Capítulo 51: Respostas

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Olá gente! Eu voltei
Sim, eu demorei para postar esse capítulo, mas o lado bom é que eu não devo demorar para postar o próximo, porque eu já escrevi quase ele todo! Eu vou tentar postar ele até domingo da semana que vem.
O próximo capítulo vai ser realmente o último, inclusive.
Espero que vocês estejam gostando!

Ali estava Amberly, em carne e osso. Eu estava tão chocada que eu nem consegui pensar o que aquilo significava, muito menos andar ou me mover.
- Eu pensei que você tinha tudo sobre controle- foi o que ela disse em vez de nos cumprimentar e explicar como raios ela estava ali.
- Eu tinha- eu tenho- Mika respondeu, parecendo nervosa, talvez até com medo.
- Alguém pode me explicar quem é ela?- perguntou Kat, virando a cabeça para olhar para a recém-chegada. Aquilo foi distração o bastante para Mika conseguir desarmar ela, mas honestamente, Mika conseguiria fazer aquilo mesmo se Kat ainda estivesse focada nela.
Mika apontou a faca para Adrien novamente.
- Viu?
- Você ter todo o seu grupo com medo de você e te ameaçando não é 'ter tudo sobre controle'. O garoto humano era um problema tão fácil de se lidar! Humanos são tão frágeis! Mas você deixou as coisas escalarem.
- Eu não podia deixar Elizabeth saber que eu tinha matado ele!
- Porque você não queria que ela se rebelasse? Por favor, ela era inadequada desde que você escolheu ela. O garoto era só um detalhe. Você deveria ter matado ele no começo, mas você sempre acaba escolhendo o caminho mais complicado.- Amberly fez uma expressão de falsa pena- Eu achava que você era a mais competente do nosso grupo. Agora eu me pergunto se as outras fariam um trabalho melhor que você.
Mika se encolheu.
- Isso não vai acontecer de novo.
- Eu sei que esse está sendo um momento bem tenso- Kat interrompeu- mas quem é ela?
- Ela é a líder do nosso antigo grupo.- eu respondi, finalmente conseguindo fazer mais do que ficar parada em choque- Ela foi destransformada a mais de cem anos. Ela deveria estar morta agora.
De todas as coisas que ela poderia fazer, Amberly riu.
- Mika, por favor, limpe logo essa bagunça.
- Espera!- eu gritei, antes que Mika pudesse aproximar a faca. Eu apontei para o trecho depois da estrada onde tínhamos deixado o carro, onde a mata estava maior e dei um pequeno empurrão em Yasirah, pedindo silenciosamente para ela se esconder lá. Ela assentiu e saiu correndo, enquanto eu corria na direção oposta, para a beira do penhasco, onde as outras estavam. Enquanto as duas continuassem falando, eu poderia pensar em alguma coisa para salvar Adrien- Amberly, você pode explicar o que eu estou fazendo aqui?
Mika olhou para a ex-líder.
- Fazer isso só nos custaria tempo. Não vale a pena. Vamos só acabar logo com isso.
Amberly deu de ombros.
- Nós temos todo o tempo do mundo. E eu meio que quero ver como ela vai reagir- ela falou essa última parte com um sorriso, como uma adolescente querendo fazer uma pegadinha com um amigo.
Ela se virou para mim.
- Elizabeth, você já se sentiu muito bem depois de virar algum barco? Como se tudo fizesse sentido, como se tudo levasse a aquele momento?
- Não- eu respondi, instantaneamente.
- Você está mentindo.
Eu engoli em seco. Eu não estava mentindo, aquilo era horrível. O peso de tudo que eu fiz por mais de um século caía nas minhas costas, e eu nunca conseguiria me livrar dele.
- Assunto delicado, eu entendo- Amberly disse, com um sorriso- Eu costumava mentir para mim mesma também. Mas tudo bem, vamos mudar a pergunta. Você se lembra o que nós deveríamos fazer, nossa função como sereias?
