As Negações De Christopher

Cap.58/ Ok

- Chris - meu pai chama, olho para o mesmo e então estou na frente dele, ou ele está na minha. Mal consigo continuar olhando para ele. - Você não tem jeito, né... - ele murmura, como se estivesse chateado, então expira o ar - Vamos embora - diz, cumprimenta o Jay e então sai andando pela porta de saída.

Fico parado, ainda com as mãos nos bolsos da calça, percebendo o quanto isso não foi uma sugestão e sim uma ordem. Meu rosto está queimando.

- Vai lá, Chris... - Jay diz, com a mão no meu braço. Eu assinto, encarando o chão.

- Valeu, gente - digo, sem olhar para ninguém, mas o suficiente para ouvirem - E desculpa... - então vou andando na direção da saída, também.

No estacionamento, entro no carro, me sentando no banco do passageiro e colocando o cinto de segurança. Meu pai está quieto, ele não liga o carro.

- Me desculpa, eu não queria que ligassem para você - falo, olhando para ele
- Você e o Stevie nunca vão parar de brigar? - ele pergunta, agora parecendo irritado, mas sem deixar isso explícito. A colocação de palavras é o que me leva à pensar isso.

Fico quieto, porque eu não sei. Não saio de casa pensando Se eu ver o Stevie, vou brigar com ele e nós vamos sair na mão.

- Você já viu seu rosto, Chris? - ele pergunta, abaixando o porta-óculos e abrindo a janela do espelhinho. Meu rosto está vermelho, tem um band-aid no meu nariz e um curativo há uns dois dedos do queixo, na bochecha. Meu cabelo, sem pomada hoje, está meio bagunçado e meu olho direito está levemente molhado. Abaixo a cabeça, porque não quero continuar vendo.

- Se tem comida em casa, por quê você não come? - ele diz ríspido, mas então só liga o carro e nós saímos do estacionamento. Ele não diz mais nada pelo resto do caminho, e nem eu sei o que dizer. Quando chegamos em casa, minha mãe está na cozinha, mas logo vem andando rápido até a gente, no segundo que entro pela porta e ele vem em seguida.

Ela não diz nada, mas me olha como se quisesse me encher de perguntas. Meu pai fecha a porta quieto. Me sinto tão culpado que já sento no sofá, ciente que vou levar uma merecida bronca. Estou cansado.

Eles se encaram, ainda próximos da porta principal, como um diálogo próprio. Meu pai olha para mim e em seguida para ela, sem dizer nada. Então enfia a mão no bolso da própria calça e vem na minha direção. Ele me entrega meu celular e em seguida vai para o próprio quarto. Me sinto ainda pior. Nem me dou ao trabalho de ver as notificações, porque sei que nenhuma vai ser da Lara.

- Christopher... - minha mãe se aproxima - Por que não vai tomar um banho e vem jantar? - ela sugere

Não quero jantar...

- Tá - murmuro e levanto, vazando para o meu quarto. Tomo um banho quente e sinto os dois machucados no meu rosto arderem. Então coloco uma bermuda e uma camiseta velha de dormir e saio do quarto.

- Você colocou aquelas roupas para lavar? Estava no hospital com elas... - ela pergunta
- Coloquei - sempre coloquei...

Janto com a minha mãe me observando e, quanto ao meu pai, bem, ele nem saiu mais do quarto.
Quando deitei, não demorei à dormir. Nem precisei de remédios. Acho que o álcool me ajudou à dormir rápido.

* Domingo

Embora eu quisesse muito, não pude dormir o dia todo. Perto dos meio-dia minha mãe me acordou para tomar "café da manhã" e, às 14h ela me chamou para almoçar. Eu fui. Não que eu estivesse com fome, na verdade eu continuo sem apetite algum, mas apenas fui. Por ontem.
Acordei meio desnorteado, com um pouco de ressaca e meus machucados no nariz e na bochecha doloridos e ardendo. Minha costela também está meio dolorida, acho que foi por aquele soco que o Stevie deu por último.
Enquanto eu esperava minha mãe fazer a janta, verifiquei mais uma vez se a Lara havia me desbloqueado. A quinta vez no dia. Nada. E cada vez que eu vejo, me sinto pior. Nem consegui falar com ela ontem... tsc.