaneceu. Ela fez uma careta.
- Não faz sentido nós lutarmos assim- ela disse, por fim- nós sabemos que não tem risco. Não tem nada em jogo.
Ela tirou o grampo de cabelo que prendia seu meio rabo. Ele era curvo, um pouco mais grosso que um lápis, o dourado dele contrastando contra os cachos castanhos. Uma das pontas era mais grossa e arredondada que o meio enquanto a outra era mais fina, formando uma ponta.
Mika arregalou os olhos quando o viu. Depois que ela falou, eu entendi também.
" A arma perdida do conto"
- Não chamaria de conto- disse Amberly, aproximando o grampo do pescoço de Mika- Conto faz parecer que não aconteceu de verdade. Eu conhecia a menina que achou que salvar um humano fosse uma boa ideia. Eu fui a única sobrevivente do grupo dela, e eu jurei pela minha vida que eu iria caçar aquele filho da puta e pegar todas as cinco armas que ele fez.
"Eu tive séculos para fazer isso, Mika. Você realmente achou que eu iria deixar uma das armas passar?"
"Mas você disse que..."
- Medo é algo importante de se ter, Mika. Eu não podia sair por aí com um bando de sereias se achando invencíveis, sabendo que eu, com todas as armas, era a única ameaça. Mas isso não importa agora- ela se aproximou ainda mais de Mika-você se rende?
Ela não respondeu. Amberly afastou a mão com o grampo-faca para pegar impulso ao trazê-la para perto de novo.
Mika conseguiu segurar o seu cordão, rolar para longe e empurrar Amberly para atrás.
Amberly cambaleou, sem perceber onde estava. Não havia muito chão para trás.
Ela colocou as mãos na própria garganta, um olhar de choque e traição nos seus olhos e caiu para trás, sendo recebida pelo abismo do penhasco.
Mika correu para a beira, mas não havia mais o que ser feito. O mar lá embaixo permanecia como sempre esteve, água verde azulada com suas ondas batendo na pedra. Era difícil ver o que acontecia por trás delas.
Amberly poderia estar viva e bem, uma sereia presa ao mar até que ela achasse algum cordão de ouro imperial para usar. Ela poderia ter morrido antes de cair. Era difícil ter certeza, e ninguém ali queria descer para checar.
Mika olhou para baixo, se ajoelhou e gritou. Eu nunca tinha visto ela agir assim, mas não foi por isso que eu não me ajoelhei ao lado dela para tentar me ajudar de alguma maneira. Ela me abraçou, eu a abracei de volta. Kat veio se unir a nós.
Depois que ela se acalmou um pouco, lágrimas ainda correndo silenciosamente pela sua bochecha, eu deixei Kat ficar com ela e fui falar com Adrien.
Eu corri na sua direção e ele correu na minha. Nós nos encontramos no meio e nos beijamos, um lembrete de que estávamos ali e estávamos bem.
- Você está bem?- ele me perguntou.
- Sim! E você?
- Também estou.
Ele levou suas mãos para segurarem meu queixo e me beijar de novo.
- Aquilo foi idiota- eu disse para ele- nunca mais se arrisque assim por mim sem motivo de novo.
- Eu achei que foi bem legal da minha parte, honestamente- foi o que ele respondeu, ainda não se afastando de mim.
- Não foi.
- Você estava tão pronta para se entregar. Você é a última pessoa que deveria falar isso para mim.
- Mas eu tive culpa nisso tudo. Você não tinha nada a ver com o que estava acontecendo, eu sinto muito por ter te arrastado para isso.
- Você não me arrastou, eu vim porque eu quis.
Nós ficamos lá, abraçados, uma de suas mãos passando pelos meus cabelos.
- Você estava falando sério quando você falou que me amava?- ele me perguntou- Ou foi só o calor do momento?
- É claro que eu estava falando sério!
Ele se afastou um pouco e sorriu.
- Que bom. Eu estava falando sério também. Eu sinto que um casal deveria se beijar depois de falar "eu te amo" pela primeira vez.
Eu ri.
- Tipo como nós acabamos de você?
- Nós quase acabamos de morrer. Eu sinto que nós merecemos fazer isso de novo.
Eu puxei ele para perto de mim de novo. Nós só nos afastamos quando Kat limpou sua garganta do nosso lado.
- Onde está Yasirah?- ela perguntou, com Mika do seu lado.
- Eu pedi para ela se esconder quando a Amberly chegou- eu disse, apontando para onde nosso carro estava.
- Yasirah é o nome da pequena, não é?- Adrien perguntou- ela me parece ser esperta.
Kat sorriu.
- Ela é.
Enquanto os dois conversavam, eu me aproximei de Mika.
- Você está bem?- aquela tinha sido uma pergunta idiota. É claro que ela não estava bem.
- Eu vou ficar- ela disse, secando uma lágrima com as costas de sua mão.
Nós andamos lado a lado em silêncio por um tempo, até que ela decidiu falar de novo.
