XVII - [Revisado]

1.1K 118 19
                                    

Aidan


Um sonho me fez despertar. Havia começado como um pesadelo, uma lembrança vívida de uma Rebecca impostora, com sentimentos falsos e o único intuito de sugar minha essência e capturar minha alma. Não era a primeira vez que eu tinha esse sonho, variando sutilmente a cada vez. Parecia que sempre que eu fechava os olhos o que eu vivi no Mundo Espiritual voltava para me assombrar.

Contudo, dessa vez o sonho teve um desfecho diferenciado. Uma loba prateada emergia do canto de minha visão, e libertava-me das amarras com as quais a Rebecca impostora tentava me manipular. A loba lutava bravamente a meu favor, e foi no momento em que meus olhos encontraram os dela – cor de gelo, mas com um calor de mil chamas por trás – que meu corpo decidiu despertar.

Eu não queria abrir meus olhos, independentemente de como aquele enredo havia começado. Eu já tinha perdido aquela ótima sensação de sonhar, mas queria tentar voltar para ela, de alguma forma impossível. Em meio a minha adaptação ao mundo real, lembrei-me dos acontecimentos dos últimos dias, de tudo que meus lobos haviam aturado. Do que Rebecca havia passado.

Já haviam se passado alguns dias desde que havíamos resgato Rebecca e Kenna, alguns dias desde que eu havia ligado para o Letum, que a bruxa Adelaide havia partido e que eu havia tido a ideia de levar Rebecca para treinar. As marcas no corpo dela saravam rápido, acelerado pelo repouso no qual eu e os submissos insistiam, sobrando poucos sinais para uma pessoa menos atenta do que Maxwell fizera com ela. Entretanto, eu sabia que seu espírito ainda precisava de cura.

'Temos muito o que fazer, por ela' – Meu lobo relembrou, já parecendo estar mais recuperado do sonho do que eu. Ele estava visivelmente ansioso para ajudá-la, e o quanto antes.

Decidi seguir o exemplo do meu lado lupino e levantei-me. Olhei pela janela e vi que o sol já estava alto no céu. Eu havia passado do horário de acordar, passado em algumas horas, inclusive. Isso havia se tornado um hábito nos últimos dias, talvez pelo cansaço acumulado dos eventos passados. Mas a casa estava silenciosa, apesar dos baixos sons e conversas que eu conseguia captar. Havia pessoas acordadas já, o que não era de se espantar, mas o silêncio sinalizava que aqueles lobos que passaram a noite aqui, assim como eu, ainda estavam relativamente cansados. O outro motivo, é claro, era que não queriam perturbar os que ainda dormiam. No caso eu, e provavelmente Rebecca. Arrumei-me e já sabia onde minhas pernas me levariam primeiro.

Abri a porta do quarto em que Rebecca estava, tomando cuidado para a porta fazer o menor barulho possível. Eu conseguia ver o emaranhado que eram seus cabelos castanhos, em contraste com as cobertas. Estavam selvagens, nem um pouco como alguém que teria tido um sono pacífico. Sem dúvidas ela deve ter se revirado durante o sono, ainda inquieta e talvez com lembranças do que havia lhe acontecido. Apesar disso, era possível perceber a respiração suave dela até mesmo do outro lado do quarto, onde eu estava, e tomei isso como prova de que, apesar dos sonhos e das lembranças, ela estava segura. Se sentia segura, e isso me deixou aliviado. Devido ao sol que conseguia entrar no quarto, mesmo através das cortinas, seu cenho estava franzido, seu rosto estando virado em direção à janela.

Ela estava se remexendo, deixando evidente que logo acordaria. Portanto, decidi descer e cumprimentar aqueles que haviam passado a noite. Verificar se tinham dormido bem e, claro, apaziguar minha curiosidade sobre o que teriam improvisado para o café da manhã.

Depois do que pareceu ter sido quase uma hora, subi novamente até o segundo andar da casa. Dessa vez, porém, por mais silencioso que tentei ser, quando abri a porta pude ver os olhos apertados de Rebecca começando a tremer, até que se abriram lentamente. Encarou a parede, primeiramente, e aos poucos foi fazendo seu caminho pelo resto do quarto até virar seu corpo e me ver.

ValenteOnde histórias criam vida. Descubra agora