Cap.4/ "Eu não sou superficial" - Parte 2

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Parte 2.
》Terça-feira

Quando acordei, quase três da tarde, a primeira coisa que fiz foi confirmar que o número da Bruna estava salvo nos meus contatos. Em seguida, liguei para ela. Mas ela não me atendeu, talvez estivesse no tal curso que tinha me falado. "Se isso for verdade, porque eu não me surpreenderia se ela tivesse mentido para mim.", pensei. Mas, há mais ou menos trinta minutos atrás, quase três horas depois que liguei, ela me mandou mensagem. Ela disse que não pôde atender quando liguei e disse que me ligaria à noite. Não enviei nenhuma mensagem como resposta porque não quero que ela pense que estou sempre disponível para ela.
Meu pai chegou do trabalho e tudo que fez foi deixar algo na cozinha e ir em direção ao quarto dele. Antes de fechar a porta, ele disse:

- Eu trouxe bolo de cenoura, Chris. Está em cima da mesa. - e então fechou a porta
- Quando é que você não trás bolo de cenoura, pai? - murmurei baixo o suficiente para ele não ouvir. Ri baixo.

Levantei e fui até a cozinha. O bolo está com a mesma cara de sempre, com o mesmo tamanho de sempre. Acho que começo a enjoar de bolo de cenoura. Mas, mesmo assim, corto metade do bolo e coloco em um prato de vidro. Volto para o sofá e começo a comer. O mesmo gosto de sempre, também. O quê eu esperava? "O quê você esperava, Ratinho?" perguntava o personagem que nunca consegui decorar o nome, ao Ratinho Medroso.
Minha garganta fecha e não consigo engolir o pedaço de bolo na minha boca. Meu peito começa a ficar apertado. Meu estomago embrulha. Sério, como lembrar de uma frase pode me causar esse tipo de reação? Era para ser só uma história idiota...
Me forço a engolir o bolo na minha boca, levanto do sofá, vou até a cozinha e guardo o resto na geladeira. Odeio esse tipo de sensação. Como se eu não pudesse respirar. Vou para meu quarto, sento na cama e tento ler a primeira história em quadrinhos que encontro, mas não consigo. Não consigo prestar atenção. Jogo a HQ longe, na parede, e ela cai no chão. Não consigo ficar em casa, então me arrumo e saio para dar uma volta. Nunca sei o que pensar nessas horas. Eu só me sinto mal...
Paro em um posto de gasolina e entro na loja de conveniência, compro uma garrafa pequena de cerveja e um pacote de marshmallows, daqueles que geralmente dão em festas infantis. Abro a garrafa com o dente, guardo a tampa no bolso da minha calça e viro a garrafa. Bebo metade do líquido presente de uma vez, então abro o pacote de marshmallows e enfio alguns na boca. Tento esperar o farol abrir para poder atravessar, mas me canso em menos de dez segundos e atravesso mesmo com o farol aberto. Alguns carros buzinam, eu ignoro. Como mais marshmallows.
A forma como estou agindo, meio imprudente, pode parecer bem idiota, sei disso. Eu também me acho um grande babaca. Eu deveria seguir em frente, eu deveria esquecer, eu deveria agradecer por meu pai ainda se importar, deveria ser mais sincero com as pessoas. Eu deveria fazer tantas coisas... Mas não quero. Não quero pensar em o que é melhor para mim. Eu só queria me sentir menos triste, mas não sei como. É difícil eu me dedicar a pensar numa solução. Isso sempre soa como se significasse "esquecer", para mim, e não quero isso. E ao mesmo tempo, quero...
Jogo a garrafa vazia na parede, ela se quebra, espalhando cacos de vidro pelo canto da calçada. Continuo a comer mais marshmallows, acabo com o saco antes de chegar em casa.
Quando abri a porta, meu pai me encarou surpreso.

- Nossa, você saiu. Pensei que estivesse no quarto - ele disse, enquanto assistia televisão
- Fui dar uma volta - eu disse e me sentei no sofá

Meu celular tocou. Bruna estava ligando.

- Vou para o meu quarto - avisei e levantei

Quando entrei no meu quarto e fechei a porta, atendi a ligação. Sentei na ponta da minha cama.

- Oi. - Bruna disse
- Oi. - respondi
- Não achei que você realmente fosse ligar - ela disse - Foi mal por não ter atendido na hora
- Tudo bem, não tem problema. E então, ainda vai sair comigo na quinta-feira? - perguntei
- Vou. Nos encontramos onde?
- Na estação de trem é muito longe para você?
- Não, é perfeito. Que horas?
- Às três da tarde
- Tá bom. - ela disse - Ah... Preciso ir. Posso te ligar amanhã?
- Pode, mas... Por que... - eu iria perguntar o porquê dela ter que desligar, mas ela me interrompeu
- Tchau, Chris
- Tchau... - falei, então ela desligou a ligação. Garota doida.

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora