Lucius
Meu lobo bufava em minha mente enquanto eu caminhava. Em parte, eu estava tenso, não fazíamos isso há um bom tempo, mas eu sabia melhor do que ninguém que ele estava, na realidade, muito irritado. Não era apenas para o público que éramos o quarto lobo mais dominante da região. Não, era para valer, e ter de acatar ordens dos outros não era uma tarefa fácil.
Principalmente quando quem estava ordenando era nossa mãe.
Dona Gwyneth era mais do que aparentava, isso seus filhos sabiam como ninguém. Ela era doce por fora – e por dentro também, lógico – mas quando estava determinada a algo... Creio que nem meu pai a segurava. Minha mãe não era dominante no sentido biológico da palavra, não como eu e meus irmãos, não como meu pai, nem como os outros Alfas. Ela tinha seus jeitinhos de conseguir o que queria, sem nenhum deles conter hierarquias ou demonstrações de poder.
Comigo e meus irmãos, ela conseguia as coisas simplesmente por exercer seu papel de matriarca, quem nos gerou, quem trocou nossas fraldas e tratou nossos machucados. Isso já dava a ela um status especial e inquestionável, como deveria dar a qualquer mãe em qualquer família. Entretanto, não era só a nós que ela dominava.
Ela fazia gato e sapato não só da alcateia, mas da cidade inteira. Todos a conheciam, como conheciam ao resto de minha família, mas mesmo os outros lobisomens não a obedeciam por ela ser a Fêmea Alfa da América do Norte. Não, minha mãe conseguia sempre o que queria porque era, quando em seu interesse, inacreditavelmente doce. Chegava a quase me dar náuseas, dependendo da situação. Mas eu não a culpava por isso, ela era doce por natureza com quem ela realmente amava. E, além disso, sendo uma fêmea submissa, tinha de conseguir uma estratégia para ser ouvida e respeitada em nosso mundo. Se um dia alguma coisa acontecesse com meu pai e seus três filhos, – e como os lobos não morriam de velho as chances de ela ser a última a morrer, mesmo após os filhos, podia muito bem acontecer – ela tinha de ter seu mecanismo de defesa, mesmo que esse mecanismo fosse conseguir o maior número de aliados e amigos possível, seja essa amizade verdadeira ou não. Ela era manipuladora, mas apenas por ter em vista sua própria sobrevivência caso algo acontecesse ao resto de nós.
De qualquer forma, Dona Gwyneth estava no meu pé agora que eu voltara para casa. Queria eu ter voltado? Honestamente, eu sabia que tanto fazia. Naquele momento, estar aqui ou estar em Columbus iria me trazer o mesmo nível de satisfação: nenhum. Não que eu não sentisse falta da minha família ou velhos amigos, sem dúvidas estava aproveitando para matar as saudades, mas não era o melhor momento para estar no Maine.
As coisas aqui estavam tensas, e dizer isso era um eufemismo. Todos os lobos da alcateia, e eram dezenas, estavam no limite. Estavam sedentos por alguma notícia e apreensivos com qualquer estrangeiro. O Letum não via muita melhora fazia dias, estava estacionado no seu tratamento. Estava um pouco mais lúcido, conseguindo raciocinar com mais sentido, mas ainda precisava de supervisão constante e auxílio psiquiátrico. Tinha pequenos surtos de vez em quando, e precisávamos de vários lobos e drogas fortíssimas para controlá-lo.
O povo estava ansioso por uma melhora, mas o único que poderia acelerar esse processo seria ele mesmo. Além disso, nossas "fronteiras" de alcateia estavam oficialmente fechadas. Não estávamos recebendo nenhum lobo de outro território e nem deixando ninguém sair. A notícia do estado do Letum era o mais confidencial segredo. Os únicos a saber, além da nossa alcateia, eram Aidan e seus lobos, e neles eu confiava.
No momento, também não era uma boa ideia solitários virem tirar férias aqui no extremo nordeste. Eles já não costumavam passar por aqui, só os mais desavisados, mas nesse momento, com um segredo desse em nossas mãos, os lobos solitários, que já não eram muito bem-vistos aqui, com certeza seriam visados para captura. O que fariam ao capturá-los? Bem, isso dependia muito dos lobos que pegassem o solitário...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Valente
Werewolf"Eu era um espectro, um espírito, e esse motivo sozinho já deveria me convencer de que eu estava no lugar errado. Eu não pertencia aqui, não sozinha. Eu queria lutar, precisava lutar, mas a cada dia que se passava eu percebia mais o quanto eu estava...