- Ela não era mais uma boa pessoa- ela continuou- talvez ela nunca tenha sido. Mas eu não deixaria ela cair. Foi minha culpa.
Eu encostei de leve no ombro dela.
- Você salvou a gente.
Ela riu, mas o som era fraco, quase amargo.
- Fui eu que coloquei vocês em perigo em primeiro lugar. Eu deveria ter me afastado dela a muito tempo. Eu sinto muito, de verdade. Talvez se eu tivesse, nada disso teria acontecido.
- Eu acredito em você. Mas o que aconteceu aconteceu. Milhões de coisas poderiam ter acontecido- eu suspirei. Eu não tinha certeza se eu estava seguindo o conselho que eu estava dando, mas isso não importava naquele momento- mas nós não podemos mudar o passado. Não adianta ficarmos presas no que vivemos. Precisamos seguir em frente.
Adrien gritou um "achamos!" na nossa frente. Apressando o passo, nós encontramos os três, Yasirah abraçada em Kat. Quando ela viu Mika, ela segurou a mão de Kat e deu alguns passos para trás, tentando puxar ela para longe.
- Está tudo bem- eu disse- ela está do nosso lado.
Yasirah não pareceu comprar isso. Ela ergueu uma sobrancelha e não soltou a mão de Kat, mas deu um pequeno passo para a frente.
Nós tivemos que empurrar o carro no qual Amberly veio para conseguirmos tirar o carro que Adrien tinha pego emprestado. A volta para casa foi silenciosa e desconfortável.
Kat foi a primeira a quebrar o silêncio, com uma risada nervosa.
- E agora?- ela perguntou, simplesmente- Nosso propósito era uma mentira. O que nós vamos fazer com o resto das nossas vidas? A destranformação existe mesmo? Ou aquilo era mentira também?
Mika suspirou. Eu conseguia ver uma parte dela pelo espelho do carro. Seus olhos nos evitavam.
- Quando vocês pararem de virar barcos por muito tempo, um ano, talvez mais, vocês vão voltar a ser humanas normais. Nós vamos voltar a ser humanas normais. Pode ser um processo complicado, nosso corpo está vivendo de outras almas a muito tempo, mas se conseguirmos passar por isso, voltamos a envelhecer e a nos machucar. Em teoria. Nunca ninguém chegou nessa parte.
Eu me virei para trás.
Então nós seremos as primeiras.
Eu estiquei minha mão. Kat esticou a dela, colocando-a em cima da minha. Mika se encolheu.
- Eu sei que eu errei com vocês. Eu ferrei tudo em níveis astronômicos, e eu entendo se vocês não quiserem me ver nunca mais- ela colocou seus pés no banco e abraçou seus joelhos- eu entendo se vocês não quiserem me ver nunca mais. Eu posso pegar as minhas coisas no apartamento e vocês nunca mais terão que me ver.
- Você deveria- disse Yasirah. Eu não a culpava.
- Eu não vou dizer que nós te perdoamos completamente e tudo vai voltar a ser como antes- disse Kat- Você mentiu para a gente. Você nos tratou como algo dispensável...
- Eu sei.
- ... mas- continuou Kat- eu entendo que você estava sobre a influência daquela outra sereia. Vocês duas pareciam ser bem próximas antes de... bem. O que eu estou querendo dizer é que eu estaria disposta a te dar outra chance, mas você vai ter que merecê-la. Nós não vamos deixar você passar por cima de nós de novo.
Mika deu um aceno de cabeça.
- Eu vou dar o meu melhor, eu prometo.
- Coloca a sua mão aí também!- eu disse- eu já vi pessoas fazendo isso em filmes. Achei que esse era um bom momento.
Um meio sorriso apareceu em Mika. Ela esticou a mão e a colocou em cima da nossa. Yasirah, meio relutante fez o mesmo.
- Eu sinto que eu estou atrapalhando um momento- disse Adrien, aproveitando o sinal vermelho para olhar para nós.
- Você não está!- eu afirmei- Você deveria colocar a mão aí também, você passou por toda essa esquisitice também. Isso te torna parte do nosso grupo.
Ele riu, e colocou sua mão no bolo.
Alguns segundos se passaram.
- O que nós deveríamos fazer depois disso?- Adrien perguntou.
Eu ri.
- Eu não sei.
O carro atrás de nós buzinou. Nós gritamos "Adrien, o sinal!" e ele se virou rapidamente para voltar a dirigir, enquanto nós ríamos.
Eu não sabia o que o futuro traria para nós.
Eu não sabia o que nós iríamos fazer, nem para onde nós iríamos ir.
Mas eu sabia que eles estaríam do meu lado.
Aquilo era o suficiente.
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Por trás das ondas
FantasíaElizabeth é forçada a se tornar uma sereia em 1900 para que seu irmão fosse poupado da morte. Cento e oito anos depois ela conhece um surfista, Adrien Lacosta. Ela descobre que o garoto é imune ao seus poderes de sereia e planeja ir fundo para desc...