XI - [Revisado]

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Becca

Estava na hora e eu sabia disso. Sabia perfeitamente bem, e ainda por cima queria fazer isso. Queria tirar isso a limpo logo, não gostava de ficar com situações ambíguas nas mãos. Entretanto, eu ainda relutava em virar a esquina, chegar até a casa de Aidan e enfrentar Mathias, mesmo tendo acabado de ser atacada pelo meu maldito antigo irmão de alcateia e estar toda maltrapilha na rua.

Ao menos Clayton estaria na casa, tanto para eu poder desabafar sobre o que havia acabado de me acontecer – e que, na verdade, ainda não havia me caído a ficha ainda –tanto para me fazer sentir mais segura do que eu queria. Mas mesmo com Clayton lá, eu sabia que minha conversa com Mathias seria longe dele, longe dos ouvidos dele. Seria muita sacanagem de minha parte não dar a Mathias a privacidade que ele merecia. Eu tinha gostado de nossos momentos juntos, e ele era um cara legal. Eu tinha de ser justa com ele, tanto em relação a sua privacidade, quanto a não o iludir mais.

'Vamos logo, Rebecca. Você está com medo disso? Depois do que nós acabamos de enfrentar?' – Bexi tentava me incentivar, mas estava mesmo é me dando uma bronca. – 'Estamos sendo fortes, segurando as pontas, justamente para conseguirmos ser completamente sinceras com Mathias. Depois disso, podemos refletir sobre o que acabamos de passar. Sozinhas.'

– Sim, Bexi, você tem razão – admiti. – Precisamos fazer isso para podermos lidar com o resto.

Respirei fundo e, como um soldado no campo de batalha, avancei. Não bati na porta, pois aquela casa agora era minha também e eu possuía uma cópia da chave. Eu era da alcateia, eu me aceitava como sendo da alcateia. Na verdade, já não conseguia me imaginar em qualquer outro lugar. Busquei um pouco mais de força nesse pensamento para me ajudar, no pensamento de que eu jamais estaria sozinha novamente, sendo isso bom ou ruim. Eu sempre teria meus irmãos, prontos para pularem ao meu lado na luta, e eu ao lado deles.

Clayton, para minha surpresa, não estava na sala nem na cozinha. Já era quase meio dia, portanto eu duvidada que ele estivesse tirando uma soneca. Mathias também não estava em nenhum lugar do primeiro andar da casa, então decidi subir as escadas.

Enquanto subia os degraus, percebi que achava estranho Mathias não ter vindo correndo ao meu encontro ao me farejar. Minha loba até se sentiu um pouco ofendida, mas tentei lembrá-la de que isso poderia facilitar nossa separação. Estava tudo muito quieto na casa de Aidan, e a casa inteira cheirava a âmbar e hortelã, o cheiro específico de Mathias, como se ele tivesse andado para lá e para cá, pela casa toda, por toda a extensão da manhã. Captei também o cheiro de uma terceira pessoa, desconhecida, mas presumi que fosse apenas mais algum solitário do Mathias.

Fui espiando por todos os quartos de hóspedes, mas sem encontrá-lo em nenhum deles. Já estava tentada a ir para o quintal e ao Prédio de Questionamento quando me veio à cabeça de que ele poderia estar no quarto do Aidan.

'Ele não estaria lá, estaria?' – perguntou, duvidosa, minha loba. Pois eu discordava, achava que era uma possibilidade, só não sabia o que ele estaria fazendo lá.

– Mathias? – chamei-o em voz baixa, segundos antes de espiar pela porta do quarto.

Lá estava ele, o homem de cabelos longos pelo qual eu havia sido enfeitiçada, mas também pelo qual o feitiço havia se quebrado. Segurava um porta-retratos em mãos, sentado na cama de Aidan.

– O que está fazendo aqui? – perguntei, mas não quis parecer acusatória, pois já ia quebrar seu coração dali alguns minutos.

Ele se virou, e vi que sua expressão já estava carregada de tristeza. Entretanto, ela logo mudou, pois ele certamente deu uma boa olhada em mim, minhas roupas, e o cheiro de Maxwell que sem dúvidas me impregnava.

ValenteOnde histórias criam vida. Descubra agora