Assim que entramos no café, Adrien começou a olhar para os lados, como se estivesse sendo espionado ou algo do tipo. Ele manteve os olhos em um garota com cabelo preto ondulado, chapéu estilo cowboy preto e óculos de sol com armação roxa, que estava lendo uma revista que cobria a sua boca. Quando percebeu que eu estava olhando, ele voltou a olhar para mim, com um pouco de vergonha.
- Quer dizer então- falei fingindo estar brava- que você chama meninas para tomar café enquanto fica analisando outras meninas?
Ele me olhou, um pouco mais vermelho.
- Não! É só que ela...
- Relaxa, não precisa se explicar- eu disse, ainda rindo.
Quando a garçonete chegou, Adrien pediu um suco e eu pedi um café.
- Você gosta de café?- ele perguntou fazendo uma careta.
- Sim. Você me chamou para tomar café, não um suco verde.
- Mas, sei lá. Normalmente só as pessoas com mais de vinte um anos tomam café.
Sorri.
- Vamos dizer que a minha idade mental é de cento e vinte quatro anos.
Depois disso ficamos fazendo perguntas uns para os outros, quantos anos tínhamos, quais eram nossas musicas favoritas (ele me zoou por eu só gostar de "musicas velhas") e outras perguntas do tipo. Uma hora, ele me contou que estava mudando de colégio e que estava nervoso, pois as aulas de lá começariam na semana que vem. Eu disse que era melhor que as aulas começassem mesmo e que eu já estava cansada de tantas férias (afinal eu não estudava a 108 anos, embora eu não tenha dito isso a ele).
- Em que escola você estuda?
Congelei. Eu não tinha a mínima ideia do que responder. Olhei para os lados, para saber se alguém estava nos observando. Assim que tiver certeza que não, segurei o meu colar, me concentrei e cantei baixinho:
- esqueça que você fez essa pergunta.
Adrien me olhou, confuso.
- Por que? Você tem vergonha do seu colégio? Acho que provavelmente é só paranoia sua, se você estuda tão bem quanto surfa, você consegue uma bolsa em qualquer lugar.
Comecei a suar frio. Poderia ter rebatido, perguntando "você acha que eu surfo melhor que você?" ou algo que tirasse a atenção daquela pergunta. Poderia ter parado para pensar por que ele estava me elogiando, mas não consegui. Na hora eu só tinha um pensamento.
Como ele podia resistir ao meu canto.
Quer dizer, não é como se eu tivesse falado, ou tentado convencer ele. Eu tinha cantado. O canto de uma sereia é irresistível para qualquer pessoa. Sem exceção. Ele deveria ficar confuso e esquecer aquela pergunta. Funcionou por cento e oito anos. Comecei a ficar ainda mais nervosa. "E se meu canto simplesmente parou de funcionar?"
- Você está bem? Parece que está passando mal. Deve ser por causa do ar condicionado.
- Preciso tomar um ar.
Sai tropeçando do café e respirei fundo. Assim que eu sai, um homem passou segurando uma garrafa com água.
- Me dê essa garrafa- cantei.
O homem imediatamente me deu sua garrafa e parou alguns metros depois, confuso.
Aquilo era com certeza muito estranho. Talvez eu só tinha que me esforçar mais. Mesmo assim eu estava cansada.
Voltei para dentro do café.
- Você está bem? Onde você conseguiu essa garrafa?- Adrien perguntou, se levantando da cadeira.
- Estou melhor. Um homem que estava passando me deu.-fui beber a água mas antes disso ele tirou a garrafa da minha mão.
- Não beba isso! Você não pode aceitar bebidas de estranhos. Pode ter veneno ai!
Eu estava fraca pelos dois cantos recentes, mas tinha que tentar de novo. Talvez se eu me concentrasse mais...
- Então por quê você não bebe?
Eu me sentia prestes a desabar pelo esforço. Eu não estava acostumada a cantar umas três vezes em um dia, principalmente me esforçando tanto. Me apoiei na mesa e observei a reação dele. O garoto olhou para a água, como se estivesse considerando a proposta, mas depois ele piscou algumas vezes como se estivesse saindo de um transe.
-Eu acabei de falar que eu não ia beber isso.
Algo estava errado. Era como se ele fosse imune. "Não." Pensei "Provavelmente eu só estou muito cansada para fazer isso direito"
Casualmente perguntei as horas. Não prestei atenção na resposta, eu disse que tinha que ir e sai do café. Ou melhor, tentei sair do café, já que uns três passos depois eu quase cai, mas Adrien me segurou.
-Deixa que eu chamo um táxi para nós dois.
A última coisa que eu queria era ficar presa em um táxi com ele, onde ele poderia fazer mais perguntas pessoais e descobrir aonde eu moro.
- Não -argumentei- eu vou a pé mesmo.
- Você não conseguiu nem andar uns três passos, acha que vai andar até em casa?
Suspirei.
- Tudo bem, mas eu vou sair em um shopping do lado da minha casa. Não quero que você saiba onde eu moro.
- Está bem então -ele ri, mas ainda está um pouco preocupado.
Me apoio nele para chegar até a calçada e ele acenou para um taxi que passava. Subi com a ajuda dele e me sentei.
Ficamos em silêncio, o que eu achei mais aliviador do que constrangedor, até que quando estávamos quase chegando ele me olha e fala:
-Você ainda não me falou onde você estuda.
"Droga"
Penso em uma escola perto da minha casa.
-Goodle. Goodle high.
Ele sorriu. Isso não pode ser bom sinal.
- Então nos vemos lá.
- Como assim?
Ele sorri misteriosamente e eu finalmente entendo.
"Ele também estuda lá."
O taxi para e eu percebo que é a minha parada.
- Até semana que vem Amelia Jones.
Sorrio tentando não transparecer o meu medo.
-Até semana que vem Adrien Lacosta.
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Por trás das ondas
FantasiElizabeth é forçada a se tornar uma sereia em 1900 para que seu irmão fosse poupado da morte. Cento e oito anos depois ela conhece um surfista, Adrien Lacosta. Ela descobre que o garoto é imune ao seus poderes de sereia e planeja ir fundo para desc...