De: zakrod98@gmail.com
Para: isa.sk8.2010@hotmail.com
Assunto: Luz no fim do túnel
Oi amiga! Como você está? (deu uma esfriada, né... Meu termômetro marcou 7ºC noite passada)
Sobre o "Assunto" marcado no cabeçalho do e-mail, eu e a Hellen costumávamos zoar que "A luz no fim do túnel é um trem vindo pra te atropelar". A gente ria muito da piada, mas hoje fiquei pensando a respeito.
Não que eu esteja jogando areia nos olhos da esperança, não é isso. É só que não quero cantar vitória antes da hora. Acho que, depois de tudo o que vem acontecendo, percebo que tenho que pensar trinta vezes antes de tomar minhas decisões. Tanto as boas quanto as ruins.
Ah, e desculpe por não ter escrito ontem... Mas não se preocupe, eu não me esqueci de nada. Usei o domingo pra pensar (numa volta de bike pela cidade), e foi útil pra arejar a mente.
Então, vamos para os acontecimentos de anteontem...
Bom, tive um sábado bem diferente, disso não tenha dúvidas. Depois que te enviei aquele último e-mail (aquela porcaria depressiva) não demorou muito até eu ouvir gente entrando em casa.
Eu estava no meu quarto, de pernas cruzadas sobre minha cama e de costas para a porta.
Tive certeza de que era a Jack (porque ela garantiu que ia me convencer a sair com eles), mas aí ouvi a voz do Nicolas falando alguma coisa que eu não entendi, para alguém que não era eu. Eu continuei de costas sentado na cama (não quis olhar para ele, porque não estava com coragem de encará-lo). Mas ouvi uns passos se aproximando, que não combinavam com o tamanho do Nicolas. Eram pequenos e curtos. Quando vi, uma mão minúscula se apoiou na minha coxa, e ao olhar para o lado vi o Lucas, aquele pingo de gente, me observando curioso. Aí ele falou alguma coisa que eu acho que era "blá-blá-blá, tio idáqui", me deu uma Margarida meio amassada e voltou correndo para a porta.
Eu fiquei, tipo: "o que foi isso?", e acabei olhando pra trás, na direção da porta. O Nicolas estava sussurrando algo para o menino, pedindo para ele vir e me dizer mais alguma coisa. Quando o Lucas voltou até mim, o Nick me olhou com um sorriso gentil (lembrando que ele tinha me deixado sozinho poucas horas antes, porque eu pedi). Senti meu rosto pegando fogo... Não tinha como evitar lembrar de tudo o que eu tinha feito ele passar na madrugada daquele sábado (que vergonha). A forma deplorável como ele me viu... e o fato de termos dormido na mesma cama (e minha cama é de solteiro).
Mas desviei meus olhos rapidamente pro Lucas, que estava do meu lado. Eu não tinha comentado antes (porque eu estava com certa raiva), mas o menino é bonitinho. Sei lá, ele é fofo, tem um "quê" de Nicolas nele, apesar de os olhos serem diferentes. Eu não tenho proximidade ne-nhu-ma com crianças (só conversei com crianças quando eu ERA uma), então eu não sabia como agir (sério, crianças me dão medo... eles te olham pra valer, e parecem enxergar tudo – bem mais que o Raio-X da Jaqueline). Ele deu aquela risadinha encabulada infantil, e falou "vem patiá cadente" (acho que ele quis dizer "passear com a gente").
... Ah, o Nicolas jogou sujo demais. Fazer uma criança vir me chamar pra sair de casa foi trapassa. E pra piorar, o Lucas ainda completou falando algo do tipo "meu pai disse que você vai me dar um sorvete" (pareceu isso, ao menos). Ele estava com a cabeça deitada na beirada da minha cama, e me olhava esperando alguma resposta.
Eu estava travado! Como se conversa com um ser desse tamanho? Eu nem sabia se ele entenderia se eu falasse (o ignorante ali era eu, agora eu sei – nem precisa me avisar). Olhei pro Nick e ele deu uma piscada, dizendo que ele mesmo pagaria pelo sorvete. E aí ele pediu, com aquela voz mansa, quase sedutora "Vem com a gente". E o Lucas pegou a Margarida que já estava jogada na minha cama, diante de mim, e fez eu pegar. Falou que era um presente. E repetiu o pedido do pai, para eu ir junto.
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O Monotono Diario de Isaac [BETA]
RomanceSINOPSE: Isaac Rodrigues, um jovem de 20 anos, foge da casa dos pais e vai morar num casarão de uma cidade desconhecida. Inicia um diário para registrar a nova vida, mas percebe que manter a compostura diante dos próprios pensamentos - e atitudes im...