Cap.28/ Loiro Palha

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Cochilo, mas acordo de madrugada. Não estou com frio, mas sinto fome. Apesar de não querer levantar da cama, levanto e saio do quarto. Meu pai está no sofá, segurando uma caneca e a TV está desligada. Ele parece pensativo e preocupado. Tenho vontade de voltar para o quarto, só para evitar quaisquer perguntas, mas prossigo.

- Não está com sono? - pergunto, tentando consertar as coisas, talvez?
- Não consigo dormir - ele disse. É por minha causa, também?, penso, enquanto me dirijo até a cozinha. - E você? Não tomou remédio, hoje? - ele pergunta, me olhando
- Hoje, não - sou sincero

Abro o armário e pego o saco com pães de forma integral. Faço uma omelete de 1 ovo no microondas e coloco entre duas fatias de pão.

- Está com fome? - ele pergunta
- Um pouco - respondo, dando uma mordida - Quer? - ofereço pão, ele só nega com a cabeça. Guardo o saco de pães de volta ao armário e pego um pacote de bolachas também integrais. Parecem ser boas, na imagem ilustrativa, mas eu duvido.

- Quem fez isso no seu rosto? - ele perguntou, invasivo
- Eu mereci - admito e passo pelo vão da parede e do balcão. Sigo para meu quarto. - Boa noite

Ele não responde. Entro no meu quarto e fecho a porta. Mastigo e engulo, sem prazer algum. Sinto como se eu apenas estivesse comendo por comer. Para matar uma fome fisiológica. Porque a comida não têm mais gosto. Muita coisa boa não tem mais graça e fico mal por isso, também. Só quero voltar à ser criança, quando os dias eram sempre novidades e eu não estava quebrado. Agora, apenas me sinto como quem não presta e nunca imaginei que acabaria me tornando alguém assim.

Decepcionado? Sim. Muito. Mas conformado, também. Porque não importa.

Às vezes penso que este não é o mundo que eu conheci quando era criança, mas e se eu não o tiver conhecido? E se eu estiver o conhecendo, agora, e estou desapontado por isso? Vendo por esse ponto, soa melhor ou pior? Eu não sei dizer.

Não me sinto seguro na minha casa. Não me sinto mais seguro enrolado no cobertor, sem deixar os pés para fora. Sinto como se quisessem me extinguir o tempo todo. Mas o lado bom é que, permanecendo aqui, as outras pessoas ficam seguras. Protegidas de mim, porque eu não sou bom. E não sei por quê ainda saio de casa, às vezes.

Eu realmente deveria me isolar, mas ainda não.

Nem abro o pacote de bolachas. Sei lá, desisto. Vou até o banheiro e escovo meus dentes. Observo o pequeno corte que o soco do Stevie fez no meu rosto. Tanto faz, penso. Volto para a cama e deito, pegando meu celular e os fones de ouvido de cima da mesinha de cabeceira. Ligo uma música num volume baixo e tento focar nela. Preciso fazer alguma coisa, penso, porque é verdade.

Tenho uma ideia. Volto a pegar meu celular e entro na Internet, procurando por alguma base. Então mando uma mensagem para a Alex.

Eu: "Alex, preciso da sua ajuda"
Eu: "Me passa o nome de um bom descolorante", envio.

Ela responde, na hora.

Alex: "Por que? O quê vai fazer?", ela pergunta

Eu: "Vou descolorir meu cabelo", conto

Alex: "Sério???"
Alex: "Não consigo imaginar você loiro, Chris!"

Eu: "Anda, me recomenda algum descolorante que, de preferência, não vá me deixar careca", apresso.

Alex: "Então... qualquer descolorante, se você não souber usar, vai te deixar careca"

Eu: "Eu me viro"

Alex: "Posso te dar uma mãozinha. Tenho experiência em descolorir meu cabelo"
Alex: "E ainda não fiquei careca!"

Eu: "Pode ser, como vamos fazer? Vou na sua casa?"

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora