Cap.65/ Lembro quando te conheci

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Sábado 13h10

Levantei ainda com aquela música na cabeça, que agora tem seu efeito. Coloquei ela para tocar enquanto ia até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, já que ontem eu só cheguei e dormi. Depois saí do quarto, com a música ainda tocando dentro dele. Fui até a cozinha ver se comia algo ou sei lá. Minha mãe estava no sofá, terminando de almoçar enquanto assistia televisão. Tentei não fazer muito contato visual, já que ontem eu saí depois de termos discutido. Atravessei o vão entre o balcão e a parede e bebi um copo de água. A ressaca estava ali, então bebi outro copo de água pra acelerar o processo.

- Você imaginou que seria assim? - minha mãe perguntou, ainda olhando para a televisão - Imaginou que, se eu voltasse, brigaríamos o tempo todo?

Meu estômago roncava de leve, mas decidi que se eu parasse pra comer, ao menos nesse momento, a conversa iria se arrastar e acabaria em outra discussão. E eu não quis isso. Então coloquei o copo em cima da pia, sem intenção de pegar ele novamente.

- Já faz um tempo que deixei de imaginar isso - eu disse, e então fui voltando para o quarto como se nem tivesse falado com ela
- Mas imaginou que brigaríamos? - ela insistiu na pergunta
- A culpa disso é só minha? - perguntei, antes de adentrar o corredor dos nossos quartos. Sem saber aonde ela queria chegar com a pergunta, entrei no meu quarto e girei a chave. A música já tinha terminado de tocar. E, ali dentro, eu estava em paz.

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19h30
Esperei algum tempo para poder sair. Demorei a me arrumar, sem pressa alguma. Quando meu pai chegou, saí do quarto, sentindo-me mais seguro com ele em casa. Já estava arrumado, portanto não me atrasaria tanto.

- Está saindo já? - ele perguntou, quando eu chegava na sala
- O que mais ele faz fora sair e discutir comigo? - minha mãe perguntou, aparentemente deitada no meu sofá.
- Bom, eu certamente não encho o saco das pessoas. - rebati, irritado por dentro, porém aliviado que logo vou sair de casa
- Certamente. Você mal fala.
- Provavelmente, nada que eu pudesse dizer interessaria a você
- Se você acha.

Bufei baixinho. Meu pai olhou pra mim, como se esperasse que eu dissesse algo (fora essas merdas), ou como se quisesse me dizer.

- Vai demorar? - ele perguntou
- Não sei, acho que sim - respondi, vendo o quanto era melhor falar com ele
- Me avisa se for, para eu não dormir preocupado

Assenti, desviando rapidamente o olhar para o meu sofá. Queria perguntar para o meu pai se ela não pretendia ir embora, porque dessa vez eu não me importaria nem um pouco, mas preferi ficar quieto. Achei que seria indiscreto perguntar isso.

- Bom, estou indo - falei, decidindo não me demorar aqui, antes que surja outra discussão
- É, vai mesmo. De estômago vazio. Vai encher a cara pra chegar em casa vomitando - ela provocou
- Cuida da sua vida - exclamei
- Chris. - meu pai repreendeu, por eu ter respondido ela dessa forma - Espera, você não comeu nada hoje? - ele se deu conta

Bem, eu deveria ter saído de casa antes. Parece que estava adivinhando que teria outra discussão.

- E quando é que ele come? - ela perguntou, colocando lenha na fogueira
- Pai... Vou comprar algo pra comer - tentei evitar uma bronca dele.

Meu pai ficou quieto por um instante, parecendo irritado com ela e sem saber mais o que fazer comigo.

- Compra mesmo - ele mandou, me olhando nos olhos - E toma cuidado.

Respirei aliviado por ele não insistir que eu comesse em casa, antes de sair.

- Eu tomo - garanti, indo em direção à porta da rua.
- Isso, passa a mão na cabeça dele. Deixa ele continuar como está - ela voltou com a ironia, provocando. Se não a mim, ao meu pai então.

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora