Em 1912, eu já estava um pouquinho acostumada com minha nova vida. Não lembrava muito da minha vida antiga, mas as meninas me falaram que aquilo era normal. A única coisa que eu lembrava era do rosto do meu irmão e o motivo de eu ter virado sereia, o motivo que fazia o peso dos cantos não cair tanto nos meus ombros. As outras nunca deixaram eu procurar Alex, mesmo que fosse apenas para vê-lo sem ele me ver. Elas disseram que aquilo ia mexer comigo, e eu concordei. Ia ser muito difícil ver ele e não poder falar com ele, já que ele acha que eu morri no naufrágio. Ver ele de luto e não poder fazer nada iria me deixaria de coração partido.
Era o último canto de Amberly, que ia completar seus cento quarenta anos como sereia em quatro meses. Eu, Sam e Mika estávamos conversando e rindo no nosso apartamento. Elas se tornaram amigas para mim, até mesmo uma família.
Amberly entrou no quarto ainda com o casaco de pele que tinha usado para sair no frio de janeiro em Edinburgh, na Escócia, onde estávamos morando.
- Gente, trouxe notícias.
Ela estava segurando um jornal que mostrava um barco bem grande para a época. A manchete dizia
RMS Titanic: o maior barco criado até hoje
- Meu deus. Esse barco é enorme.
- É- disse Amberly- E nós vamos afundar ele.
Sam riu e pegou o jornal de Amberly.
- Você não pode estar falando sério.
Já eu, não estava achando a menor graça. Tirei o jornal da mão de Sam.
- Por que nós faríamos isso? Olha só! Isso tem capacidade para duas mil quatrocentos e trinta e cinco passageiros e oitocentos e noventa e dois tripulantes. A Água não tem nem capacidade para absorver tantas vidas.
- Você leu a matéria toda? Inafundável. Isso é praticamente um insulto!
- Amberly, não podemos matar duas mil pessoas porque você se sentiu insultada!
- Mas você não está olhando pelo lado bom
Franzi a testa.
-Qual o lado bom disso?- Viu a rota?
Estendi o jornal no chão onde todas nós poderíamos ler.
- Não entendi
- Mas eu sim-disse Mika sorrindo- olha, ele passa perto do Canadá.
- E...
- E quando o navio passar por lá vai estar frio ainda.
– O que significa- completou Amberly- que o frio da Água congelaria os corpos e a Água pode os descongelar mais tarde para absorve-los!
A naturalidade com que ela falava aquilo me pertubava.
- Vocês tem certeza que querem fazer isso?
"Digam que não, digam que não, digam que não"
-Sim
-Sim
Caroline olhou para o jornal insegura.
- Se vocês vão fazer isso... então eu vou também.
Olhei para meus pés desapontada.
Amberly andou até mim e se ajoelhou o que deixou sua cabeça na altura do meu pescoço.
- Olha. Eu trouxe essa notícia pensando em você. - ela carinhosamente levantou meu queixo e me fez olhar nos seus olhos- Sei como os naufrágios te dão pesadelos. Pensei que fazendo um só no ano iria...
- Como assim um só no ano?-interrompi
- Nós... Eu -corrigiu- acredito que se nós conseguirmos congelar os naufragados não precisaremos cantar por um ano inteiro.
A abracei.
- Obrigada, mas você não precisa fazer isso. Daqui a pouco você vai embora, e se você quisesse podia simplesmente fazer um canto menor para ter... você sabe...menos coisas para apagar.
Eu estava falando da destransformação.
Pelo que ela tinha me contado, era um processo onde as sereias tinham as memórias dos naufrágios removidas e se preparavam para uma vida comum.Eu sabia que o processo era doloroso e quanto menos naufrágios tiverem para apagar, melhor.
- Vou ficar bem-ela abriu um sorriso, mas eu vi preocupação nos seus olhos.
Levantei do sofá e falei:
-Tudo bem. Mas vamos precisar de um plano.
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Por trás das ondas
FantasyElizabeth é forçada a se tornar uma sereia em 1900 para que seu irmão fosse poupado da morte. Cento e oito anos depois ela conhece um surfista, Adrien Lacosta. Ela descobre que o garoto é imune ao seus poderes de sereia e planeja ir fundo para desc...