24.05.18 - Quinta (manhã)

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De: zakrod98@gmail.com
Para: isa.sk8.2010@hotmail.com
Assunto: Ah, se meu olhar matasse...


Bom dia, amiga! Um lindo dia!

Ontem foi meu último dia no cemitério. Quando eu cheguei lá para cumprimentar o Seu Antônio (que é o que eu vinha fazendo todos os dias) ele ficou meio marrento. Eu não entendi na hora, mas depois me liguei que era o jeito estranho do velho ficar "sem jeito" por não querer dizer algo chato. Ele disse que depois de hoje eu não precisaria voltar. Deu um tapinha no pé e explicou que já estava bom.

Eu já sabia que acabaria essa semana, não foi surpresa, nem nada.

E justo no último dia eu presenciei uma cena bem diferente, lá. Tinha uma mulher gritando com um dos funcionários. Eu fiquei longe o bastante pra não entrar na dança, mas perto o suficiente para ouvir enquanto retirava uns matos e raspava cera das velas derretidas (que atire a primeira pedra quem nunca espiou treta alheia). A reclamação dela era que tinha uma camisinha (yep! Um preservativo) usada e toda suja sobre o túmulo do avô. Nossa, que sufoco o do funcionário, rs. Ela ficava dizendo "onde já se viu? Que pouca vergonha", e essas coisas.

Tá certo que ninguém quer encontrar isso no túmulo de um parente, mas que foi engraçado (o jeito que ela esguelava), ah, isso foi.

Geralmente é o Seu Antônio que faz as rondas noturnas do cemitério, sozinho. Mas o lugar é grande, e daria tranquilo pra dar umazinha num dos cantos enquanto ele andava pro lado oposto com o lampião.

Mas, convenhamos... Que fetiche estranho, o de transar num cemitério. Eu, hein. Nem morto (kkkk.... Ô piadinha besta!).

Na volta, eu me encontrei com o Nicolas no meio do caminho (voltando do mercado). Como nos últimos dias eu vinha voltando depois das 21h, isso não era possível, e antes de eu ter começado as horas-extra eu mudava bastante o caminho pra conhecer a cidade nova, então encontrá-lo nunca tinha sido possível.

Ele brincou, perguntando se eu tenho visto muitas "caras de velório" por lá (e infelizmente sim, porque sempre tem enterro), e quando eu contei que havia sido meu ultimo dia, ele me chamou para jantar na casa dele (não que o ultimo dia de trabalho de alguém seja motivo de comemoração... pelo que entendi, foi apenas uma gentileza, mesmo). Eu estava quase recusando, mas ele ficou me chacoalhando, e falando com voz boba e infantil "vamos tio Zak, vamos", e toda vez que eu ficava em dúvida ele dava risada e me chacoalhava mais (e repetia o "vamos tio Zak").

No fim, o Nicolas acabou vencendo. Eu não tinha motivos para recusar, mas não queria que parecesse que eu estou me aproveitando (sei lá, eu fico com esses receios na cabeça, com medo do que eles pensem de mim).

O sol ainda estava visível, um pouco acima da linha do horizonte. Eu ia andando com ele (levando a bicicleta ao meu lado) enquanto o ouvia falar... Aquele cabelo loiro brilha que nem cobre no sol do entardecer... A gente comentava sobre a partida de HoTS (que jogamos domingo). Ele disse que estava difícil se concentrar nos estudos, de tanto que ele pensava no jogo (eu entendo... é foda). E isso deu gancho pra eu perguntar a respeito: ele vai fazer o exame de vestibular no dia 1º de Julho. Pode parecer que ainda tem muito tempo, mas para quem está estudando para passar na universidade, é pouco. A Jaqueline já tinha comentado antes (quando minha mãe veio) que ele quer fazer Engenharia de Alimentos, mas ouvir dele foi legal. Ele comentou que o cultivo das flores (que era um negócio próprio da falecida mãe) deu início a esse interesse, mas que a ideia de plantar morangos partiu dele (e daí a paixão por cultivo aumentou, levando-o a fazer curso superior a respeito... lindo e inteligente!).

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