Capitulo 10

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Ele se aproximou de mim e se debruçou para que seus olhos ficassem na mesma linha que os meus, possuía um grande bigode, como o de um magico que eu havia visto uma vez em uma pequena peça de teatro.

— Vou ser bem direto com você, Ethan. Você agora é nossa propriedade então não tente fugir, lá fora existe uma cerca enorme. Se conseguir passar por ela vai se deparar com uma floresta imensa, morrerá de fome, ou até mesmo pela falta disso — Ele enfiou a mão em um dos bolsos e retirou um pequeno saquinho de plástico.
Dentro havia vários comprimidos.
— O que injetaram em mim?
— Isso não importa, só saiba que sem isso aqui você irá morrer. Faça tudo o que mandamos e toda noite vai ganhar um, do contrario já sabe. Estamos entendidos?

Fiquei alguns segundos em silêncio enquanto era intimidado pelo olhar de Peter, mas não tive outra escolha a não ser dar a resposta que ele queria ouvir.

— Sim.
— O que? Não ouvi direito.
— Sim, estamos entendidos.
— Ótimo, esta vendo como as coisas fluem bem quando entramos em um acordo. Agora vamos ver se entendeu mesmo.
Peter deu alguns passos para trás, encostando na porta e cruzando os braços enquanto dava um sorriso escroto.
— Tire sua roupa, e ganhará um desses — pediu enquando descruzava os braços e balançava o saquinho com os comprimidos.

***

Ethan precisou interromper a história pois estava na hora de deixar o hospital.
— Amanhã eu continuo, espero que fique bem esta noite — Ajeitou o cobertor de Elizabeth e verificou se sua cabeça estava bem acomodada no travesseiro.
Ficou alguns segundos fitando o rosto da jovem enquanto sua mente era tomada por alguns pensamentos sobre acontecimentos que ele ainda não estava pronto para contar a ela.
Colocou a mão no rosto de Elizabeth, deslizou pelas bochechas indo em direção a uma mecha de cabelo que estava em sua testa e a retirou para que aquilo não causasse nenhum incômodo.
— Tchau, Elizabeth.
Andou até a porta e a olhou por mais uma vez antes de fecha-la.
Desceu as escadas e após se trocar saiu do hospital, mas não sem antes se despedir de Margareth.

O céu estava escurecendo, o clima parecia se estabilizar apesar de ainda existir algumas nuvens negras rondando aquela imensidão azul.
Ethan começou a andar pela calçada indo em direção ao ponto de ônibus mas a todo momento se perdia em seus pensamentos.
Havia um segredo que apenas ele sabia, o peso em seu coração estava o matando por dentro e sabia que deveria revelar aquilo a alguém, para Elizabeth. Mas ainda não era a hora, precisava que ela soubesse de algumas outras coisas antes de a revelar o que ele escondia a sete chaves.
Meia hora depois estava em seu bairro, desceu do ônibus e se pôs a caminhar novamente de volta para sua casa. Um vento frio tocava seu rosto, as ruas estavam mais escuras e a movimentação de pessoas por ali era escassa.
Chegou em sua casa e destrancou a porta, dentro da residência, voltou a fechar a porta e sentou-se no chão encostando-se nela.
Lagrimas escorreram por seus olhos quase que no mesmo momento.

Aquela dor não iria passar, ele não merecia que ela parasse. Era como se toda a sua vida fosse destinada ao fracasso e a sofrer, se perguntava quais eram os planos do criador ao colocar alguém como ele no mundo.
Ethan enxugou o rosto usando a longa manga de sua blusa e se assustou quando algo encostou em sua perna direita. Olhou rápido para ver o que era e se aliviou, percebendo que não se passava de um gato preto.
— Como entrou aqui? — perguntou ao felino que o encarava fixamente até soltar um miado e voltar a se esfregar em sua perna. As janelas estavam fechadas então era impossível aquele animal ter entrado depois que Ethan saiu para o trabalho.
— Esta com fome? — O gato logo respondeu com outro miado, Ethan se levantou e foi até a cozinha, revirou tudo mas não encontrou algo que pudesse oferecer ao animal. Se lembrou da caixa de leite que havia visto no mercado pela manha e se arrependeu de não ter comprado.

Voltou a sala e o gato estava parado no mesmo lugar, sentado, logo se levantou ao ver Ethan novamente.
— Você é fêmea — Só agora pode notar o sexo do animal — Vou te chamar de — Ficou alguns segundos pensando em algum nome para aquele novo inquilino, ou melhor, nova inquilina — Você é escura como a noite, uma noite fria e bem assustadora — Disse encarando os pelos negros da gata — Se chamará Nebulosa.
Nebulosa voltou a se esfregar nas pernas de Ethan, talvez tivesse gostado do nome, ou simplesmente estava o lembrando de sua fome.
— Vou ao mercado comprar uma caixa de leite para você, espere ai.
Foi até o quarto e pegou a carteira, colocou no bolso e saiu de casa. Olhou para a casa de Kathy e as luzes estavam acesas, mas não viu nenhuma movimentação no local.
Chegou até o mercado e haviam varias pessoas no estacionamento, andou até o corredor onde ficava o leite e resolveu levar duas caixas. Assim não precisaria comprar outra tão cedo.

— Gosta de leite? — perguntou um menino próximo a ele.
— Não muito — Ethan sorriu — É para a minha gata.
— Qual o nome dela?
— Nebulosa.
— Nome estranho.
— Eu sei.
— Pare de encher a paciência do moço — disse a mae do menino se aproximado com uma sacola e pegando em sua mão — Desculpe o meu filho, sabe como são as crianças né.
— Sei sim, ele não fez nada de errado. O nome é mesmo bem estranho.
Ethan foi até a recepção para pagar pelo leite, um homem adentrou rápido no mercado, este segurava um facão e o apontou para a mulher no caixa.
— Passe tudo que tem ai — Pediu o homem, meio eufórico — E todos vocês também, ou matarei todo mundo — gritou enquanto olhava para os mais presentes no estabelecimento.

As pessoas ficaram com medo e algumas deram passos para trás enquanto a mulher atrás do balcão começava a colocar todo o dinheiro sobre ele, até mesmo alguns de seus pertences.
Ethan andou normalmente e parou perto ao balcão, colocou as caixas de leite sobre ele, ao lado dos pertences da mulher e parecia não ligar muito para aquela situação.
— Você também cara, não esta ouvindo? Quer morrer? — O homem apontou o facão para Ethan, quase tocando o seu rosto.
— Vou levar apenas isso, quanto vai custar ? — perguntou Ethan ignorando o sujeito.
A mulher atrás do balcão ficou sem entender aquela situação, assim como as outras pessoas ao redor.

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora