XIV - [Revisado]

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Aidan


Para minha surpresa, eu estava mais preocupado do que furioso. Claro, eu havia quebrado um aparelho celular em desespero quando soube sobre Rebecca estar sendo refém dos invasores, mas meu lobo estava conseguindo manter-me calmo, de alguma forma. Certamente com o propósito de me manter lúcido o suficiente para tomar a liderança e agir de forma eficaz, sem perder tempo e certificar a segurança de Rebecca o mais rapidamente possível.

Scarlet e eu havíamos saído de nosso transe e nossa visita ao mundo espiritual. Apesar de muito inesperada e perigosa, havia sido uma experiência única e, eu sabia, provavelmente não se repetiria para mim. Após experimentar o que aquele espírito dos mortos havia feito comigo... eu tinha total certeza de que havia sido minha primeira e única visita àquele plano, independente dos demais motivos que me fariam querer voltar.

Quando saímos, um sentado em frente ao outro na sala lotada de Fernando, trocamos um olhar que transmitia mais de mil palavras. Ela não contaria nada que havia visto. Nem sobre as ilusões de Yenila, nem sobre a possessão. Eram assuntos meus. Além disso, havíamos criado um vínculo, depois de passar por tamanha experiência e perigos juntos. Eu me sentia mais próximo da raposa, e entendia ainda mais como ela era poderosa de sua própria maneira.

Os Selvagens e meus lobos, que tinham todos vindo para o apartamento de Fernando para verificar que eu ficasse em segurança, festejaram quando nos viram acordados, mas não tivemos muito tempo para poder celebrar.

Devido à força espiritual que os Selvagens estavam ajudando a manter no apartamento – com o intuito de facilitar a minha permanência no mundo espiritual, visto que lobisomens não deveriam perambular por lá ainda vivos – Fernando explicou que isso normalmente entrava em conflito e dava interferência em aparelhos eletrônicos dos mais diversos tipos. Quando saímos do transe e Trevor foi checar seu celular, percebeu que havíamos recebido inúmeros telefonemas. Nosso consenso era de que eles queriam comunicar que Rebecca havia acordado do coma, uma suspeita minha desde que percebi que Scarlet havia conseguido salvá-la do mundo espiritual. Entretanto, Trevor logo em seguida retornou a ligação de Connor e meu mundo desabou. Todos meus lobos ouviram a conversa pelo telefone e Scarlet, entendendo-a pelas minhas respostas, juntou as peças do quebra-cabeças.

Scarlet teimou comigo, de início. Queria ir junto, queria ajudar sua amiga desesperadamente. Queria arrancar o couro de Maxwell, nosso maior suspeito, assim como o de Mathias, por não saber o que seus próprios amigos estavam ajudando a tramar. Entretanto, puxei-a para o lado e consegui convencê-la de que ela já havia feito tudo o que podia pela Rebecca até agora, e não havia sido pouco. Havia sido graças a ela que Bexi estava reunida com Rebecca e, apesar de ter ficado presa com Yenila, havia completado sua missão, havia honrado e salvado Rebecca.

Após uma longa discussão, consegui fazê-la compreender que ela precisava ficar na Cidade do México. Precisava passar mais tempo ainda sob a tutela do Sr. Gutierrez e os outros Selvagens. Eu sabia que ela não queria ficar ou morar aqui, mas precisava passar um tempo com sua "alcateia" temporária. Ainda tinha muito o que aprender, coisas que, por direito, ela já deveria saber, mas não havia tido a oportunidade. E eu sabia que, se ela voltasse para Columbus, iria demorar a voltar à essa cidade e eu não queria privá-la ainda mais de sua cultura.

Sem perder mais tempo, juntamos nossos pertences em menos de meia hora e, como meus lobos em Columbus já tinham contatado Robert, seu jato estava preparado e à nossa espera. Fiz uma ligação extremamente importante para Ann Arbor no Michigan, pois eu sabia que precisava entrar em contato com alguém que nos ajudasse a manter as aparências durante a batalha. Seria arriscado envolver uma bruxa, e não seria barato, mas decidi que era o melhor a se fazer. Após eu convencê-la e acertar uma passagem para ela no voo mais próximo, percebi que eu estava extremamente cansado, como se meu corpo não tivesse mais energias. Eu sabia que tinha a ver com tudo que passei no mundo espiritual, mas também sabia que eu não conseguiria descansar. Não até que tudo isso estivesse resolvido. Embarcamos todos com o coração na mão, temerosos, mas furiosos.

ValenteOnde histórias criam vida. Descubra agora