Capítulo 47: Filmagens

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Oi galera!
Eu prometi que sairia um capítulo na quinta e está saindo, ainda que um pouco tarde. O capítulo está bem maior do que eu costumo postar, então espero que isso compense.

Queria lembrar vocês que esse é o penúltimo capítulo, e que eu planejo fazer um jogo de perguntas e respostas quando o livro acabar. Então por favor:
Se vocês quiserem fazer alguma pergunta para mim ou para algum dos personagens, deixem nos comentários!!

É isso, espero que vocês gostem!


Eu e Adrien passamos a semana inteira juntos. Nós íamos surfar na praia, ao shopping, e às vezes só ficávamos rodando pela cidade, em busca de algo para fazer. Eu estava determinada a fazer nossos últimos dias serem memoráveis, e aparentemente ele estava também. Ele até mencionou que tinha que arrumar um presente de despedida para mim.
- Você não precisa- foi o que eu respondi quando ele falou isso, segurando na sua mão.
- Eu não preciso, mas eu quero- ele disse, dando de ombros- alguma coisa para você se lembrar de mim.
- Bem, nesse caso, eu também preciso te arrumar um presente de despedida- eu disse com um sorriso.
- Você sabe que presentes não são uma moeda de pagamento não é? Você não precisa me dar um só porque eu estou te dando um.
- Eu não preciso- eu disse, dando de ombros e sem conseguir evitar um sorriso- mas eu quero.
Ele revirou os olhos, mas com um sorriso. Nós ficamos em silêncio por um tempo, até que ele parou.
- E se nós fizéssemos uma troca de presentes no sábado?- ele disse.
Eu levantei uma sobrancelha.
- A gente não ia fazer nossa última tentativa no sábado?
Nós tínhamos chegado em um acordo final. Eu não ficaria ali para sempre, nós não teríamos todo o tempo do mundo. Então nós combinamos que, como uma tentativa final de descobrir se realmente teve alguém envolvido na queda de Adrien na competição nacional ou não, nós reveríamos alguns vídeos que foram gravados. Se nós achássemos alguém fazendo algo suspeito, nós iríamos procurar a pessoa no dia seguinte. Se nós não achássemos nada, nós aproveitaríamos o pouco tempo que nós teríamos juntos.
- Acho que nós temos tempo para fazer os dois.
Como combinado, eu apareci lá no sábado, com uma caixa na mão. Demorou bastante para eu conseguir enlaça-la perfeitamente, mas valeu a pena.
No meio do sofá, tinham dois pratos com carbonatas, que, como eu descobri naquela semana, era só um nome chique para berinjela.
     - Então- eu disse, sem graça- você quer começar pelos presentes ou pelos vídeos?
- Acho que é melhor pelos presentes- ele respondeu, sentando com cuidado no sofá para não derrubar os pratos.
Eu entreguei a minha caixa com um sorriso de lado. Ele levantou as sobrancelhas.
- Quanto tempo levou para você embrulhar isso?
- Uma meia hora.- fiquei grata do meu trabalho ter sido apreciado- Kat ajudou.
- Vendo as tranças que ela faz na Yara eu não duvido disso.
- Deixa de enrolar e abre logo essa caixa!
Ele desfez o nó com facilidade e tirou de lá dois cordões com pingentes em formato de prancha.
- Você me deu... cordões combinando?- ele arqueou uma sobrancelha.
Eu franzi a testa.
- Você não gostou?
Ele ergueu as mãos.
- Não, não, não é isso. Eu estou acostumado a usar cordões, e eu gostei. É meio brega, mas de um jeito bom, do melhor jeito possível- ele respirou fundo e me entregou um dos cordões- o que eu quero dizer é que eu gostei e vai me lembrar de você. Eu só não estava esperando.
- E o que exatamente você estava esperando?
Ele coçou a nuca.
- Eu honestamente não sei.
Ele estendeu a sacola dele, como se estivesse tentando mudar de assunto e eu, rindo, peguei.
      Abrindo a tampa, eu encontrei uma garrafa de metal e um papel.
Eu peguei o papel, achando ser uma carta e eu me deparei com uma lista de legumes e frutas. Fiquei meio confusa, e acho que Adrien percebeu porque ele começou a rir.
- É uma receita de suco verde- ele disse, seu sorriso se tornando nostálgico- minha mãe costumava fazer para mim.
- Nunca conheci nenhuma criança que tomasse suco verde- eu murmurei, incerta do que falar.
- Bem, agora conhece. Era o único jeito de me fazer comer alguma coisa verde- ele sentiu que o clima estava ficando um pouco mais pesado e tentou forçar um sorriso, que ainda não parecia muito animado- Enfim, achei que fosse te fazer lembrar de mim.
- Seria difícil esquecer você- eu murmurei com um sorriso.
Ele sorriu de volta, depois pareceu lembrar de uma coisa.
- Isso não foi a única coisa que eu te trouxe- ele correu pelo corredor, indo para o seu quarto.
- Dois presentes? Isso é muito injusto! Eu estou em desvantagem agora.
Ele voltou com uma pasta de papel.
