Podemos conversar?

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POV - Siobhan

Londres 1998, 22h40, em um bar qualquer.

— Jimmy, me vê uma cerveja. Preciso hidratar minhas cordas vocais — pedi assim que encostei no balcão do bar, sentia minha garganta seca. O show naquele começo de noite tinha sido exaustivo; o público estava incansável e mais exigente que o normal... Até a brisa da noite parecia diferente.

— Então você é Siobhan Sadler? — uma voz masculina e com um grave imponente questionou  atrás de mim.

— Depende de quem pergunta — respondi sem me virar, todavia, o silêncio estabelecido nos segundos seguintes incitou minha curiosidade. Assim que girei meu corpo, meus olhos encontraram um dos homens mais belos que já havia visto na vida — Quem deseja saber? — ele ainda me encarava e parecia me analisar, ou tentar, pelo menos.

— Alguém que precisa falar com ela, exclusivamente. Caso não seja você, não há necessidade em saber meu nome, não é mesmo?

— Perspicaz! — respondi — Quem lhe mandou atrás dela? Talvez eu possa lhe ajudar a encontrá-la — era possível notar em seus olhos que ele já sabia quem eu era e eu tinha ciência disso, porém não poderia simplesmente esquecer de todo o protocolo que criei para minha própria proteção desde que tudo aconteceu.

— Estou atrás de respostas e um conhecido, por assim dizer, me disse que Siobhan era a mulher certa para me dar tais respostas — ele não era o primeiro a me procurar querendo respostas e eu já até poderia imaginar quais eram suas perguntas.

— Infelizmente não serei capaz de lhe ajudar, acho que veio ao lugar errado — tomei o resto de minha cerveja e me levantei para ir embora. Quando passei por ele senti sua mão segurar meu braço direito e seus lábios se aproximarem de minha orelha.

— Calton me mandou vir até aqui! — suas palavras me atingiram com força, não só pelo conteúdo que elas traziam, mas também pela proximidade extrema que existia entre nós — Ele disse que você é a mulher que procuro, Siobhan.

Eu o encarei por um tempo, tentava ler em seus olhos que tipo de cara ela era; daqueles que querem respostas em nome de corporações ou por um bem comum. Para a minha surpresa ela era o primeiro que não carregava uma faísca de culpa em seus olhos. Ele merecia um pouco de minha atenção.

— Creio que se foi Calton quem te mandou, eu lhe devo pelo menos o benefício da dúvida — um sorriso de lado tomou conta de seus lábios e algo nesse gesto fez um arrepio percorrer minha espinha — Mas não aqui. Conheço um lugar melhor para termos essa conversa.

— Mas você ainda não sabe qual o teor dela, como pode julgar ser inapropriado para esse ambiente? — ele estava me tratando declaradamente, mas eu não iria entrar em seu jogo. Ele estava na minha cidade, minha área; teria que jogar como eu jogo.

— Não se sinta tão especial, você não é o primeiro que me procura atrás de respostas e pelo semblante que você carrega eu posso imaginar sobre o que seja, sendo assim posso lhe garantir que aqui não é o melhor lugar para termos essa conversa — o respondi e me desvencilhei de seu contato.

— É, Calton não estava errado sobre o que me disse de você, principalmente sobre você ser "perigosa" — ele teve a audácia de dar ênfase no "perigosa", sem dúvidas ele realmente queria testar até onde eu poderia lhe ser útil.

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