Becca
Não sei por que me surpreendi ao saber que Aidan havia avisado a todos os membros da alcateia para não darem as caras em casa no dia seguinte, que seria um sábado. Eu devia ter pensado que ele faria isso, de uma forma ou de outra. Não teria, realmente, outro motivo que explicasse ninguém ter aparecido na casa do Alfa durante um dia inteiro, fato que não passou despercebido por mim.
Apesar do constrangimento que estava sentindo, não podia deixar de ficar agradecida por ele ter feito isso. Afinal, se não fosse o pensamento à frente que ele teve de avisar o pessoal, não poderíamos ter passado o dia inteiro enrolados nas cobertas, e enrolados um no outro, como fizemos.
E hoje, manhã de domingo, quase hora do almoço, todos já tinham chegado para nossa tradicional reunião e faziam um semicírculo em nossa frente na escada, impedindo que fugíssemos sem maiores explicações. Não que eles precisassem de um relatório completo para perceber o que havia acontecido. O cheiro, é claro, estava no ar.
'Assim como o amor...' Bexi cantarolou, brincalhona e ao mesmo tempo suspirante. Eu certamente me lembraria de tirar sarro dela mais tarde.
Como se eu estivesse menos apaixonada do que ela.
– Podem passar a grana, rapazes. Eles não só fizeram as pazes como foi Becca quem foi atrás dele primeiro – Trevor demandou, tirando suas luvas de cozinha após ter posto o último prato de comida na mesa, sendo também o último a adentrar o semicírculo.
Isso desencadeou uma série de resmungos e comemorações dos dois lados da alcateia. Até mesmo Kenna estendeu a mão para receber algumas cédulas de seus novos irmãos de alcateia. Encarei-a com uma cara feia, mas sabia que minha expressão não estava nada assustadora. Não tinha como eu e minha loba ficarmos irritadas com eles, não depois das últimas vinte e quatro horas que tivemos.
– Eu ainda não acredito que vocês transformaram nossos assuntos pessoais em uma aposta! – falei com falsa indignação.
– Boneca, você faz parte de uma alcateia. Já estava na hora de você saber que não existe privacidade quando se trata de uma alcateia – Clayton zombou, usando meu antigo, mas aparentemente permanente, apelido.
– Vai me dizer, Becca – Trevor me encarava com olhos que sabiam coisas demais. – Fiz bem em sair daqui àquela hora, não é?
Minha vontade era de mandá-lo para aquele lugar, e tenho certeza de que só consegui me conter graças ao deleite atual de Bexi. Porém, não deixei de perceber o calor que me subiu pelo rosto e de ter a certeza de que estava corando terrivelmente.
– Para sua informação, fez bem sim. Mas não é da sua conta saber nenhum detalhe, Trevor – retruquei.
Aidan apertou levemente a mão que descansava em minha cintura em um sinal de apoio e reconforto.
– Obviamente não vamos detalhar nada, tenho certeza de que Trevor deve ter esclarecido o que presenciou aqui na sexta de madrugada quando vocês receberam o pedido para não virem até aqui ontem. Vocês sabem usar a cabeça. E, caso a cabeça não esteja sendo o suficiente, existe um motivo para o faro de vocês ser aguçado, então o usem. – A expressão de Aidan era severa, mas havia um traço de um sorriso que queria aparecer, fazendo o canto de sua boca mais próximo de mim estremecer. – Além disso, por mais contente que eu esteja, não quero ver Rebecca sendo o centro das atenções por esse motivo, nem quero que ela se aborreça. Portanto, chega de apostas envolvendo nós dois. – Apesar da seriedade, seu tom de voz estava contaminado por uma sombra de risada que queria sair.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Valente
Werewolf"Eu era um espectro, um espírito, e esse motivo sozinho já deveria me convencer de que eu estava no lugar errado. Eu não pertencia aqui, não sozinha. Eu queria lutar, precisava lutar, mas a cada dia que se passava eu percebia mais o quanto eu estava...