XXVII - [Revisado]

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Aidan

Desembarcamos. Havia sido um dos voos mais vazios que eu já havia tido. Ao contrário dos demais aeroportos, o aeroporto de Detroit não era tão movimentado quanto você esperaria, não depois da crise que quebrou a cidade. Passamos direto pelas esteiras de bagagens, visto que nós cinco estávamos levando apenas uma mochila com itens essenciais, fácil de lavar na mão.

Rebecca tinha estado muito quieta nos últimos dias, desde que havia decidido por tentar salvar seu falecido pai do purgatório eterno que é a terra. E, por consequência, havia decidido salvar sua mãe. Ninguém fazia ideia do que esperar dessa cidade nova, que à noite era tomada por sobrenaturais, então era compreensível que Rebecca estivesse com muita coisa na cabeça. Não sei se ela estava se arrependendo de sua decisão ou se estava apenas se questionando se sua mãe já não tinha passado do ponto em que há salvação. De qualquer maneira, ela continuava sendo ela mesma, apenas mais silenciosa, e todos davam a ela o espaço que ela precisava.

Quando conseguimos um motorista de uma minivan para nos levar até o hotel que eu havia reservado, Lucius revirou seus olhos para mim. Eu sabia o que ele estava pensando. Não só ele, todos. Provavelmente não ficaríamos muito em quarto algum, mas, assim como em Las Vegas, ter um abrigo em uma cidade nova era necessário.

À medida que íamos até o hotel, cada um de nós apreciava a "paisagem". Detroit já havia sido a quarta maior cidade dos Estados Unidos. Hoje, não passava de uma cidade fantasma. A população da cidade tinha se reduzido a ponto de chegar no mesmo patamar que era em 1910. Um século atrás.

Eu não diria que Detroit não tinha salvação – obviamente estava muito melhor do que como estava logo após a crise do subprime – mas ainda era, parcialmente, deserta. Podia-se ver lojas fechadas e poucas pessoas nas ruas. Não havia trânsito algum. Casas vandalizadas, escolas vazias, fábricas abandonadas. Já fazia seis anos, mas os sinais da evasão em massa da cidade devido ao desemprego altíssimo eram evidentes. Eram uma cicatriz profunda na história da cidade. Detroit tinha potencial para novamente se tornar uma cidade importante, mas sem dúvidas levaria muito esforço para ela ser do tamanho que era antes.

– Não tem nenhum carro na rua – Scarlet comentou, parecendo chocada. Não havia nenhum veículo sequer estacionado.

– Acredito que seja por dois motivos – respondeu Riley para ela. – As pessoas que estão aqui não têm condições de mantê-los, ou ninguém os deixa em lugares públicos pois certamente serão roubados ou vandalizados.

– Mas e o policiamento? – a Selvagem perguntou novamente, parecendo não compreender o estado em que uma das cidades mais prósperas do mundo podia chegar com uma grave crise econômica.

Dessa vez, quem se sentiu na obrigação de esclarecer foi o próprio motorista.

– Moça, nossos policiais não são suficientes para patrulhar tudo. Muitos foram embora, pois não recebem salário integralmente. E os criminosos, é claro, prosperam nessas condições. Tem certas áreas em que nem os policiais adentram mais. – Ele suspirou, e pela tristeza em sua voz, imaginei que ele fosse um dos cidadãos que havia nascido e crescido na cidade, e relutava em sair dela, apesar de tudo o que acontecia. – Se aventurem por Detroit por sua própria conta e risco, pois não haverá segurança alguma que a cidade possa oferecer a vocês.

Rebecca estremeceu ao meu lado. Eu sabia que não era medo de violência humana – a menos que algum ladrão com balas de prata tentasse nos abordar, não teríamos problemas. Mas eu a conhecia, e sabia que ela sentia pena das pessoas que continuavam aqui, por vontade de reerguer a cidade, ou por falta de oportunidade de sair.

Chegamos ao hotel e aproveitamos uma das poucas oportunidades que teríamos nos próximos dias, muito provavelmente, de tomarmos cada um seu devido banho e descansarmos. Após algumas horas, cada um deixou seus pertences em seus devidos quartos e trouxemos para a noite apenas o essencial.

ValenteOnde histórias criam vida. Descubra agora