- É claro- eu respondi, com medo do rumo daquela conversa tomaria- nós servimos a Água, e a alimentamos, para que ela possa continuar mantendo a vida de todos em terra.
      Amberly deu um sorriso de desculpas, como uma criança contando pra a mãe que quebrou algo.
       - Sobre isso...- ela respirou fundo, o gesto que deveria passar um sentimento de culpa não passava pelo seu sorriso e pelos seus olhos- não é bem assim que as coisas funcionam. As almas não alimentam a Água. Elas nos alimentam. Elas são o motivo de termos vida praticamente eterna.
      E ali foi quando eu tive certeza que nada podia piorar. Eu tinha virado sereia para salvar meu irmão e me prendido à ideia que aquilo era algo altruísta. Que se não fosse eu, alguém mais estaria fazendo aquilo. Que aquilo era necessário.
     Mas meu irmão tinha morrido, talvez me levado junto no processo. Eu não sabia mais quem eu era antes da minha transformação, e eu com certeza não sabia mais quem eu era naquele momento. O último século, minha vida inteira tinha sido baseada em uma mentira.
Amberly riu.
- Eu disse que a cara dela seria engraçada.
Diferente de Amberly, Mika não estava sorrindo. Ela olhava para mim com algo próximo de pena.
Amberly parecia ter percebido isso.
- Mika, conte para ela o resto! A parte sobre a destranformação.
Mika ajeitou sua postura, e começou a falar, mas seus olhos não encontravam os meus.
- Quando uma sereia sobrevive de almas humanas por tempo o bastante- ela disse, sua voz calma e baixa- chega uma hora que almas normais não são o suficiente. Elas precisam de mais. Se torna quase que um vício.
O que raios poderia ser "mais" que uma alma humana? Nós virávamos barcos com mais de cem pessoas. Nós já viramos um com mais de dez vezes esse número.
E então, minha ficha caiu.
        Amberly não estava falando de quantidade.
- Por quanto tempo você está fazendo isso, Amberly?- eu perguntei, mortificada- Esse é o seu nome? O seu nome de verdade?
- Por mais tempo do que você imagina. E meu nome verdadeiro não importa. Não há uma alma viva na Terra que reconheceria ele. Faz muito tempo.
       Eu me virei para Mika.
      - E você? A quanto tempo você está fazendo isso.
     Ela ficou em silêncio por um tempo, olhando para os seus pés. Depois ela respirou fundo e me respondeu:
     - Um pouco mais de um século desde que eu te conheci. O meu país estava sob uma ditadura, meus pais eram horríveis. Eu tentei fugir e acabei quase morrendo. Eu acabei morrendo, de certa forma. Amberly me achou, ela cuidou de mim e ela me mostrou uma maneira de viver para sempre, sem dor, sem sofrimento. Você recusaria?
      - Sim- eu respondi, sem hesitar- Sim se esse fosse o custo. As meninas do nosso grupo antigo, Sam e Caroline. Você pode dizer que elas não sentiram dor?
     Mika levou seu olhar para o chão novamente e o manteve lá.
      - Você pode dizer que Kat não irá sentir? Que eu ficarei bem?
     Ao mencionar o nome dela, Kat pareceu ligar os pontos.
     - Nós nunca fomos sua família- ela disse, sua voz mantida baixa- nós somos apenas a sua melhor forma de comida.
      Eu raramente via Mika mal. Eu raramente via Mika chorar. Seus olhos estavam vermelhos agora, mas ela olhou para Amberly, que estava a observando e engoliu em seco, como se chorar ali não fosse uma boa ideia.
      - Eu queria que tivesse outro jeito. Eu realmente queria, eu não menti sobre vocês serem minha família. Eu amei vocês, apesar de tudo, mas é assim que as coisas funcionam.
- Eu não sinto pena de vocês- Amberly disse, dando de ombros- Eu dei uma oportunidade de prolongar a vida de vocês. Uma que duraria o que, uns sessenta anos, talvez menos, se vocês não tivessem me encontrado. Eu dei uma oportunidade de vocês viverem para sempre, por um tempo. Mas o que eu posso dar, eu posso tirar, depois de um tempo. Pense como um investimento. Todo mundo ganha, no final.
