Capítulo 30: Conversas

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O quê? Eu não demorei três semanas para postar um capítulo?
Mas que milagre!
    =)

A van iria passar na nossa casa às oito da manhã na quarta, mas por algum motivo, eu acordei às seis. Por que as pessoas acordam mais cedo nos feriados? Eu nunca acordei para ir para a escola antes do alarme tocar.
Fui para a cozinha e fiz um café. Decidi tomar ele na varanda, e lá, acabei encontrando Mika, que estava com uma xícara de café na mão também. Seu cabelo preto e extremamente liso brilhava com a luz do sol, que ainda estava nascendo.
Ela olhou para mim.
- Elizabeth. Você está acordada.
- É. Nunca vou entender porque eu acordo cedo nos feriados. E você, por que está acordada?
Ela voltou seu olhar para a paisagem.
- Não consegui dormir. Mas está tudo bem. Eu vou ficar bem. Você sabe que nós não vamos morrer se não dormirmos.
Eu ri.
- Verdade.
Ficamos em silêncio.
- Não é lindo?- ela disse, contemplando o céu- como as cores se misturam?
Era realmente extraordinário. O sol refletia uma luz rosa meio alaranjada nas nuvens. O céu ainda tinha algumas estrelas aparecendo. Ele tinha tons vividos de azul, claro e escuro, um pouco de roxo na parte mais longe do sol e perto dele, o céu era laranja e amarelo.
- Você está certa. Vale a pena acordar para ver isso.
Ela sorriu.
- Eu sei.
Ficamos em silêncio enquanto o sol nascia. Afinal, depois de passarmos cento e oito anos juntas, nenhum silêncio é constrangedor.
- Animada para a viagem?- perguntei, tentando puxar assunto.
Seu sorriso se desmanchou.
- Eu não sei. Estou meio preocupada. Nós nunca fizemos uma viagem com humanos. Quero dizer, nós já encontramos humanos em viagens, já ficamos com humanos em viagens, mas viajar junto com eles e conviver com eles vinte e quatro horas durante cinco dias? Nós nunca fizemos isso! E se alguém suspeitar de alguma coisa e nós não percebemos a tempo?
Eu puxei uma cadeira para o lado da dela e me sentei.
- Ninguém vai suspeitar de nada. Vão ser apenas quatro dias, e nós quatro vamos nos divertir muito. Quer dizer, se uma de nós usar o nosso canto para jogar um humano de um penhasco talvez alguém perceba- acrescentei, brincando.
Ela deu um sorriso fraco.
- Você poderia fazer isso. Acabaria com a concorrência da competição.
Dei um empurrão de leve no ombro dela.
- De novo: estou viajando com um amigo meu. Não vou matar ele para para eliminar a concorrência! Sem contar que é uma competição amistosa.
- É verdade. Nós não podemos machucar ninguém até porque vamos precisar de uma carona de volta para casa.
Olhei-a um pouco nervosa. Ela começou a rir e eu entendi que ela estava apenas brincando.
- Eu prometo. Não vai ter nada com que você se preocupar.
Ela ficou séria novamente.
- Você não consegue prometer isso.
- Consigo sim. Não vamos fazer nada suspeito.
- É, você pode dizer isso sobre você. Mas e a Yasirah? Ela ainda é pequena e não se parece com nenhuma de nós. O que nós vamos dizer para eles? Que ela é nossa prima de terceiro grau?
- Vamos inventar alguma coisa.
- Não é tão simples- ela elevou seu tom de voz- Nós não podemos simplesmente viver nossa vida no improviso, Liz! E nós não temos como impedir ela de contar a verdade na frente de todo mundo!
- Ela não faria isso!
- E como você pode ter tanta certeza?- seu tom de voz continuava elevado.
- Por que ela é uma criança!- falei mais alto também- Nós damos comida, água e um lugar seguro para ela dormir e ela sabe que se ela nos denunciar ela vai ter que voltar para onde ela morava ou para outro lugar com condições precárias. Ou você esqueceu que ela é uma refugiada menor de idade e ilegal?! E que nem sabe falar inglês direito!
- Mas isso não impede ela de poder fazer o que ela quiser! Ela vai estar protegida com tanta gente em volta e câmeras gravando o evento.
- Eu confio nela! Ela não faria isso.
- Mas esse é seu problema, Elizabeth! Você confia em todo mundo!- ela gritou.
- Você não confia em ninguém desde que a Amberly foi embora!- eu gritei de volta.
- Desde que a Amberly foi embora, eu sou a líder por aqui. E se acontecer alguma coisa com uma de vocês três, vai ser minha culpa. Eu não sei se vou poder lidar com isso! Eu não sei se vou poder superar se vocês...
      Ela perdeu a voz. Seus olhos brilharam por um momento com lágrimas que não caíram. Eram raras as vezes que eu tinha visto Mika chorar. Normalmente ela se escondia atrás da porta do quarto dela quando aquilo acontecia.
Ela virou o rosto.
- Você está bem?- eu perguntei.
Ela ficou em silêncio por um momento.
- É só... eu fico preocupada com vocês.
     Eu sorri e a abracei.
     - E é isso que faz de você uma ótima líder.
    Ela me abraçou de volta. 
    - Agora, nós deveríamos ir nos arrumando. Devem ser umas seis e meia agora e a van passa aqui as oito.
   Nós duas nos levantamos e fomos para a sala.
    - Ah- perguntei antes que ela fosse para seu quarto- você vai levar um chapéu de cowboy, não é?
     Ela levantou uma das sobrancelhas.
     - Precisava?
     - Sim vai ter um evento lá. E você não pode exatamente entrar em uma loja e obrigar o vendedor a te dar um. Lembra? Vamos estar cercadas de humanos o tempo todo. Você ainda tem aquele que você usou na festa junina quando nós fomos para o Brasil, uns sete anos atrás?
    - Talvez. Mas eu não acho que..
     Eu sorri.
      - Então vá lá e procure. Nós temos que sair daqui a pouco.
     Ela foi para o quarto dela. Eu acho que ela finalmente estava pelo menos um pouco animada para a viagem, o que me deixava mais animada ainda.

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