XVIII - [Revisado]

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Aidan


As palavras de Rebecca ficavam ecoando em minha cabeça enquanto eu dirigia, sua voz carregada tanto de dor quanto de ira pela minha reação.

"Honestamente, eu confio cegamente em você. Se eu estivesse em uma situação em que tinha que deixar minha vida nas mãos de alguém e pudesse escolher, deixaria nas suas em um piscar de olhos."

"Apesar do romantismo que existia entre eu e Mathias ter morrido, eu ainda possuo sentimentos muito fortes por ele."

Meus pelos ainda se arrepiavam em resposta as duas declarações, mas de formas muito diferentes. Pelo canto de meu olho, conseguia ver que ela já não olhava mais para mim, apenas fitava a paisagem pela janela da porta. Esticando seu braço lentamente, Rebecca deslizou seu dedo pelo botão de volume, abaixando os sons das guitarras até parecerem apenas um sussurro.

– Eu- Você sabe o quanto é difícil para mim. Me abrir desse jeito, quero dizer – começou, após termos ficado uns dez minutos em total silêncio. – Mas sinto que não devo ficar brava com você, principalmente não agora. Seria injusto, depois de tudo que você arriscou por mim e por Bexi.

Suas palavras me pegaram completamente de surpresa, fazendo-me ficar calado sem saber nem como começar a respondê-la. Não era problema, porém, pois parecia que ela ainda não tinha terminado.

– Não posso ficar irritada com você por tudo, mesmo que você me irrite e esteja errado nesse assunto. Não, Aidan, você não está certo o tempo todo, não é o dono da razão, por mais que você ache que é.

Não consegui prevenir um dos cantos de minha boca de subir um pouquinho com o comentário.

– Eu compreendo sim que um pouco disso tudo é por causa de quem você é. Do seu passado e de sua posição. Não tenho esse desgosto por solitários como você tem, mas compreendo os seus motivos. Você é um Alfa, entendo que vai contra sua natureza querer permitir que outros vagueiem por aí, comprometendo a ordem que os lobisomens tentam manter. Ou que, de alguma forma, possam colocar aqueles que você jurou proteger em risco. E, bem, você foi transformado por solitários, vivenciou coisas indizíveis por culpa deles.

Não consegui reagir às suas palavras naquele momento, tendo sido transportado de volta para aquele dia, naquela casa em chamas. Os gritos. O cheiro de carne queimando. A vida que fui forçado a abandonar por causa do que se desenrolou ali. A vida que eu poderia ter vivido. Apenas permaneci com o olhar colado na estrada, ciente de que não demoraria muito mais para chegarmos ao dojô.

– Entendo esses motivos e sei que não poderei fazer nada para mudá-los. Mas Mathias, apesar de nossas desavenças e apesar de ele, talvez, escolher más companhias, continua sendo meu amigo. E, se ele decidir que quer que eu saiba a respeito dele, onde está e como está, eu vou sim querer revê-lo.

Aquilo ardeu em mim como uma marca de fogo.

Ela, talvez percebendo como suas palavras me deixaram um tanto desnorteado, resolveu repetir:

– Como disse, entendo e respeito quem você é, o que pensa sobre eles. Mas não entendo o motivo de você não perceber que não precisa tratar Mathias como um inimigo.

Essa havia sido a última coisa que tinha a me dizer, e como eu não sabia inicialmente o que retrucar, o carro mergulhou em um silêncio ainda maior, apenas o barulho do motor e a apagada melodia das guitarras ao fundo eram escutados. Rebecca esperava algum tipo de reação minha. Alguma resposta. E repentinamente resolvi – tanto pela minha decisão de que iria correr atrás dela, quanto por simplesmente estar de saco cheio de ouvir o nome daquele cara saindo de seus lábios – revelar o que sentia para ela. Sem explicações, apenas a pura e simples palavra.

ValenteOnde histórias criam vida. Descubra agora