Capítulo 48: Documentos

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    "Onde você está?" A voz de Mika ecoou na minha cabeça.
"Estou na casa de Adrien" eu respondi.
" Certo... nós estamos pensando em fazer um piquenique perto da costa, nos encontre aqui. Você pode trazer ele também, se você quiser".
" Pode ser. Chegamos em uma meia hora".
- Amelia, está tudo bem?- Adrien perguntou.
- Sim, claro- talvez eu tenha soado um pouco desesperada. Eu respirei fundo e continuei- Rose está nos chamando para um piquenique na costa junto com as minhas outras colegas. Você quer ir?
Ele assentiu, mas depois me olhou, parecendo confuso.
- Como você sabe disso?
- Eu falei com elas.
- Você não pegou seu celular.
Eu congelei. Eu cometi um erro no meio do meu nervosismo, e aquilo poderia colocar em risco todo o meu grupo. Mas eu confiava em Adrien. Afinal, ele não tinha feito nada para me prejudicar até agora. Mas talvez isso não se estendesse para o meu grupo.
Aquele momento era uma aposta: se eu confiava mais em Adrien ou em Mika. Eu preferia não ter que escolher.
Eu estendi a mão para a pasta que continha toda a vida do meu irmão para tentar mudar de assunto.
- Eu posso dar uma olhada?
Ele ainda estava com a testa franzida, mas estendeu a pasta e ficou em silêncio.
Não era muita coisa. Tinha apenas algumas fotos de família, que encheram meus olhos de lágrimas na hora que eu as vi, e duas folhas maiores. Reportagens de um jornal da época.
A primeira página já tinha sido o suficiente para rachar meu coração ao meio.
Era uma reportagem, que contava como o único sobrevivente do naufrágio da minha família sobreviveu, e foi enviado para um hospital psiquiátrico dois dias depois de ser encontrado.
"O sobrevivente" afirmava o jornal "chamou a polícia quando voltou, afirmando que 'criaturas marinhas' tinham sido responsáveis por afogar a sua família e 'sequestrar' sua irmã, Elizabeth Saive. Ele foi internado na manhã desse sábado, e não se sabe quando ele sairá."
Meus dedos tremiam em torno do jornal. Não, eu tinha feito tudo aquilo por ele, eu tinha chegado até aqui por conta dele, ele não podia ter passado o resto da sua vida internado.
Talvez ele tenha saído pouco tempo depois?
      Passei aquela folha para trás para ler a próxima.
Sobrevivente de naufrágio é encontrado morto em hospital psiquiátrico
      Meus olhos se encheram de lágrimas. Deveria ser estranho, chorar a morte de alguém que eu nem lembro mais. Mas mesmo assim, eu sentia como se alguém estivesse tentando arrancar uma parte de mim e estivesse conseguindo.
     - Amelia, está tudo bem?- Adrien perguntou,
Eu assenti, as lágrimas correndo pela minha bochecha. Minha visão estava ficando borrada.
      - Você pode resumir a notícia para mim?- eu perguntei.
      - Claro.- ele pegou o papel da minha mão- Meu deus, eu sinto muito...
      - Só me diz o que aconteceu.
- Aqui diz que ele foi encontrado morto em uma das banheiras do lugar uma semana depois de ter sido internado. Acham que foi ele mesmo que fez isso.
- Não, ele não faria isso, eu tenho certeza.
- Amy, um hospital psiquiátrico é um lugar sombrio. E eu achei que você não lembrasse mais de quem seu irmão era.
- Eu não lembro! Mas alguma coisa parece errada.
Ele colocou a mão no meu ombro.
- Vai ser difícil você investigar um crime que aconteceu cento e poucos anos atrás. Pelo menos a Itália fica perto da Inglaterra, onde vocês moravam.
- Você tem razão- eu falei entre soluços- eu não vou conseguir achar nada.
Ele me abraçou e nós ficamos assim por um tempo.
Talvez Mika saiba de alguma coisa, mas acho que isso seja pouco provável, levando em conta que nós éramos estritamente proibidas de visitar qualquer aspecto da nossa antiga vida.
         Ou talvez, ela tenha contribuído para isso acontecer, uma parte de mim pensou. Mas eu preferi não pensar nisso.
          Mesmo assim, achei melhor contar a verdade para Adrien. Nós iríamos mudar de país em pouco tempo, então mesmo que ele decidisse nos dedurar (com a enorme chance de ninguém acreditar nele), seria muito difícil nos encontrar quando nós tivéssemos outros nomes e estivermos a um oceano de distância.
        - Eu não fui completamente honesta com você- admiti, ainda entre seus braços- quando eu disse que Mika e Kat eram apenas minhas colegas de quarto.
       Expliquei tudo para Adrien, mesmo que uma parte de mim estivesse implorando para eu parar. Eu estava fazendo aquilo porque eu confiava no Adrien, não porque eu não confiava em Mika
      Eu não sabia se aquilo era inteiramente verdade.
      Fiz questão de reforçar o ponto de que eu ainda estava com medo que algo de ruim pudesse acontecer com elas caso ele soubesse. Ele me lançou um olhar de decepção, como se eu não ter confiado aquilo a ele tivesse o machucado.
      - Eu te disse que você podia confiar em mim.
      - Eu sei. Eu confio em você. Eu te disse tudo sobre mim, mas seria muito peso colocar a vida das minhas amigas mais antigas, das garotas que eu considero minhas irmãs, nas suas mãos também. Tanto para você quando para mim. Isso não é algo fácil de se fazer.
      - E o que mudou agora?
       O meu olhar desviou inconscientemente para a televisão.
        - Você acha que ela pode ser a culpada?- ele perguntou, num tom de voz extremamente baixo.
        - Isso não faz sentido.- eu murmurei- Eu conheço a Mika há uma vida inteira. Ela não faria nada para me machucar. Eu tenho certeza.
       - Bem, ela com certeza não gosta de mim. Ela mesma falou isso para mim no avião, quando estávamos viajando. Ela foi bem direta.
        - Mas ela sabe que ao machucar você, ela estaria me machucando também.
         Ele baixou seu olhar.
         - Talvez ela não tenha percebido isso... ou talvez ela não se importe tanto quanto você gostaria.
         Eu estremeci. Ele estava errado. Tudo provavelmente era um grande mal entendido.
        - Vamos fazer o seguinte- ele disse, se levantando- vamos para esse tal de piquenique na costa. Vamos pôr todas as cartas na mesa e ver como elas reagem.
       Ele deve ter percebido minha hesitação quando eu levantei e segurou a minha mão, em um gesto para me tranquilizar.
       - Ei, calma- ele entrelaçou nossos dedos- talvez nós nem tenhamos com o que nos preocupar.
       Eu não consegui fazer muita coisa além de assentir e andar até a porta da frente.
       Quaisquer que  sejam as respostas que nós estávamos procurando, elas pareciam estar perto.
       Eu não sabia se aquilo era algo bom.






Oi galerinha, tudo bem com vocês?
Eu espero que sim.
Eu jurava que esse ia ser o último capítulo, mas ele iria ficar muito longo se fosse, e iria demorar bastante para eu terminar, então eu estou dividindo ele em dois.
Eu espero que vocês estejam gostando!

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