Cap.35/ Mesmo que eu discorde...

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Acordo com meu pai me chamando. Fico surpreso quando ele diz que já é quase oito horas da noite e pergunta se dormi o dia todo. Ele também pergunta se tomei remédio e eu respondo que "não". Nem eu entendo como consegui dormir o dia todo, sem remédio algum. Ah, claro, eu fui dormir de manhã... Pensando nisso, eu levanto da cama e vou lavar o rosto, sem prestar atenção ao que meu pai diz. Quando volto, olho para ele, esfregando os olhos.

- O quê estava dizendo? - pergunto, confuso
- Eu disse que o Paul veio aqui. Ele quer falar com você. Contou que também veio aqui à tarde, mas ninguém atendeu a porta. - meu pai fez uma pausa - Fiquei preocupado, quando cheguei e ele perguntou de você. Pensei que tivesse tentado se extinguir de novo.

Quando ele diz isso, me sinto como se tivesse acabado de levar um soco forte no estômago. Ou, talvez, a sensação é muito pior que um soco. Não sei descrever, só me sinto muito mal.

- Acho que... - eu travo, ainda com a fala dele na minha cabeça, sobre ele ter ficado preocupado, fazendo ecos na minha cabeça - ...não vou mais tentar fazer isso - termino de dizer o que soa quase como uma promessa, mas não quero prometer nada, porque não confio em mim Tentado se extinguir, de novo
- Está falando sério? - ele pergunta, olhando para mim
- Não sei. Acho que estou - falo, internamente duvidoso quanto a isso
- Fico feliz em ouvir isso

Não respondo. A fala dele continua fazendo eco na minha cabeça. Pensei que..., tivesse tentado..., se extinguir..., de novo. A frase entrecortada, reproduzindo, reproduzindo...

- Como está se sentindo, ultimamente? - ele pergunta, sem compromisso de uma resposta plausível
- Naquelas - falo, sem muitos porquês - Meu humor continua em alteração constante - meu pai assente com a cabeça e continua me olhando, como se esperasse que eu dissesse mais alguma coisa; mas eu não falo mais nada
- Posso agendar uma consulta com o psicólogo para essa semana, se você quiser - ele diz. Eu não quero, penso e não respondo nada - Ou na semana que vem, também. - meu pai acrescenta, o que me faz concluir que, mesmo que eu discorde, ele vai acabar agendando e me fazendo ir
- Nessa semana, quem sabe, se você conseguir... Vou tentar não sair da sala, de novo - desisto de nadar contra a correnteza.
- Tudo bem - ele diz, assentindo - Vou ligar e agendar, então - ele continua olhando para mim, mas então desvia o olhar - Vai lá falar com o Paul, vê o quê ele quer - meu pai diz, sugerindo
- Eu sei o que ele quer me falar
- É sobre terem saído, ontem?
- Provavelmente - murmuro, não querendo falar sobre isso com meu pai - Vou lá, de qualquer forma - falo me virando e escancarando a porta do meu quarto
- Chris? - ele chama, olho para ele - Eu sei de quem você precisa, sinto muito por não conseguir ser suficiente para você - fico imóvel, olhando para ele. Nem consigo demonstrar nenhuma reação, apenas fico parado, digerindo. - Vai logo lá falar com o Paul - meu pai me apressa, provavelmente porque ficou sem graça por eu ter ficado calado, mas ainda sim, estupefato.

Ainda não sei qual reação demonstrar. Meu rosto continua quase neutro, mas eu chamaria de "sério". Saio para fora do meu quarto, devagar e então me dou conta do que acabei de ouvir. Ele estava se referindo à minha mãe?
Saio de casa sem pensar direito e então estou em frente à porta do Paul. Bato algumas vezes, sem parar e sem perceber que ainda estou batendo. Paul abre a porta e então eu paro de bater.

- Não me ouviu dizendo que já viria? - ele diz, ríspido, abrindo a porta; então nota que sou eu e fica quieto
- Foi mal - me desculpo
- Pensei que fosse outra pessoa, Chris. Você está legal? - ele pergunta, me olhando
- O quê queria falar comigo? - pergunto, mudando de assunto para não ter que responder
- Ah, é... Fui na sua casa, hoje. É que ontem você desapareceu da festa, quantas merdas o Stevie disse para você?
- Ele não te contou?
- Não, ele só disse que você estava lá e, quando eu fui te procurar, você já tinha ido
- Foi mal, eu não quis continuar lá - falei, desconfortável
- Imaginei isso, não precisa se desculpar
- Tá. - falo sem graça, quase num murmúrio

As Negações De ChristopherOnde histórias criam vida. Descubra agora