Two.

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           Sábado.


~Pov Mellanie


Tento abrir os olhos, mas existe um feixe de luz exatamente direcionado para mim, tento usar as mãos para tampar o Sol, sem sucesso, pesa mais que uma tonelada.

Flashes de antes invadem minha memória. Ainda consigo sentir o cheiro da fumaça, está impregnado em mim.

-Mamãe – sussurro a palavra, desnorteada.

Olho ao meu redor o ambiente. A janela descoberta exibe a bela vista das nuvens, as poltronas enfileiradas na minha frente me trazem a realidade de onde estou.

O que está acontecendo?

Olho novamente para os meus dedos jogados no assento, por mais que eu faça força eles nem sequer correspondem. Minha garganta queima, um pouco de água seria bom.

-Olha Jason, parece que o efeito está passando! – um homem forte preenche meu campo de visão, seu idioma é o espanhol, carregado de sotaque.

Ele me olha com um sorriso malicioso no rosto. Possui tantas tatuagens que me perco ao tentar compreender.

-Está esperando o quê?! – outra voz grossa surge ao fundo – Dopa ela! – diz com desinteresse voltando a limpar sua arma.

Armas? Provavelmente meus olhos devem ter saído do meu rosto e entrado em órbita.

-Se fosse você, ficaria com medo, muito medo – sussurra em meu ouvido enquanto injeta algo no meu braço – Vai apagar por mais algumas horas.

Meus olhos param de responder aos meus estímulos, se torna cada vez mais difícil resistir ao sono, a escuridão. 

Acorda, Mellanie. Você precisa ficar consciente.

Mãe? É meu último pensamento.



Domingo.


-Quando a vadia acordar a leve para o chefe! – uma voz ordena em espanhol – Verifique de 5 em 5 minutos.

-Sim, senhor! – espanhol.

Tenho medo de abrir os olhos, já não pesam nada, mas não sei se quero ver onde estou. O cheiro é de mofo misturado a carne estragada, talvez sangue... é horrível, preciso me conter para a náusea não vir, meu estômago revira.

Lentamente abro devagar os olhos, para não ser percebida, em vão. Não tem ninguém, pelo menos ninguém que eu veja. Está tudo completamente escuro, como breu. Nenhuma janela, nenhuma luz.

Passo a mão no chão mais uma vez, é úmido e áspero, sinto pequenos sólidos se grudarem na palma, talvez sejam cacos. Reúno forças e tento me levantar. 

Fora o desconforto por estar deitada neste chão, não sinto dores, não devo ter sido machucada. Aparentemente estou com minhas roupas, mas sem meu celular.

Preciso da minha mãe, onde ela está?

Meus fios colam em meu rosto, é uma sensação nojenta de sujeira, melado. Utilizo o laço em meu pulso para prender meus cabelos em um rabo mal feito no topo da cabeça.

O cheiro do vômito em meu moletom não era nada comparado a isso, gostaria de estar com ele agora.

Ando devagar com a mão levantada para frente, não tenho visão de nada e o cheiro só piora. Encosto meu pé em algo... mole? Prendo a respiração e reprimo o pensamento. Não quero imaginar o que seja, muito menos inspirar esse cheiro de podridão.

Exilada na MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora