Cap 23: Recruta

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As pessoas começaram a pular.
Tentei parecer o mais indiferente o possível, mas eu não conseguia.
Nós estávamos matando pessoas.
Fomos até o fundo, analisando as garotas.
" Talvez aquela" falou Katharina, apontando para uma garota com a pele morena, que deveria ter a nossa idade. Ela batalhava para tentar chegar a superfície, mas a Água estava agitada demais e parecia puxar ela para baixo.
Eu e Mika concordamos e nós nos aproximamos dela. Mika fez um movimento com a mão criando uma bolha de ar em volta da menina. Ela respirou fundo e tentou entender o que estava acontecendo. Assim que ela nos viu, se dirigiu a nós com calma.
- Foram vocês?- ela perguntou- Foram vocês que viraram o nosso barco?
- Nós somos... - começou Mika, mas a garota a cortou.
    - Eu fiz uma pergunta- ela repetiu, com um pouco mais de autoridade na voz.
   - Sim, fomos nós, mas...
   - Vocês mataram meus amigos! Todos eles! E vocês acham que eu vou ficar tranquila com isso?
   - Nós vamos te dar uma chance de sobreviver!- Kat disse sorrindo amigavelmente.
    - E o que eu tenho que fazer?
    - Você só tem que se juntar a nós.
    A menina se encolheu e começou a rir sarcasticamente. Ela era tão magra que era possível ver seus ossos de sua coluna vertebral através dos buracos em sua roupa. Mika tentou se aproximar, mas a jovem tentou agarra-la. Mika chegou para trás e diminuiu a bolha de ar.
  - E por que eu faria isso?- ela disse, ainda rindo. Vocês destruiram meu barco, destruiram minha chance de recomeçar. Mas vocês NÃO vão destruir minha dignidade.
    - Se você não vai se juntar a nós- disse Mika em um tom mórbido- vamos ter que te deixar morrer.
    Ela tentou cuspir em nós.
    - Você acha que eu tenho medo de morte? De onde eu vim, eu via morte todos os dias. Mas pelo menos eu morri fazendo o certo. Vocês são monstros.
    Ela tentou nos atacar novamente, mas com um gesto, Mika desfez a bolha de ar e a puxou para o fundo.
    Ela continuou tentando subir e repetia a palavra "monstros" enquanto afundava ainda mais.
" Precisamos achar outra" disse Mika, desviando o olhar da adolescente.
     Fiz o mesmo enquanto procurava alguém. Poucas pessoas estavam vivas agora, batalhando em vão para chegar na superfície. Até que uma garota me chamou a atenção.
" Ali" falei apontando para a garota.
     Mika criou uma bolha de ar. A garota deveria ter desmaiado por falta de oxigênio, porque continuou na mesma posição, deitada e de olhos fechados.
" Acho melhor nós entrarmos na bolha" eu disse" Como humanas. Para não assustarmos ela."
" Você tem certeza" Kat perguntou insegura" Ela parece meio..."
" Não vamos tirar conclusões precipitadas." Mika disse, lançando um olhar para mim. " Elizabeth a escolheu, então tentaremos falar com ela. Caso ela não der certo, podemos sempre virar outro barco e ter novas opções."
     Olhei grata para Mika. Nós três assumimos nossas formas humanas e entramos na bolha. A garota acordou assustada e deu um pulo.
     - Por favor não me machuquem.
     Sorri e me abaixei.
     - Nós não vamos machucar você.
     A garota não podia ter mais do que oito anos. Era extremamente baixa, provavelmente pela sua obvia desnutrição.
     - Por favor- a menininha pediu tentando controlar as lágrimas- eu faço o que vocês quiserem! Eu... eu...
     - Relaxe- disse Mika colocando a mão no ombro dela- nós não vamos machucar você.
     A garota se encolheu diante do gesto.
     - Grupo- disse Katharina- podemos conversar?
      Nós nos aproximamos, mas Kat fez sinal para que nós parássemos. Ela apontou para sua cabeça, indicando que ela falaria por telepatia.
     "Olhem, ela é adorável e coisa e tal, mas ela não tem idade para isso! Nós simplesmente não podemos colocar ela para ser uma sereia com essa idade"!
   " Por que? Você acha que ela não tem maturidade o suficiente?" Perguntou Mika " Ela deve ser uma refugiada de guerra, Kat. Ela já viu coisas que pessoas com o dobro da idade dela nunca viram."
" Não é isso! É que existem regras, não? Ela não pode simplesmente entrar no grupo com essa idade"
   Mika olhou para baixo.
   - É- ela disse em voz alta- acho que Kat está certa.
   Ela fez menção de desfazer a bolha, mas antes que isso pudesse acontecer, eu gritei:
- Não!
As duas voltaram-se para mim.
- Não o que?- perguntou a garotinha.
" Nós podemos deixar ela como humana"
Mika ficou séria.
" O que?"
" Apenas alguns anos. Só até ela ter idade o suficiente."
" Eu não acho que isso vá funcionar" disse Kat.
" Eu também não" admitiu Mika.
" Por favor! Nós salvaríamos ela. Vai dar certo, confiem em mim.
Mika suspirou.
" Tudo bem. Podemos tentar. Mas se isso der errado... não coloquem a culpa em mim."
Sorri.
- Oi- eu disse para a garota- Qual o seu nome?
- Yasirah- ela disse se levantando.
- Um nome muito bonito- Mika disse- Meu nome é Mika. O dela é Elizabeth. E o dela Khatarina.
- E você pode nos dizer a sua idade.
Yasirah fez um sinal de oito com as mãos.
Isso significaria que teríamos que esperar mais sete anos antes de fazer o ritual de transformação nelas.
- Agora- continuou Mika, puxando a garota delicadamente até nós- Nós podemos te ajudar a sair daqui, mas você vai ter que concordar com algumas coisas antes.
A garota concordou com a cabeça.
   - Nós não somos pessoas normais. Nós temos magia e podemos fazer coisas que humanos não fazem, como respirar em baixo d'água, podemos nadar muito rápido...
- Foi assim que vocês criaram a bolha- Yasirah murmurou- a que me deixa respirar em baixo da água também.
Kat sorriu, embora seu sorriso tenha sido claramente forçado.
- Isso mesmo! Mas apenas a Mika, que é a nossa líder, consegue controlar a Água.
- Então- Mika prosseguiu- nós podemos te ajudar a sair daqui e você viveria com a gente na Flórida. Só que, quando você fizer 15 anos, vai ter que se juntar a nós oficialmente. Vai ter que se transformar em seres como nós e ajudar a virar barcos. Você aceita?
- Sim- disse a menina- Obrigada por me ajudarem.
Kat bufou.
- Ela não está transformada. Como iremos voltar para a praia agora? Ela não pode ir por baixo d'água, e nós não podemos ir por cima.
Eu sorri.
- Eu levo ela nas minhas costas. Ela senta nas minhas costas e eu vou nadando raso o bastante para ela conseguir ficar fora da Água.
Yasirah sorriu, finalmente parecendo confiante.
- Vamos para casa então.
Casa. Essa garota não tinha ouvido essa palavra em muito tempo. Mesmo sabendo que o que faríamos com ela no futuro, transforma-la em sereia, seria horrível, fiquei feliz de poder dar essa chance para ela.
- Sim- eu disse- para casa.

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