As Negações De Christopher

Cap.68/ Playlist

Abri a porta de casa e entrei em silêncio. Esperei alguns segundos para ver se ouvia alguém levantar ou abrir a porta do quarto. Aparentemente, meu pai e minha mãe já estavam dormindo. Acendi a luz da sala e coloquei a garrafa de vinho sobre a mesinha de centro. Fui até a cozinha, acendi a luz de lá também, bebi água e peguei o saco de pão de forma no armário. Passei manteiga entre duas fatias e dei uma mordida, estava bom. Voltei a guardar os pães dentro do armário e fui pra sala. Apaguei a luz da mesma, deixando apenas a da cozinha acesa, porque a essas horas minha visão já estava meio sensível. Apanhei a garrafa de vinho na mesinha de centro e levei a mesma comigo. Pisei atrás dos meus tênis, para tirá-los, e sentei no sofá com os pés em cima do mesmo. Terminei de comer meu pão, bebi mais alguns goles de vinho e então liguei uma música nos fones de ouvido, apesar da bateria já estar quase acabando. Pensei "Vou ouvir esta playlist e depois vou pra cama." Acabei dormindo ali mesmo.

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10h18 am

[Mãe]

Saí do quarto e lá estava ele, dormindo no sofá e ainda segurando uma garrafa perto da cintura. Me aproximei e peguei a garrafa devagar, para não acordá-lo. Coloquei a mesma em cima da mesinha de centro e tentei arrumar a almofada debaixo dele, para fazer com que deitasse direito. Ele nem se mexia, o sono parecia estar pesado, então tive que chamá-lo.

– Christopher... Deita direito – eu disse, levantando ele pelo braço e tirando a almofada. Ele abriu os olhos um pouco, ainda sonolento, e deitou de forma mais confortável. – Você devia ter ido dormir na sua cama – murmurei.

Fui até o quarto dele e peguei um cobertor fino. De volta à sala, estendi o cobertor em cima dele e sorri, quase contente. Me afastei, para voltar pro meu quarto, e então ele disse baixinho:

– Meu pai já acordou? – perguntou, ainda com os olhos fechados
– Não – respondi, em um tom de voz baixo também – Por que não foi pro seu quarto quando chegou?

Ele respirou pesado.

– Estava cansado, aqui foi mais rápido – disse, sem abrir os olhos
– Está com fome? – perguntei, tentando fazer amizade de novo
– Não, eu comi quando cheguei...
– Tá bom... Vou para o meu quarto, qualquer coisa me chama. Vou estar acordada.

E então saí, sem me demorar. Entrei no meu quarto, fechei a porta e fiquei parada, pensando por um instante: É o mesmo Chris. Meu filho. Como pode ser tão difícil de lidar com ele, agora?

[Christopher]

Já sei de quem puxei a bipolaridade.

Puxei mais o cobertor, para me acomodar, e então voltei a dormir.

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Dormi melhor, dessa vez. Quando acordei, algumas horas depois, nem sentia mais dor de cabeça e nem nada do tipo. A sala permanecia com a luz apagada e as cortinas fechadas. A garrafa de vinho estava sobre a mesinha de centro e, quando olhei, o copo que usei de manhã estava no mesmo lugar também.

Continuei deitado e aproveitei o silêncio na casa. Logo estava dormindo de novo. Acordei com meu pai, balançando meu ombro e me chamando.

– O que foi? – perguntei, com a voz arrastada de sono
– Você está bem? – perguntou, olhando pra mim – Dormiu o dia todo
– De repente a sala pareceu muito confortável – eu disse e sorri, realmente achando graça no que eu disse.

Meu pai continuou neutro, me olhando, mas então se sentou no sofá menor.

– A gente pode conversar um pouco? – perguntou, confirmei com a cabeça – Tá... – murmurou, se acomodando no sofá – O motivo pra você e sua mãe estarem se desentendendo ultimamente, ainda é porque você não quis trazer os garotos?
– É... – falei, me virando e deitando de barriga pra cima – Não me pergunte qual o sentido disso
– Por que não traz logo? Já resolveria isso – sugeriu – E além do mais, você vai comer o bolo de chocolate dela, o que você tanto gostava. Você passou alguns dias comprando bolo de padaria, que ambos sabemos que não chega nem perto
– Vai ver o bolo dela nem é mais tão bom quanto antes. Vai ver ela mudou a receita, igual mudou a si mesma. – falei com desgosto
– Bom, você só vai saber se experimentar – ele lembrou. Assenti com a cabeça, sem olhar pra ele.
– Hoje acordei com ela colocando o cobertor em cima de mim e me perguntando se eu estava com fome – contei – Como pode ser tão maluca?