Cap.13/ Repreensão

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》Quinta-feira

Me forço a sair de casa. Por que? Bom, o motivo de "Preciso de bebida e marshmallows de festa" é bastante plausível para mim. Então, após comer um pacote de marshmallows e tomar umas duas garrafas de cerveja (pequenas, ow!), volto para casa. Mas, à essa altura, já deve ser umas 4h da manhã. É, eu meio que saí de casa de madrugada. Fazer o quê, eu sou um caso perdido.

Começou a chover quase meia-hora depois que eu saí. Para ser sincero, foi ótimo tomar banho de chuva.
Quando cheguei em casa, me sentia cansado. Desejando não sair mais de casa pelo resto do ano. Tirei a roupa molhada, a deixando jogada no chão do banheiro e coloquei uma calça de moletom fino e uma camiseta velha com a estampa do Punisher. Meu pijama (risos sem graça). Talvez tenha sido as cervejas que me deram sono, não sei, mas tirei os tênis e deitei na cama. Dormi. Oi, cama.

》Sexta-feira

Acordei duas e pouco da tarde. Meu pai jogou água no meu rosto.
- Aaaaah, o quê foi, pai?! - falei reclamando. Me sento na cama e levanto a barra da camiseta para enxugar meu rosto
- Que horas você chegou, ontem? - ele perguntou
- Ah, está brincando que me acordou só para isso?
- Chris, está faltando remédio
- O quê?
- Você tomou mais remédios do que precisava - aumentou a voz
- Ai, pai, eu estou tomando certo... - falei cansado
- Chris, você está dormindo o dia inteiro e a noite inteira. Eu quase não te vejo. Nem comer você está comendo direito...

Enquanto meu pai reclamava, lembrei que hoje é sexta-feira. Que bom, que ruim.

- Tudo que você come é bolo de chocolate - ele continuou -, o rapaz da padaria disse que você ainda continua comprando. E, se toda a comida da geladeira está sempre intacta quando chego, você só pode estar comendo esses bolos
- Pai... - tentei encontrar palavras para dizer alguma coisa
- Chris, bolo não alimenta. Ontem você tomou chuva e ainda dormiu com o cabelo molhado... Vai acabar ficando doente!

Fiquei quieto. Merda, por que ele não para de se incomodar com tudo?

- Chris, tem menos remédios do que deveria ter. Você não pode tomar tantos remédios para passar o tempo inteiro dormindo e esquecer de tudo... - o interrompi
- Como você sabe que tem menos remédios que deveria ter? Estou tomando do jeito certo, droga! - perguntei, só aumentando a voz na última palavra
- Eu tenho contado os comprimidos, Chris, antes de eu sair para trabalhar, quando você está dormindo, como sempre.

Fico quieto por alguns segundos, porque nunca vejo ele entrando. Se é que isso é verdade.

- Você deve estar contando errado - falei entre dentes, não querendo admitir
- Chris. Por favor, filho, você precisa sair dessa cama um pouco. - ele continua
- Acho que, se eu quisesse, eu sairia - falei sem olhar para ele.
- Chris...
- Pai, eu não quero sair daqui. Me deixa em paz
- Chris você precisa viver, você precisa ficar acordado. Passar o dia dormindo não vai fazer nada ser diferente.
- Não ligo - falo baixo e então ambos ficamos quietos

Meu pai ficou me olhando como se não soubesse mais o que dizer. Quase neutro. QUASE. Ele me olhava com uma expressão diferente.

- Pelo menos precisa se alimentar. Faça isso por você, por mim, por quem for. Mas se alimente. É o mínimo. Acorde, coma alguma coisa e volte a dormir, se quiser - ele sugeriu, sem tom de sermão, agora
- Pai... - eu quero falar qualquer coisa, mas meio que estou sem muita energia até para pensar em o que vou dizer
- Chris, estou te pedindo: Fique vivo. Fique acordado.
- Pai, eu não quero estar acordado. - nem vivo, penso.

Ele me olhou com uma expressão de surpresa mas não surpresa. Me olhou triste, também. Com pena.

Meu peito aperta. Sai daqui, por favor, sai daqui... Olho para o meu pai. Não quero expulsá-lo do meu quarto, mas preciso.

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora