Cap.63/ Sorte

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Sentei na beirada da cama e tentei acompanhar a conversa da Mila com a Sarah, no grupo. Estão falando sobre um rolê novo, em um lugar novo que pretendem ir. Tentei imaginar quanto tempo vai levar até o nosso rolê não for mais o rolê de ninguém, quanto tempo vai levar até todo mundo deixar de ir.
Continuaram conversando enquanto eu me desliguei, pensando sobre o assunto. E fui seguindo numa espiral até que a Lara me veio no pensamento. Praguejei, porque andei tentando não pensar nela, já que eu já fodi tudo mesmo. Eu sei onde ela mora, ela sabe onde eu moro, e quer saber? isso acaba por não fazer diferença nenhuma, ela nem quer mais olhar na minha cara, e embora eu tenha dado razão, não quero ela brigando comigo enquanto percebo o quanto a deixei brava.

Tsc! Só faço merda,   pensei.

Saí da minha cabeça quando a porta do meu quarto abriu. Minha mãe entrou, encostou a porta e ficou olhando pra mim, como se quisesse dizer algo. Me senti meio inquieto com a situação.

– O que foi? – perguntei ansioso
– Eu... Queria saber se você mudou de ideia quanto a... chamar seus amigos – ela disse, meio sem confiança para perguntar.

Então foi por isso que ela fez batatas sem carne pra mim?

– Eu... Ainda não acho uma boa ideia – falei, também sem muita confiança
– Qual é o problema, na real? – ela perguntou suave, como se estivesse disposta a ouvir sobre
– Não me sinto confortável, não quero eles aqui e... E, bem, eu só não quero.
– Você disse que tinha conversado com os garotos, até saiu com um deles depois, não? Acho que chamá-los para vir aqui ajudaria pra recuperar a amizade
– Aí é que está, eu não quero recuperar amizade nenhuma

Se bem que tenho uma excessão, mas não envolve esse grupinho antigo na qual eu fazia parte.

Ela respirou fundo por um momento, então olhou pra mim com mais intensidade.

– E qual é o seu plano? Afastar todo mundo até que não reste mais ninguém?! – falou um tanto mais agressiva no tom de voz
– Bom, se eu tivesse tido um pouco mais de sorte, eu nem estaria vivo – falei com desdém, encarando o chão, porque parte de mim realmente pensa assim. A outra parte só quer fugir do assunto.

Minha mãe deu passos largos na minha direção e com um puxão me derrubou no chão, meu celular voou longe. Ela não soltou meu braço, olhou pra mim parecendo furiosa.

– Nunca mais fala desse jeito, Christopher! – brigou – Está maluco? Se tivesse tido um pouco de sorte... – repetiu o que eu disse com sarcasmo – Você teve sorte, não é a toa que está vivo.

Então largou meu braço e caminhou até meu celular, pegou o mesmo do chão e saiu do quarto. Tentei digerir o que tinha acabado de acontecer, com o braço ardendo onde ela segurou. Continuei no chão por alguns segundos, minha respiração estava pesada. Quando me dei conta que tinha deixado o celular desbloqueado, me senti meio nervoso. Levantei e fui atrás dela, mas ela já havia entrado no próprio quarto e se trancado lá.

– Me devolve meu celular – eu disse, ainda meio assustado, batendo na porta de leve. Mas então pensei que provavelmente ela estava vendo tudo e que veria a foto que tirei do meu antebraço, com os cortes ainda recentes, para me lembrar das duas machadadas. Bati mais forte na porta – Mãe! – insisti – Abre a porta.

Comecei a me preocupar se ela contaria para o meu pai, ele ficaria preocupado, iria querer marcar um horário com o psicólogo, eu teria que conversar com ele sobre todas as últimas merdas que aconteceu, porque essa é a única maneira de fazer o tempo passar mais rápido.

– Abre a porta – eu disse, quase desistindo já – Devolve meu celular... – Encostei a testa sobre a porta, já imaginando como vai ser na sala do psicólogo, com ele me chamando de Christopher e querendo saber mais ainda sobre o passado ou então perguntando "E como está sua mãe? Como foi ver ela de novo, depois de tanto tempo?"

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora