Ethan saiu as pressas do quarto, desceu rápido os degraus até o primeiro andar e chegou afobado até a recepção, assustando Margareth.
— Ela acordou — disse ele quase gritando enquanto batia as mãos no balcão.
— Do que está falando?
— Elizabeth, ela acordou. Rápido, mande médicos até lá, enfermeiros não sei. Mande o hospital todo.
— Você está zombando da minha cara?
— Eu estou dizendo a verdade, ela está acordada, eu pude sentir.
— Sentir o que? Que papo estranho é esse?
— Você não entenderia, apenas mande agora mesmo. Ela precisa de auxílio médico.
Ethan deu as costas para Margareth e voltou a correr em direção a escada. A recepcionista ficou sem entender nada mas acatou ao pedido do amigo de serviço e providenciou para que um médico comparecesse ao quarto da jovem.
Ethan chegou ao segundo andar e ao passar pela porta do quarto avistou Elizabeth, mas diferente da última vez agora ela permanecia deitada de olhos fechados.
— Não, não, não — ele andou rápido até ela — Elizabeth — a balançou de leve — Elizabeth — tornou a repetir o gesto e nada.
— Onde está a paciente? — perguntou um médico parado na porta do quarto.
— Um paciente, você quis dizer? — perguntou Ethan de cabeça baixa — um bem louco — ele ergueu a cabeça e encarou o médico, por seus olhos escorriam lágrimas.
Horas depois
- E o que houve depois disso? - perguntou Julian, ele estava parado no hall da cozinha enquanto Ethan preparava o jantar.
- Margareth cobriu meu erro, dizendo ao médico que havia sido um engano na papelada, algo assim.
- Tem certeza que a sentiu?
- Sim... era real para mim e isso nunca havia acontecido antes, com nenhuma alucinação.
- O quê isso significa?
- Que em breve serei internado, não é óbvio? - Ethan revirou algumas vasilhas dentro de um dos armários.
- Lógico que não. Anda tomando seus remédios? - Julian adentrou na cozinha sem dificuldades, estava enfim dominando os movimentos precisos de sua prótese.
- Todos os dias. Mas nós dois já sabíamos que esse dia iria chegar. Não tem como parar a doença que se alastra dentro da minha cabeça.
- É isso? É só essas merdas que você tem a dizer?
- Sim - Ethan voltou para perto do fogão e desligou o fogo de uma das panelas.
- Acho que você devia ir ver o seu médico outra vez. Dizer a ele tudo isso, quem sabe ele te receita outro medicamento, um melhor.
- Não, eu não vou ir vê-lo. Não há motivos para isso e não há remédios que possam me ajudar.
- Então pare de ir pro maldito hospital. Tudo isso voltou depois que você começou a se lembrar do passado. Talvez o médico estivesse errado, talvez você deva parar de se lembrar dessas coisas e até mesmo ficar longe de Elizabeth.
- O jantar está pronto, jante comigo hoje.
- Se você não ficar longe de tudo isso, vai começar a se questionar sobre que é real e o que não é.
- Já estou. Você parado ai pode ser alguma projeção do meu cérebro morto.
- Se não liga para o que é real então não precisa mais trabalhar.
- Não estou indo pelo trabalho. Estou indo para salvar uma pessoa.
- Mesmo que isso custe a sua sanidade?
- Exato. Aliás, parabéns. Notei que está aprendendo a andar novamente.
- Não mude de assunto.
- Andou treinando?
- Sim, Kathy estava me ajudando hoje.
- Kathy e você? Juntos? sem causarem una guerra nuclear?
- A gente brigou algumas vezes, ela me derrubou, riu. Mas de resto foi até bem engraçado.
- Você sabe que eu te amo, não sabe?
- Por quê isso agora?
- Bom, a sua perna...
- Isso é passado, Ethan. Eu nem precisava dela mesmo, quem precisa de uma perna? - Julian sorriu.
- Ninguém em sã consciência teria feito aquilo que você fez.
- Bom, então somos dois doentes mentais.
- Você não respondeu ao meu pedido.
- Qual?
- Jante comigo.
- Que ótimo, agora quer me torturar com isso que você chama de comida - Julian abriu os braços em uma ação de protesto.
- É melhor do que a comida da sua mãe.
- Mas não é melhor do que a comida da Kathy - Julian deu uma piscadela enquanto virava-se para voltar até a sala.
- Hein? - Ethan o seguiu até próximo do sofá - não fale merda e saía andando, que história é essa?
- Sabe como é né - Julian se jogou no sofá.
