Cap 17: Ignorados

1.8K 189 0
                                    

O professor entrou na sala já escrevendo nomes das duplas ou trios de trabalho no quarto.
Fiquei tensa. Meu nome foi o último, junto com o de...
Isso mesmo, junto com o de Adrien
"De novo, obrigado sorte!"
Desde a conversa do parque, ele estava me evitando, mas para mim isso não era um problema porque eu também estava evitando ele. Pelo jeito isso teria que parar, temporariamente pelo menos. Eu faria o trabalho, depois não falaria com ele até o final do ano. É, me parecia um bom plano.
     Fui até ele, meio desconfortável e me sentei na mesa do seu lado.
O professor sorteou os temas. Nós ficamos com um memorial: teríamos que fazer algo com o nome de algumas pessoas mortas no naufrágio.
      Suspirei e olhei para ele, perguntando silenciosamente se ele tinha alguma ideia.
      - Eu acho- ele falou olhando para o chão- que nós podíamos fazer uma colagem com fotos antigas.
     - Fotos? De que?
      Ele me olhou como se eu fosse estúpida ou algo do tipo.
      - Dos passageiros.
       Eu ri.
       - Não há fotos recuperadas do Titanic!
       - É claro que tem! É só saber procurar!
       - Eu não acho que seja uma boa ideia. Poderíamos fazer uma maquete do navio e nela, escrever nomes de alguns passageiros.
       - Não é má ideia. Diferente de outras pessoas, eu aceito outros pensamentos diferentes dos meus.
      Me virei para ele, incrédula.
    - Isso foi uma indireta?
Ele deu um sorriso falso.
- Talvez.
Ficamos em silêncio por um tempo.
- Sinto muito por não acreditar em seres que não existem- falei- talvez você precise simplesmente de um psicólogo.
Ele me olhou, seus olhos azuis tristes se fixaram nos meus.
- Eu só contei isso para você, para meu pai e para meu irmão. Meu pai fez questão que eu não contasse para ninguém achar que eu bati minha cabeça forte demais. Eu achei que vocês fosse acreditar mim. Você é uma das pessoas que eu mais confio.
Dizendo isso, ele se levantou e foi sentar do outro lado.
Não fui atrás dele, não dessa vez. Ele precisava de um tempo sozinho.
"Mal sabia ele que ele me devia a vida"
Fiquei um pouco mal por ter falado que ele precisava de um psicólogo. Ele não estava maluco, mas não ia ser eu quem confirmaria isso.
" Se eu confirmasse e a Mika descobrisse, ela iria me matar"
     O lado bom era que o nosso tema seria os nomes dos mortos. Meu nome não estaria na lista, claro, porque eu tinha roubado a passagem e não comprado a minha. Agradeci silenciosamente por isso.
    A dupla de dois garotos, Rodrigo e Marcos eu acho, faria sobre relíquias achadas. Eu teria que ficar de olho neles também. Se eles achassem alguma coisa que não deviam... Eu teria que mata-los.
    Sim, mata-los. Esse é o procedimento padrão quando alguém descobre sobre a nossa existência. Essa pessoa teria que ser morta.
    Não faria sentido matar Adrien. Ele bateu a cabeça antes de me ver, o que significa que as pessoas provavelmente vão achar que ele estava apenas alucinando, se descobrirem. E ele não tentou espalhar para o mundo, na entrevista, ele não mencionou que uma sereia salvou ele, Adrien apenas citou uma garota. Ninguém iria desconfiar. Ninguém podia desconfiar.
     Fiquei pensando nisso até o sinal tocar. Depois arrumei minhas coisas e sai.

Por trás das ondas Onde histórias criam vida. Descubra agora