Cap 18: Imortalidade

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- Obrigada- falei para o taxista assim que sai do carro.
     Estava chovendo muito, então eu não quis voltar a pé da escola. Não quis entrar em casa molhada.
     Quando abri a porta encontrei Mika lendo uma revista de gastronomia. Não sei porquê, afinal ela nunca cozinhava nada.
    - Onde está Khatarina?- perguntei.
Ela deu de ombros e colocou a revista do outro lado do sofá.
- Saiu. Não sei para onde nem com quem.
Me sentei ao seu lado.
- Mika, posso te perguntar uma coisa?
  Ela sorriu.
  - Claro.
  Respirei fundo. Eu tinha esperado muito tempo para perguntar isso.
   - Quando nós brigamos, você me disse que nós não éramos imortais. Nunca te dei a chance de explicar.
   Seu sorriso se fechou.
    - Você se lembra do dia em que você se tornou uma sereia?- assenti e ela continuou- Amberly te explicou sobre os cordões, certo?
- Sim. Os cordões que nos fazem assumir a forma humana são mágicos. Feitos de ouro imperial, correto?
Ela fez que sim.
- O ouro imperial ele é um material raro hoje em dia. Pode ser achado em pequena quantidade em alguns lugares do mundo. Mas antigamente era possível achar mais. Antigamente, o grupo de sereias também existia. Nós existimos desde sempre.
    " Nossas regras eram mais ou menos as mesmas naquela época" ela afirmou "nós não podíamos deixar sobreviventes. Essa regra sempre existiu."
    - Eu sei.- falei- Essa regra existe para impedir que humanos saibam da nossa existência e nos persigam.
    Ela assentiu.
    - Mas perto dos anos de mil e oitocentos, uma sereia se apaixonou por um humano. Eles se viam quase todo o dia. O que não era um problema é claro. As sereias podem namorar, não há nenhuma regra contra isso. Mas o humano, ele entrou em um barco, um barco que o grupo de sereias da sua namorada escolheu para afundar. A garota implorou para suas amigas escolherem outro barco assim que descobriu que seu namorado estava nele, mas as outras não a ouviram. Elas chegaram à conclusão que a paixão da outra podia ser perigosa no futuro.
    - O que aconteceu?- perguntei.
    - Bem, a garota não deixou seu namorado morrer. Ela salvou ele em segredo e explicou tudo. Inclusive sobre o colar mágico.
     Ela riu friamente antes de continuar.
     - Humanos nunca são muito bons em lidar com algo de diferente. O canalha arrancou o colar dela e jogou sua "amada"no mar. Depois ele entrou na casa das outras sereias, torturou elas para elas falarem onde tinha mais do ouro. Quando elas falaram, ele arrancou seus colares. Sem eles, elas voltaram as formas originais. Como elas não estavam dentro da Água, elas morreram asfixiadas. Como peixes fora d'água.
Senti o clima ficar mais pesado.
- Porque ele quis os cordões?- eu perguntei- Eles não serviriam para nada para ele.
Mika suspirou e fixou os olhos castanho-escuros em mim.
- Nós somos imortais, Elizabeth. Há apenas duas formas de matar uma sereia antes da destranformação. Uma delas é tirar o cordão enquanto elas ainda estão em terra. As sereias em suas formas originais só conseguem respirar se estiverem pelo menos com suas caudas submersas na Água. A outra forma...
Sua voz falhou.
- O ouro presente nos colares é mágico, correto?- ela perguntou e eu confirmei- Se forjado em outro formato, pode virar uma arma.
     Fiquei refletindo sobre aquilo.
     - O homem da história. Ele estava pegando os cordões para fazer uma arma. Uma arma capaz de matar sereias.
     Mika confirmou.
     - Um punhal Um pequeno punhal. Com mais do ouro, ele forjou cinco. Mas as sereias já lidaram com isso. Apenas espero que isso não se repita. Nunca mais. Por isso nós nos escondemos. Por isso não deixamos sobreviventes, entendeu? E é por isso que eu te pergunto, Liz, foi você que ajudou Adrien no dia da competição?
     - Essa história inteira foi apenas para me interrogar?- perguntei com a voz fria.
     Ela negou com a cabeça.
     - Estou apenas perguntando. Eu preciso saber- a urgência em sua voz me alarmou: ela estava realmente preocupada.
     - Não- menti e me impressionei com a naturalidade com que a mentira saiu- Eu já te disse que não.
     Ela olhou para o chão, em parte preocupada e em parte envergonhada.
    - Me desculpe. Eu sei que já perguntei mas eu tinha que ter certeza.
    Eu tentei não desviar o olhar dela.
    - Com licença, mas eu vou para o meu quarto.
Ela assentiu e pegou sua revista de novo. Eu andei até o meu quarto e fiquei lá, pensando com medo. Adrien, ele se lembrava de mim. E se ele descobrisse a verdade? E se ele tentasse me matar? E se eu tivesse posto minhas amigas em perigo?
Tudo isso pairava na minha cabeça, mas então eu me repreendi. Eu não podia ficar com medo por causa de "e se". O que foi feito já estava feito, agora eu teria que me preocupar com como eu poderia evitar dos "e se" acontecerem.
Fiquei pensando nisso até anoitecer e então, cai no sono.

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