XII - [Revisado]

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Trevor

Todos já estávamos no apartamento abarrotado do Selvagem que eu nem lembrava mais o nome. Estávamos praticamente acampados aqui, pois já se fazia mais um dia que esperávamos algum sinal de vida de Scarlet ou Aidan. Assim que Riley havia me avisado, convoquei todos para vir, pois, apesar de estarmos em território de aliados, no caso os Selvagens, eu jamais confiaria a segurança de meu Alfa, desacordado, na mão de apenas um lobo para protegê-lo. Não me importava quem estivesse na sala com ele, eu jamais deixaria meu Alfa vulnerável.

Era estranho ver Aidan daquele jeito, sentado com as pernas cruzadas no meio da sala, em frente a Scarlet, igualmente em transe. As fumaças das ervas que continuavam a queimar deixavam um ar místico na sala e, honestamente, estavam fazendo alguns de nós tossir. Éramos muito sensíveis àqueles cheiros todos misturados. Mas, segundo o velhote que era o ancião dos Selvagens, era importante deixar as ervas queimando pois, sem elas, manter alguém de fora no mundo espiritual, no caso um lobisomem, seria muito mais difícil.

Aidan estava sereno, seu rosto relaxado de um jeito que eu nunca havia visto antes. Ele sendo nosso líder, era difícil ver seu rosto descontraído ou, no mínimo, menos tenso do que o normal. Isso era ainda agravado por eu ser seu Beta, seu segundo em comando. Eu acreditava que Aidan se esforçava ainda mais para manter sua compostura perto de mim e Connor, para certificar-nos de que ele era, de fato, mais dominante e que era capaz de proteger a todos.

Mas era pacífico vê-lo sentado daquela maneira. Eu sabia que ele não estava, de fato, sereno. Deveria estar correndo aflito pelo mundo espiritual atrás de Scarlet. Deveria estar tremendamente estressado, mas ao menos sua face parecia estar em paz. Ele merecia um descanso de vez em quando, mas as únicas vezes que o vi com uma expressão de tranquilidade tão sincera no rosto era quando ele recordava memórias de sua vida humana. Ah, e recentemente quando interagia com Bexi.

Falando em Bexi, George havia, a pouco, se recuperado de um ataque de pânico. Fazia pouco menos de um dia já, mas Bexi havia, simplesmente, desaparecido em pleno ar no meio de uma de suas sessões. Não é nem preciso dizer que George havia pensado no pior, achando que ela havia morrido, mas nós conseguimos o acalmar, ao menos, até chegar aqui.

Normalmente, no mesmo instante em que um membro da alcateia morre, todos os outros membros sentem sua morte quase que como um ferimento em si próprio. É como uma corrente elétrica que atinge a todos ao mesmo tempo. E nós não havíamos sentido nada. Não sabíamos exatamente o que aconteceu, mas, como não sentimos nenhum rompimento ou desespero coletivo, estávamos certos de que a parte loba não morreu e esperançosos de que, talvez, Bexi tivesse achado seu caminho de volta para Becca.

Porém, no momento eu estava focado e preocupado com Aidan, e tentava ajudar os Selvagens a trocarem de turno sempre que podia, pois eles também estavam fazendo buscas pelo mundo espiritual e alguém tinha que manter a ordem no apartamento.

Rebecca, como Clayton havia comunicado, tinha acordado do coma. Mesmo que fosse somente sua parte humana, já era motivo para se comemorar. Uma Rebecca humana era melhor do que uma Rebecca morta, mesmo ela provavelmente discordando veementemente disso. Eu só esperava que ela estivesse melhor psicologicamente do que Bexi havia estado.

Nas sessões conjuntas que eu fizera com Bexi, que não foram poucas, eu podia sentir o medo que ela exalava. Era quase um desespero que ela sentia, temendo, a qualquer momento, deixar de existir. Ela estava muito bem informada de que não havia relatos na história lupina sobre algo remotamente parecido com o que havia acontecido com ela e Rebecca. Por isso, estava muito pessimista. Eu tentava animá-la, fazendo brincadeiras e correndo pelas partes mais inabitadas à noite, mas estava difícil. Bexi estava enfrentando uma crise existencial, e eu tinha certeza de que ela entendia que Becca estava em um estado de saúde crítico, estado esse que ela não podia sequer ajudar a fortalecer. Isso agravava ainda mais seu senso de utilidade. Para Bexi, ela estava sendo apenas um estorvo, odiava ter que ficar esperando os outros terem que resolver seus próprios problemas.

ValenteOnde histórias criam vida. Descubra agora