De: zakrod98@gmail.com
Para: isa.sk8.2010@hotmail.com
Assunto: Seeenta que lá vem história...
Bom dia, amiga! Acordei bem cedo, hoje... Não era nem 6h e eu já estava de pé.
É que minha cabeça está a mil. Preciso fazer uma faxina na casa, e queria escrever este e-mail para você, antes.
Bem, pra começar... Vou receber uma certa visita.
... Eu liguei pra ela, ontem. Pra minha mãe. Nossa, aquilo foi tenso e complicado... Mas no fim das contas foi bom. Eu reparei uma coisa que nunca tinha me passado na cabeça antes: morar longe muda nossa percepção das coisas. Das pessoas, mas especificamente... E essa distância meio que fez bem para nós dois (eu e minha mãe). Na época em que eu morava lá era o verdadeiro inferno.
Ah, eu nunca contei detalhes para você, né? Bem, é porque não gosto de ficar lembrando. Pra escrever esses e-mails que te mando eu tenho que reviver a porra toda, então não é como se eu me animasse a colocar as partes podres da vida de volta na mesa..
Mas talvez... É.
Talvez acabe sendo bom contar.
Aiai... Beleza.
Eu sou filho único. Sempre quis ter mais alguém lá comigo, mas não tive. E a carga de cobrança pra ser o "filho exemplar" caiu toda sobre mim. Até aí, tudo bem... Eu tentava ser o melhor que eu podia. Não dava trabalho no sentido de levar problemas para casa, não pedia dinheiro, evitava visitas de amigos lá (não que eu tivesse muitos além da Hellen e de um pessoal do ensino médio) e eu fazia todas as coisas que me pediam (mercado, pagar alguma conta nos correios, deixar meu quarto em ordem, essas coisas bobas). Eu só não ajudava mais na casa por conta daquela mania sexista dos meus pais que eu já expliquei. Se meu pai ou minha mãe me vissem fazendo serviço de casa (nem que fosse varrer um chão) já começavam a questionar com aquele jeito que me angustia só de lembrar "Por que cê tá fazendo isso? Quer provar o quê com isso? Vai arranjar uma mulher, e um emprego!".
Eu tinha nojo quando meu pai falava isso. Nojo dele e da visão dele. Uma vez tentei explicar que eu estava só tentando ajudar minha mãe (porque ela às vezes tem umas crises de estresse)... E a resposta dele? Falou que ela é uma vadia, e que tinha que fazer alguma coisa pra merecer a comida que ELE colocava na mesa.
Bom, é isso aí. Esse é o "status quo" do meu progenitor (vulgo "pai").
... Eu odeio lembrar disso. Eu odeio o fato de ter a consciência de que odeio meu pai.
É, eu sei. É muito "odeio" na mesma frase. Muita coisa ruim no coração. Eu vou pro inferno, se isso realmente existir. Que se dane...
Ele chamava minha mãe de várias coisas, e geralmente na cara dela. Até quando tinha outras pessoas por perto ele não tinha receio de tratar ela mal.
Eu já tentei defendê-la. Respondia pra ele (não da forma mais inteligente, confesso... eu xingava de volta) e o que eu recebia em troca era um tapão na cara... que a minha mãe dava.
Juro que eu não entendia.
Ela falava pra eu "não ousar desafiar meu pai". Putz... Aquilo me ardia o estômago. E olha que era ela que tinha gastrite!
Essa coisa de eu procurar emprego não é de agora. Enquanto eu estava naquele inferno cheguei a conseguir algumas entrevistas, mas sempre tinha alguém que era contratado em meu lugar. Faculdade pra mim então, nem se fala... O que eu queria era poder colocar algum dinheiro a mais lá e ajudar a pagar contas pra que ele parassem de me olhar feio durante os jantares, ou reclamar quando eu via TV, ou esmurrar a porta quando eu tomava um banho mais longo que cinco minutos (sorte que oxigênio é de graça, senão eles iam falar merda disso também).

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O Monotono Diario de Isaac [BETA]
RomanceSINOPSE: Isaac Rodrigues, um jovem de 20 anos, foge da casa dos pais e vai morar num casarão de uma cidade desconhecida. Inicia um diário para registrar a nova vida, mas percebe que manter a compostura diante dos próprios pensamentos - e atitudes im...