     Ela tinha esse brilho nos olhos, um que deixava seu olhar animado, mas também parecia indicar loucura. Se eu estivesse sendo honesta, ela sempre tinha tido esse brilho. Eu só tinha preferido não notar.
      - E você, Mika? Você também vê assim?-eu perguntei.
Ela ainda não estava nos olhando nos olhos.
- Eu sinto muito mesmo.
- Você não deveria- Amberly disse para ela- na vida nós ou somos predadores ou somos presas. Não é nossa culpa estar do lado que sobrevive.
- É óbvio que a culpa é de vocês! Vocês estão sobrevivendo sim, mas a que custo? Além do custo, vocês estão sobrevivendo para que? Vocês não podem criar laços com ninguém, não fazem nada para ajudar ninguém. Vocês nem tentam deixar nenhum tipo de marca no mundo, usar a "imortalidade" de vocês para o bem, vocês tem que viver nas sombras, escondidas. Vocês podem estar sobrevivendo, mas vocês acham mesmo que estão vivendo??
- Eu não preciso ajudar ninguém- Amberly retrucou- eu vivo por mim mesma. Eu como o que eu quiser, falo o que eu quiser, faço o que eu quiser, e quando algo sai do controle, eu sempre posso usar meu canto para concertar.
      - Talvez nós podemos pensar em ajudar algumas pessoas no caminho- disse Mika- em sua honra, Elizabeth. Apesar das nossas diferenças, eu reconheço que você é uma pessoa.
- Eu não prometo nada. A vida é muito curta para manter promessa aos mortos. Você deveria entender isso mais que todos aqui, Elizabeth.
Aquela tinha sido a gota d'água.
Eu corri na direção dela o mais rápido que eu consegui. Eu não sabia qual era meu plano. Lutar contra ela? Eu não sabia lutar! Eu nunca tive que, e eu esperava que eu nunca precisasse.
Mas talvez tudo que eu precisava fazer era correr até a beira do precipício, arrastar Amberly junto e tirar o seu cordão, como no conto que Mika tinha me contado. Se algo acontecesse comigo, mas eu conseguisse levar Amberly junto, valeria a pena.
Ao ver o que eu estava tentando fazer, Mika correu na direção de Amberly, como se ela pudesse nos parar de alguma forma. Ela abaixou a faca e se virou, o que deu tempo o suficiente para Adrien conseguir imobiliza-la: um braço em volta do seu pescoço, o outro segurando a mão que segurava a lâmina, a mão de Adrien tremia com o esforço de manter a adaga longe dele enquanto a de Mika tremia, tentando impedir Adrien de enfiar a lâmina no lado direito de sua barriga.
Eu parei de correr, alguns centímetros antes de bater em Amberly.
- O colar!- eu gritei- Adrien, segure a corrente do colar!
Adrien pareceu meio confuso, mas rapidamente mudou a posição da sua mão no pescoço de Mika para estar segurando a corrente também. Assim, se ela tentasse machucar ele para sair daquela posição, ela estaria ferrada também. Assim, se ela tentasse algo, o cordão se soltaria, e ela se transformaria em sereia. O que não era uma ideia nada boa se você estivesse cem por cento fora d'água.
- Amberly- Mika falou, parecendo alarmada- me ajuda.
Amberly mantia o brilho no seu olhar, mesmo quando sua aliada estava assim.
- Bem- ela disse, dando de ombros- dois podem jogar esse jogo.
Foi muito rápido. Em um segundo ela estava ali, olhando para Adrien. No outro, ela já tinha se virado, corrido na minha direção, colocado um braço enroscado no meu pescoço, segurando o meu cordão assim como Adrien estava fazendo, o outro segurando meu braço direito em um ângulo extremamente desconfortável atrás das minhas costas.

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