* Quinta-feira, 10h da matina
Acordei um pouco inquieto, me sentindo mais cansado do que quando fui dormir. Quando levantei, ainda me sentia meio desnorteado, como se o álcool ainda não tivesse deixado de fazer efeito no meu organismo. Fui até a cozinha para beber água, minha mãe estava passando geléia num pão de fôrma comum.
- Oi - ela diz, com energia
- Oi... - falei, quase murmurando, enquanto enchia um copo com água
- Tudo bem? - perguntou, dando uma mordida no pão com geléia
- Uhum - bebi a água e enchi o copo novamente
- Como foi ontem?
- Foi legal... - falei e matei a água do segundo copo, então coloquei o mesmo em cima da pia e fui voltando para o quarto
- Você não vai comer nada?
- Depois eu como
- Esse seu depois, se deixar, nunca acontece. Come agora...Respirei fundo, de forma disfarçada, e voltei para a cozinha. Passei requeijão entre duas fatias do meu pão de fôrma integral, coloquei em um prato e voltei para meu quarto. Encostei a porta, coloquei o mesmo em cima da cama e fui tomar banho.
Logo quando tirei a camiseta, encarei os cortes no meu antebraço, lembrando que eles estavam lá. Mal sabia o que pensar sobre eles. Acho que os cortes em si acabaram sendo indiferentes, ao contrário dos meus motivos por tê-los feito. Por fim acabei dando de ombros, terminando de me despir e entrando no chuveiro.
Os cortes arderam muito menos dessa vez, e meu banho foi muito mais demorado também, não por isso. Quando terminei, me vesti e voltei pra cama. Sentei com as costas apoiadas na cabeceira e dei uma mordida no pão com requeijão. Não que isso seja importante - digo, comer.
Peguei meu celular, digitei a senha e entrei no aplicativo de mensagens. A conversa minha e da Lara continua aqui, não aparece a foto de perfil dela, nem o online e nem visto por último algum. Mas continua aqui, com a música que ela mandou sendo a última mensagem. Me pergunto por quê apaguei as outras e como consegui também, só me lembro de estar bem bêbado e enviar uma mensagem para o meu pai. Mas... se não foi eu quem mandei aquelas malditas mensagens, quem pode ter sido né. Acho que só estou tentando inventar qualquer desculpa para não aceitar a verdade. Sou um babaca.
Num impulso inconsequente, liguei para a Lara. Até deixei o pão de lado para ouvir a Lara desligar na minha cara. Mas ela não desligou. Ela atendeu a ligação, embora não tenha dito nada. Eu também não consegui dizer nada e, quando percebi isso, fiquei nervoso. Pigarreei.
- Lara? - confirmei
- É - ela disse, baixinho.
- Você... está livre, hoje? - perguntei, torcendo para que sim
- Desculpa, quem está falando?Eu ri baixinho, como uma reação imediata do sentimento de como isso me acertou em cheio. Me senti tão magoado, me perguntando se eu ainda deveria falar alguma coisa.
- Sou eu, Lara, o Chris - respondi, com um sorrisinho sem graça no rosto
- Ah. - ela murmurou - Não, pra você não estou livre não
- Então você está... mas não pra mim... - ri baixinho novamente, com o frio na barriga (por estar falando com ela) e o aperto no peito (pelo que eu disse antes e pelo que ela disse agora)
- O quê quer?Respirei fundo, já querendo me desculpar de novo, mas ao mesmo tempo só querendo desligar. Sinto meus olhos quentes, quero chorar.
Faço que não devagar com a cabeça.
- Nada... - quase murmuro
- Eu devia saber que você não consegue perder tempo sozinho, sempre tem que fazer alguém perder também - ela disse com a voz dura
- O quê...? - fiquei sem palavras
- Não me liga mais, se te bloqueei é porque também não faço a menor questão de falar com você.Meu celular apitou, avisando ter outra ligação. Lara riu baixinho.
- Atende - disse amarga, e então desligou na minha cara.
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As Negações De Christopher
Teen Fiction(A história contém palavrões, consumo de bebidas alcoólicas e sentimentos.) Início: 18/abril/2018 Fim: ????? Chris é um cara de 19 anos que está sempre saindo, bebendo e tentando esquecer de tudo. Ele e seu grupo bebem aos sábados e estão sempre alt...