- Não sei se isso conta como um presente- ele parecia mais sério- até porque nem eu sei o que tem aqui. Pode ser bom, mas pode não ser.
Fiquei confusa
- Do que você está falando?- eu perguntei, começando a ficar preocupada.
- Você se lembra de quando você me contou a verdade não é?
- No dia do nosso primeiro beijo, que você chegou com um dossiê meu me interrogando?- eu dei uma risada fraca- Difícil de esquecer.
- Eu perguntei o nome do seu irmão, e você me respondeu. Também tinha dito que não lembrava muito dele e nem sabia o que tinha acontecido com ele depois.
- Certo- eu estava começando a suspeitar do que tinha na pasta.
- Eu pedi para aquele mesmo amigo que buscou as fotos do Titanic e as suas fotos tentar achar a vida dele.- ele viu que eu ergui as minhas sobrancelhas e fez um sinal com as mãos para me tranquilizar- Relaxa, eu não contei nada para ele. Disse que era um antepassado de um amigo meu, e pedi para que ele imprimisse tudo o que achasse e colocasse nesse envelope, sem me falar sobre. Você pode ler agora, se você quiser, mas eu entenderia completamente se você quisesse ler sozinha mais tarde.
Eu entrei em conflito naquele instante. Por um lado, aquilo era contra as regras. Eu nem lembrava mais de como ele era direito, só sentia a emoção forte que era meu amor por ele. Mas eu sabia, bem no fundo que valia a pena me arriscar para saber como está uma pessoa que eu amo, mesmo que eu não consiga lembrar muito bem do porquê eu amo ele tanto assim. E eu sempre quis saber como ele estava.
     Só eu e Adrien aqui.
    Eu iria embora daqui uma semana.
   Ninguém mais saberia, ninguém mais precisaria saber.
    Eu peguei o envelope e sorri.
     - Eu vou olhar isso depois. Por enquanto, nós íamos tentar ver mais vídeos gravados do dia da competição, não é mesmo?
     Ele pegou seu pote de carbonata e colocou no seu colo.
      - Sim. Eu separei uns oficiais e não oficiais- ele ligou a televisão e a conectou no celular, exibindo a tela- algumas são de jornais, outras são filmagens amadoras, em sua maioria para canais de Youtube ou postados em outras redes sociais.
      Adrien clicou no primeiro vídeo, de um jornal local. A primeira filmagem era feita por um drone, e mostrava todas as pessoas que estavam vendo o evento. Eram muito mais pessoas do que eu me lembrava inicialmente.
     Adrien pausou e eu levantei e apontei para a tela.
     - Se alguém fosse te atacar, é esperado que a pessoa tente parecer o mais imperceptível o possível. Isso significa que a probabilidade dessa pessoa estar usando roupas chamativas como um acessório muito diferente, ou alguma roupa vermelha é menor. 
    - A pessoa também teria atenção na localização- Adrien disse- provavelmente ela tentou ficar mais isolada para evitar a filmagem em massa.
    -  Ou a pessoa ficou junto do público para se misturar com todo mundo e não ficar se destacando.
    Ele fez um gesto vago.
     - O que significa que a gente não conseguiu reduzir para nada.
     Eu franzi a testa e me sentei.
      - Na verdade conseguimos sim. Mesmo que a pessoa estivesse tentando se esconder na multidão, ela ainda precisaria te enxergar...
      - ... o que significa que ela precisaria estar em uma das fileiras da frente! Meu deus, Amy, isso é genial! Como que nós não pensamos nisso antes?
      Eu sorri, mas antes que eu pudesse dar uma resposta, o som de uma porta abrindo bruscamente soou no ar, interrompendo o momento. A mão de Adrien voou no controle para desligar a televisão, rápido como se ele já tivesse precisado fazer isso milhões de vezes.
      O pai de Adrien apareceu no corredor, carrancudo como sempre, mas também parecendo cansado, vazio.
       - Pai!- Adrien exclamou, surpreso- eu achei que você tivesse ido trabalhar há horas. Você normalmente está no hospital esse horário... está tudo bem?
       - O que vocês estão fazendo?- ele disse, ignorando a pergunta de Adrien completamente.
       - Jogando um jogo onde seu objetivo é atacar e derrotar o inimigo- eu disse, antes que Adrien pudesse falar alguma coisa.
       - Vocês precisam de um tabuleiro para isso não?- ele perguntou- Ou cartas?
      - Você não precisa de nada disso quando se tem a imaginação- eu apontei para a minha própria cabeça.
      Aquilo não era uma história muito convincente e eu sabia, mas eu também sabia que, do jeito que o pai de Adrien é, nem que ele tivesse todos os fatos bem debaixo do nariz dele ele conseguiria chegar na verdade, então eu não me preocupei muito.
     - Vocês são velhos demais para isso, não?
     - Nunca se é velho demais para a imaginação, não é mesmo? É sempre bom deixar a nossa ativa.
     Ele ficou em silêncio por algum tempo.
