Cap.2/ O Início de Tudo - Parte 2

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Parte 2.
Duas Alex, dois Jonathan, duas novatas chatas, duas de cada pessoa que estava ali... Depois de mais alguns goles das novas garrafas que compraram quando a última acabou, acho que já estou meio bêbado. Coloco o "meio" na frente porque eu sei como é estar realmente bêbado e é bem ruim. E... não estou assim, ainda. Minha visão está distorcendo, eu estou meio tonto, não consigo focar bem nas pessoas e nem prestar muita atenção ao que falam. Mas eu sei com quem estou e onde estou, então tudo bem.
A novata, Lara, está debruçada na grade de proteção da ponte que passa por cima de uma avenida. Ela está ali há uns dez minutos. Agora é a hora. Me levantei cambaleando um pouco, ninguém notou (eu espero), então fui até ela e me debrucei ao seu lado.

- Ei, novat... quer dizer, Lara. Me desculpa por ter sido chato mais cedo... - falei

Quando estou bastante alterado, para mim é fácil se desculpar, não importa com quem for.

- Tá, tudo bem - ela disse, sem me olhar
- Olha... Lara... - tentei começar - Você... quer... ficar comigo, hoje?
- Não - a resposta dela me atingiu, porque eu esperava por um "sim"

Fiquei meia-hora a encarando sem perceber, confuso. Ela me olhou.

- Não entendeu o que eu disse? - perguntou
- Como você consegue... não... arrastar a voz? - perguntei, tentando focar no rosto dela
- Eu só estou um pouco alterada, não é para tanto. - Lara respondeu, me olhando - Já você... Deveria tomar cuidado - disse, mas não em tom de quem está julgando
- Eu não quero tomar cuidado. Sabe, é divertido correr riscos, me faz sentir vivo
- Entendo. - ela me olhou, encarou por uns dois segundos e então desviou o olhar
- Lara, quais são seus planos?
- Não perder meu otimismo - disse meio baixo, então saiu andando até o grupo

Na real, alguma coisa nessa garota me chama a atenção. Fui atrás dela.

- Ah... Acho que eu já vou ir pra casa. Hoje foi bem legal, com vocês - Lara disse, então colocou a mochila de pelúcia bizarra nas costas (Era um tigre. A porra de um tigre. No mínimo é uma mochilinha infantil... que idiota) e saiu descendo as escadas.

- Ah... Eu acho que também vou - falei e também desci as escadas.

Na estação de trem, tentei encontrar uma garota de cabelo bagunçado e mochila infantil. Não deveria ser difícil de encontrar uma mochila laranja, mas o foda é que minha visão está um pouco embaçada, então complica um pouco. Quando encontrei, apertei o passo e, chegando até ela, a segurei pelo braço. Ela se virou bruscamente, acho que eu devo tê-la assustado.

- Ei, qual é o seu problema? - reclamou, me fazendo soltar do braço dela
- Sério, uma mochila de tigre infantil? - perguntei reparando de perto
- Veio aqui só para isso? - perguntou, tentando se virar para continuar seu caminho
- Espera! - falei meio alto, algumas pessoas que passavam na hora me olharam - Ah... Eu posso te levar até sua casa?
- Olha, na boa, acho que você não pode nem se levar para casa
- Quer me levar, então?
- Dispenso
- Qual é a sua? Você finge que se preocupa com o problema dos outros mas deixa alguém, que por sinal não está bem, ir para casa sozinho? - fiz graça
- Você nem está caindo. Eu também não estou bem, mas sei meus limites para ir para casa sozinha
- Ah, sério, você.... - tentei falar, mas Lara me interrompeu
- Olha, cara, eu preciso ir para casa, então... Tchau! - disse, tentando ir embora
- Mas ainda não é nem dez da noite
- Não importa. Tchau. - disse e saiu andando. As patas do tigre ficavam balançando, aquilo me incomodava.

Quando ela sumiu do meu campo de visão, fui pegar meu trem para ir para casa. Quando entrei pela porta, lá estava ela, parada. Quando me aproximei, sorri. Ela apertou os olhos, fechados, como se estivesse tentando não perder a paciência. Os fones de ouvido que ela usava estavam num volume alto. A música parecia meio animada, mas me era familiar, as letras dessa banda estão sempre expressando raiva ou tristeza. Ela tirou os fones de ouvido cinco segundos depois de me ver.

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora