Eu estava procurando algo para vestir a quase meia hora.
Meus cabelos dourados estavam preso em uma meia-trança que Kat tinha feito em mim quando eu pedi ajuda, eu tinha passado maquiagem, coisa que eu não fazia há muito tempo, e tinha um salto alto branco perto da minha porta.
Eu já estava prestes a gritar para Kat me ajudar a escolher alguma coisa, quando eu notei um vestido. Eu lembrava perfeitamente dele e não sei como eu não tinha pensado nele antes.
Eu o havia comprado em uma loja na beira da praia na França nos anos noventa no nosso primeiro dia lá. Estava muito quente e todas nós estávamos com roupas de frio já que vínhamos direto do sul da argentina. Nós alugamos um apartamento perto do pier, mas o dono estava demorando para aparecer para nos dar a chave, então Mika disse que poderia ficar lá esperando enquanto nós rodávamos um pouco. Mika não parecia estar incomodada com estar de blusa e calça comprida no meio do verão, mas eu estava suando muito. Kat viu umas loja de roupas e disse para comprarmos roupas que chamassem menos atenção. Só então eu percebi que não tinha uma pessoa que não passasse e encarasse a gente por causa das nossas roupas.
Lembrar desse dia me trouxe uma nostalgia bem grande. Eu tentei me apegar a esses dias, quando não discutíamos o tempo todo, quando um certo garoto não estava ali para não nos colocar em risco.
Um certo garoto com quem eu iria ter um encontro em trinta minutos.
Respirei fundo e peguei o vestido. Depois de todo aquele tempo, ele ainda ficava bom em mim. A saia levemente rodada ia até um pouco acima do meu joelho, o azul escuro destacava o meu cabelo. Me olhei no espelho e sorri. Eu estava pronta.
Um tempo depois, o interfone do nosso apartamento tocou e depois de atender, eu desci as escadas e encontrei com ele.
Tentei fazer uma cara séria, mas eu tinha certeza que era possível ver a ponta de um sorriso nos meus lábios.
- Você está- arqueei uma sobrancelha e olhei para a tela do meu celular- um minuto e três segundos atrasado. É assim mesmo que você quer começar nosso primeiro encontro, Adrien?
Ele deu um sorriso confiante.
- Na verdade, eu estou aqui a uns cinco minutos. O recepcionista que demorou para interfonar.
- Se você diz...
- Ei, eu estou falando sério!
- Relaxa, eu estou só brincando- eu falei, colocando a mão em sua bochecha- para onde nós vamos?- eu perguntei, não conseguindo disfarçar minha curiosidade.
O sorriso dele entortou para o lado.
- Você vai ver daqui a pouco.
- Mas eu posso saber agora?
- Ainda não.
Eu revirei os olhos e ele estendeu a mão, a qual eu peguei sem hesitar.
- Você está linda hoje.
Eu senti minhas bochechas ficarem vermelhas.
- Obrigada. Você também.
Ele sorriu e me guiou até seu carro.
- Eu peguei emprestado o carro com o meu irmão. Ele disse que não se importava.
- Porque o lugar para qual estamos indo é longe demais para ir a pé?- eu arrisquei.
- Boa tentativa, mas sim, você está certa. Pode tirar os sapatos, se você quiser. Vai ser um caminho longo.*****
- Quando você disse longo você realmente quis dizer longo- eu falei, olhando para ele.
Adrien estava dirigindo a duas horas e meia. Eu até me ofereceria para dirigir se eu soubesse para onde estávamos indo.
Não que o caminho estivesse sendo chato. Nós estávamos conversando, rindo, e uma hora Adrien quase bateu o carro por estar olhando para mim em vez de para o trânsito (não que eu precisasse me preocupar com isso, mas eu me preocupava por ele).
Ele não falou nada.
- Fala sério? Você não pode me dar nem um palpite?
Ele sacudiu a cabeça negativamente.
Eu dei um suspiro exagerado.
- Nós vamos chegar em vinte minutos, se isso te ajudar em alguma coisa.
- Honestamente? Não ajuda.
Ele riu.
- Bem que eu achei estranho você marcar um encontro onze da manhã, mas faz sentido se são quase três horas de viajem.
- Vai valer a pena, eu juro- Adrien disse.
- Eu sei que vai. Qualquer lugar que eu for com você vale a pena- eu disse, e meu coração deu um aperto quando eu vi o sorriso que ele deu.
Depois de mais um tempo, chegamos em um lugar com várias casas coloridas, que beiravam um pier, o qual dava para uma praia de água cristalina.
- Amelia- Adrien disse, saindo do carro- bem vinda a Key West.
- É lindo aqui- eu respondi, saindo também.
- Eu tenho o dia todo planejado- ele disse animado, entrelaçando nossos dedos- nós podemos rodar a cidade, ir ao aquário... espera, você não tem algo contra aquários, não é? Sendo uma sereia e tal...
Eu ri.
- Isso é só um estereótipo. Nada contra peixes, mas a gente não os protege com a nossa vida.