- Vai com calma, não quer perder a outra perna, quer?
- Se eu perder, mando fazer outra prótese.
- Claramente vai ser um robô. Mas para de gracinha, está insinuando coisas falsas.
- Ah me poupe, o que estou insinuando? Fala da Kathy?
- E de quem mais seria?
- Ethan, ela é adulta, eu sou adulto. Sexo - Julian gargalhou enquanto batia palmas.
- Não - Ethan balançou a cabeça negativamente - impossível, IMPOSSIVEL.
- O quê eu posso fazer? Eu tenho uma certa facilidade pra essas coisas. Você não entenderia.
- Ok, vou ir ali - Ethan deu passos em direção a porta, Julian saltou do sofa e se posicionou em sua frente, o impedindo de finalizar seu trajeto.
- Onde pensa que vai?
- Ali - Ethan tentou desviar do amigo mas ele novamente o bloqueou.
- Ali onde?
- Ali Ali.
- Ali nada.
- Vou perguntar pessoalmente a Kathy se vocês transaram.
- Não vai não.
- Sim eu vou, quero saber se suas insinuações são verdadeiras. Me de licença.
- Não precisa perguntar nada.
- Então jante comigo. Se fizer isso eu não pergunto a ela.
- Quando foi que você ficou tão podre?
- Quando conheci você.
- Que ofensivo... faz sentido. Então, vamos ao jantar.
- Ótimo.
Julian passou por Ethan indo em direção a cozinha, brecha suficiente para Ethan correr até a porta com um único objetivo em mente: chegar na casa de Kathy.
- Filho da puta - vossiferou Julian enquanto Ethan abria a porta. Naquele momento um grande conflito se iniciou. Era Julian contra Ethan, aquele que fosse mais rápido venceria a batalha.
Julian aproximou se de Ethan mas tarde demais, o novo inimigo já havia aberto a porta, mas não seria tão fácil assim. Julian se jogou no chão com os braços esticados o suficiente para agarrar as pernas de Ethan, o fazendo perder o equilíbrio e cair.
- Me solta - reclamou Ethan debatendo os pés até se livrar das mãos de Julian. Ele ameaçou levantar mas Julian o agarrou novamente. O obrigando a engatinhar, ficando com metade do corpo para fora da casa.
- Você não vai a lugar nenhum seu merda.
- Está com medo?
- Eu não tenho medo de nada.
- Me solta - Ethan se livrou de vez do amigo, ou pelo menos pensava ter conseguido. Até se dar conta de que estava sendo arrastado novamente para dentro da casa. Julian já estava de pé, o puxando pelas pernas como um carpete sujo.
- Larga - Ethan chutou uma das mãos de Julian, o fazendo largar sua perna direita. Em seguida a esquerda e quando finalmente conseguiu se levantar, deu de cara com Kathy na porta de sua casa.
- Que tipo de putaria gay é essa? - perguntou ela, com cara de espanto.
- O Julian disse que...
- Estávamos fazendo meia nove - Julian o interrompeu - porque? Agora não pode mais? É proibido?
- Vocês são muito estranhos.
- Ser gay não têm nada de estranho, pode dar meia volta com seu preconceito - Julian colocou as mãos na cintura.
- Que? Só se o gay for você - disse Ethan virando se para o amigo.
***
Ethan adentrou no quarto de Elizabeth após conversar com Margareth sobre o acontecimento do dia anterior. Ele começou a varrer o quarto e por todo o tempo não teve coragem de olhar para o rosto da bela jovem sobre a cama. Estava com vergonha e com medo ao mesmo tempo, medo de tudo aquilo ser apenas fruto de sua mente. Após varrer todo o local ele escorou a vassoura na parede e lentamente virou-se para a cama, revelando lentamente todo o cenário já conhecido.
Ela estava lá, de olhos fechados e com algumas mechas de cabelo deitados sobre seu lindo rosto. Ethan andou suavemente até ela, dando a entender que cada passo o tomava um minuto de vida. Ele posicionou seus dedos sobre a bochecha de Elizabeth.
- Oi... eu nem sei se é mesmo você. Se você existe de verdade ou se tudo a minha volta não passa de uma grande ilusão. Talvez eu esteja mesmo em um hospital, mas não como funcionário e sim como um paciente. Ou... eu posso ser o cara que está em coma.
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A Garota Em Coma
RomanceEthan, um ex-soldado que sofre de esquizofrenia começa a trabalhar em um hospital e lá conhece Elizabeth, uma paciente que está em coma e terá seus aparelhos desligados em cinco meses.