08.05.18 - Terça

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De: zakrod98@gmail.com
Para: isa.sk8.2010@hotmail.com
Assunto: Gênesis 3,19


Hey, boa noite, amiga!

Já parei de espirrar, ainda bem. Não sei onde eu estava com a cabeça pra permanecer com roupa molhada naquele ventinho da sexta-feira (a água da piscina era aquecida, mas ao sair da água morna... já era). Mas, ok... Já foi, né?

Lição dada, lição aprendida.

Bem... Teoricamente.

Mesmo com o "beu dariz" escorrendo, fui ontem e hoje ajudar o Seu Antonio. E esses dois dias foram mais pesados, porque as alas que eu precisei limpar eram maiores (o cemitério é bem grandinho).

Hoje mesmo teve uma hora, enquanto eu limpava um dos túmulos, que vi algo que me chocou um pouco: o nome de um casal de sobrenome "Belson", falecidos em 2015, estava no túmulo ao lado daquele em que eu estava trabalhando.

Sim, eu já sabia que os pais do Nicolas tinham morrido, porque ele comentou comigo (eu te contei no último email). Mas ter visto o lugar em que estão me deu uma sensação ruim. Fiquei imaginando como foi pro Nick e pra Jack ter perdido ambos numa tacada só, em um incidente tão repentino. Na sexta, quando ele falou sobre o assunto, não demonstrou nenhuma tristeza (parecia uma fortaleza). Mas eu me pergunto como é para os dois terem se afastado dos pais à força (diferente de mim, que saí de perto dos meus por opção, e ainda posso recorrer a uma visita).

E foi naquela hora, em plena tarde de segunda-feira, que me toquei de algo ridiculamente óbvio, mas que eu estava ignorando: aquele cemitério onde tenho trabalhado está cheio de corpos em putrefação (não gire os olhos, eu avisei que era ridiculamente óbvio).

Pessoas mortas.

Esqueletos virando pó.

Carne fedorenta com vermes, debaixo daquele monte de concreto e estátuas de anjos.

Por um momento, eu quis correr dali, mas ainda tinha muito trabalho. E o Seu Antônio estava por perto. Não que eu estivesse com medo (e não fique com essa cara de "aham" que eu sei que está fazendo)... O que senti não foi medo! Foi mais como uma premonição do futuro, uns pensamentos doidos: as pessoas que estão ali... São (ou eram) amadas? Ainda são visitadas?

E o mais dark de tudo: daqui a quanto tempo eu estarei na mesma situação?

Claro, amiga. Porque um dia isso vai acontecer. Com todos, não importa quem...


...


Oi, fui buscar um pouco de água, agora.


Enquanto eu enchia minha garrafa olhei pra uma parte no chão de madeira polida da cozinha. Perto do batente da porta que leva até a sala tem umas manchas mais escuras, só que essa parte está lixada. Como se alguém tivesse tentado limpar algo que impregnou.

Quer saber minha teoria?

Acho que é o sangue do antigo dono da casa. O tal "Senhor Roberto" que o Nicolas me fez o (des)favor de contar.

Naquele dia eu não me importei (afinal, foi a primeira vez que o Nick falou comigo, eu estava era deslumbrado, isso sim!). Mas ter descido lá agora e notado a mancha (quase apagada - não é um cenário de terror, nem nada) foi meio estranho. E o Nicolas contou que os cães... Bem, ele falou que eles estavam com a boca suja de... Ah, bem, este tipo de detalhe eu não preciso dar, né?

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