Eu quase completei com um "nosso dever é matar pessoas, não cuidar do ecossistema marinho", mas o clima entre nós estava tão bom e leve, e eu queria o manter assim.
- Que bom, porque os restaurantes de peixe aqui são muito bons! Eu posso te levar no meu favorito, se você quiser.
- Eu adoraria.
Nós seguimos a fileira de casas coloridas até chegar em uma azul bem comprida. O lugar tinha uma placa em madeira com um desenho de camarão estampado ao lado do nome do restaurante.
Ele foi todo animado até a mesa. Estava na cara que ele gostava muito da cidade, e eu sorri por ele me trazer aqui.
- Você precisa pedir o cone de camarão frito. Eu te prometo que você não vai se arrepender.
- Okay. E você, vai pedir o que?
- Honestamente, eu não sei. Faz muito tempo que eu não venho para cá, eu quero tentar provar algo que eu não lembro de ter provado ainda.
No final, ele pediu peixe com um molho que eu não conhecia. Ele estava certo, o restaurante era muito bom.
Depois demos uma rodada pela cidade, até chegarmos na praia.
- Essa cidade parece importante para você- eu comentei, meu olhar fixado no horizonte- você sabe bastante sobre ela.
- Minha mãe costumava trazer eu e minha irmã aqui quando nós éramos pequenos- ele falou.
A expressão de Adrien parecia mais nostálgica do que triste.
- Deve ter sido bem legal- eu murmurei, um pouco sem graça de ter mencionado a mãe dele.
- Era. Nós passávamos o dia inteiro correndo pela cidade e na areia. Quando eu tinha cinco anos minha mãe comprou uma prancha de bodyboard para mim. Foi ali que meu interesse em surf começou.
- Você tem toda uma história. A minha é basicamente eu ter olhado uma competição pela televisão e pensado "uau, isso tem cara de ser incrível, eu quero fazer isso".
- A quanto tempo você surfa, inclusive?
- Esse foi meu primeiro ano em competições, foi um sonho meu realizado. Mas eu comecei a surfar mesmo uns dez anos atrás.
- Você tem dois anos na minha frente então. E mesmo assim, eu sou melhor que você.
- Não é!
- Sou sim. Se eu não fosse, você me daria o título de Princesa das Águas?- eu disse séria, me aproximando dele.
Ele deu um sorrisinho.
- Acho que eu não tenho como rebater isso.
Eu ri.
- Eu sei.
Ele colocou as mãos nas minhas bochechas e aproximou o rosto do meu, me beijando.
Nós ficamos ali por um tempo, até que Adrien se afastou bruscamente.
- Ai meu deus, eu esqueci!
- De quê?
- Tinha mais um lugar que eu queria te mostrar! O sol vai se por daqui a pouco, mas se nós corrermos da para chegar lá antes.
Ele levantou e saiu correndo, olhando para trás por um momento.
Eu levantei e dei umas batidas na saia do meu vestido para tirar a areia e saí correndo atrás dele, com meu sapato na mão.
Como eu estava descalça, eu consegui alcançar ele em pouco tempo. Quando ele olhou para mim, ainda correndo, eu me esforcei para passar dele um pouco.
Nós transformamos o caminho em uma corrida. O seu cabelo loiro estava quase laranja agora por causa da baixa luz do sol. Eu tinha a desvantagem de não saber para onde estávamos indo, mas parecia que Adrien estava ficando sempre perto do pier, então eu segui em linha reta, olhando para trás de vez em quando para garantir que ele não tinha feito nenhuma virada brusca.
Uma hora ele avançou e segurou meu braço.
- Amelia- ele chamou, ofegante- nós chegamos.
A nossa frente havia um farol branco. A luz dele iluminava um pedaço da praia.
Nós subimos o que parecia ser degraus infinitos de escada até chegarmos ao topo.
Chegamos a tempo de ver o sol sumindo aos poucos atrás no oceano.
- Obrigada por me trazer aqui- eu falei, apoiando minha cabeça em seu ombro.
- Esse farol tem uma vista incrível, eu nunca iria te trazer para essa cidade sem te trazer aqui.
- Não foi isso que eu quis dizer. Eu estou falando de você me trazer para essa cidade. Ela é importante para você e eu agradeço você dividir ela comigo.
Nós ficamos ali, o sol como a nossa única maneira de medir o tempo lentamente sumindo no horizonte.
Aquele seria um dia que eu não esqueceria nunca, eu disse para mim mesma.•
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Oi gente!!
Escrevendo isso eu percebi que eu não sou muito boa tendo ideias de encontros hahaha.
Esse foi mais longo para compensar a demora... eu ia postar esse capítulo semana passada, mas eu estava super para baixo e não consegui terminar.
Eu espero que vocês tenham gostado do capítulo!
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Por trás das ondas
FantasyElizabeth é forçada a se tornar uma sereia em 1900 para que seu irmão fosse poupado da morte. Cento e oito anos depois ela conhece um surfista, Adrien Lacosta. Ela descobre que o garoto é imune ao seus poderes de sereia e planeja ir fundo para desc...