     - Engraçado, eu tinha ouvido vocês falarem da Competição Nacional.- ele levantou uma sobrancelha- ela também faz parte do seu faz de conta?
      Ouvi Adrien engolir em seco. Eu estava prestes a responder, quando ele estendeu um dedo para mim.
      -  Você já falou demais. Adrien, explique-se.
      A sala ficou silenciosa por um tempo. Adrien se encolheu.
      - Nós estávamos pensando em ver um vídeo daquela competição depois- ele murmurou- relembrar alguns bons momentos.
       O pai levantou uma sobrancelha. Depois seu olhar deixou de ser intimidador e voltou ao olhar vazio que eu tinha visto nele no corredor.
      - Eu preciso ir- disse ele.
      - Pai- a voz de Adrien era cuidadosa- Você vai sair sem sua maleta e seu equipamento?
       O homem olhou para as próprias mãos vazias.
       - É, você tem razão- ele murmurou.
       Ele entrou em uma das portas e saiu minutos depois, com um jaleco no braço e uma maleta nas mãos. Então ele saiu pela porta da frente.
       - Isso foi...- eu senti dificuldade em achar um bom adjetivo- estranho.
       - sim...- Adrien concordou.
      - De qualquer maneira- eu comecei, pegando o controle da televisão- vamos começar?
     Nós passamos uma hora olhando vídeos de jornais, profissionalmente gravados, e pausando eles para analisar pessoa por pessoa. As vezes nós achávamos alguém que conhecíamos da escola e apontávamos para eles, rindo. Quando achávamos alguém com aparência suspeita, que olhasse para os lados demais, ou que parecesse nervoso ou preocupado demais, nós tirávamos foto da tela com o celular e circulávamos a pessoa.
      Não tínhamos chegado a nenhuma conclusão brilhante ainda, então fomos ver outros vídeos, gravados por pessoas comuns.
      Um dos vídeos mostrava um garoto, que estava com uma amiga do lado andando pela praia. Ela era uma das competidoras, e estava reclamando que toda aquela filmagem ia fazer com que ela se atrasasse.
      Várias pessoas passavam no fundo, na areia, enquanto os dois se moviam.
      - Espera aí- Adrien disse- você pode voltar um pouco?
      Eu franzi a testa, mas fez como ele pediu.
      - Ali, aquela colega de quarto sua!
      - A Kat está ali?- eu comecei a vasculhar a televisão em busca dela.
      - Não, a outra. Rose.
      Rose era o nome falso de Mika.
      - Ela passou aqui um dia desses, inclusive- ele disse- disse que estava na redondeza e veio me dar um oi. Nós ficamos conversando algum tempo, e fizemos um jogo de perguntas para nos conhecermos melhor.  Foi maneiro.
      - Você deu o seu endereço para ela?- perguntei, mas eu não estava muito focada nessa conversa. Tinha algo errado.
       Adrien franziu a testa.
       - Eu achei que você tivesse dado...
       - Mika não foi no torneio aquele dia- eu franzi a testa- nós estávamos brigadas- Ela estava preocupada com a nossa segurança, e eu acabei discutindo com ela, e logo depois, ela sumiu por um tempo, voltando só depois do torneio.
- Desculpa, quem é Mika?
Assim que eu percebi meu erro levei minhas duas mãos à boca.
- Rose. Eu quis dizer Rose.
- Amy, o que que está acontecendo?
- Ela não foi ao torneio, eu tenho certeza- eu tentei voltar ao assunto principal rapidamente para tentar encobrir o meu deslize.
- Mas é ela- ele disse.
- Como você sabe?- eu apontei para a figura levemente borrada- essa menina tem o cabelo ondulado. Sem contar os óculos de sol roxos e a revista que cobrem o rosto dela por inteiro.
O hambúrguer presente na capa da revista era o mesmo de uma das revistas que eu já tinha visto Mika ler. Mas isso não precisava significar alguma coisa. Existem diversas cópias de uma revista, aquilo poderia pertencer a qualquer um.
- Tem uma mancha cinza-escuro no chapéu dela, você está vendo?- ele levantou e circulou a mancha com as mãos.
     Eu lembrei da mancha do chapéu que ela usou no Texas, da sua hesitação em usá-lo e até mesmo tentativa de esconder o chapéu de mim.
     Era como se as peças de um quebra-cabeça estivessem finalmente se juntando, e eu não queria ver o resultado final.
     - Eu vou tentar perguntar para ela de novo se ela foi ou não depois. Ver o que ela responde.
     Eu não queria tirar conclusões precipitadas e condenar ela sem ela ter feito nada. Eu ainda não arriscaria falar nada para Adrien sem ter uma confirmação de culpa.
     Eu já estava procurando a minha caixa com a garrafa e a pasta com o dossiê para ir embora quando eu escuto uma voz. Mas não no ambiente, a voz estava dentro da minha cabeça.
     "Elizabeth"
      Eu congelei.
      "Está tudo bem?" a voz perguntou.
      Eu respirei fundo. Telepatia era um meio de comunicado perigoso quando se tenta esconder algo.
" Claro, Mika" eu respondi.

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