— Fui eu. Eu o matei na madrugada daquele dia. Depois que deixei vocês lá eu esperei que saíssem pois queria pegar mais comida. Quando voltei vi que ele ainda estava caído no chão, então peguei uma faca e enviei fundo em seu olho. Eu fui dominada pelo ódio e pelas lembranças das dezenas de abusos que o desgraçado cometeu contra mim.
— Julian disse que me viu saindo da cena do crime. Então como pode ter sido você? — tudo aquilo estava muito confuso para mim.
— Depois de mata-lo eu fui para a dispensa pegar algo, quando voltei te vi parado na porta da cozinha encarando o corpo. Eu te chamei mas você não respondeu, era como se você estivesse dormindo de olhos abertos, depois de alguns segundos você deu as costas e sumiu pelo corredor.
— Então foi você... — disse Julian parado atrás de nós, eu não havia notado que ele estava ali e me perguntava a quanto tempo — naquele dia eu vi o Ethan andando até a cozinha, o segui e quando o encontrei ele passou por mim sem dizer nada.
— Quando o Ethan saiu eu ouvi mais passos e me escondi — explicou Vanda.
— Era eu — continuou Julian — cheguei na porta da cozinha e vi o corpo com a faca no olho. Tudo se encaixa agora. Mas nao sabia que você era sonâmbulo, Ethan. Mudando de assunto, eu concordo com você Vanda, devemos ligar para aquele número e descobrir quem está vendendo a casa. Mas antes preciso que o Ethan me mostre onde fica o rango daqui, eu estou desgraçado de fome.— Como eu disse, um órfão esfomeado — falei enquanto me levantava. Em minha mente eu criava esperanças e decepções em relação ao que Vanda havia dito sobre ligar para o número na placa.
— Sorte que eu não encontrei seus porcos, Ethan.
— A sorte é sua — parei perto a ele — os porcos sumiram e graças a isso você tem onde dormir — continuei andando enquanto Vanda ria.
— Nossa que engraçado, é assim que você agradece o seu herói?
Andei pela casa enquanto era seguido por Vanda e Julian, ambos lado a lado parecendo seguranças. Entrei na cozinha e depois de revirar cada canto cheguei a uma conclusão óbvia.
— Levaram toda a comida — me virei para eles.
— Ah ta de brincadeira — reclamou Julian levando as mãos a cabeça — Ethan você está me matando.
— Eu não tenho culpa, não sabia que não iria encontrar meus pais.
— E agora? — quis saber Vanda.
— Agora morremos de fome — Julian continuou com seu drama.
— Podemos fazer compras — sugeri.
— E vamos pagar como, Ethan? — quis saber Julian — com a bunda?
— Bom — Vanda se inclinou para trás e encarou a bunda de Julian — se depender dessa sua bunda magra vamos morrer de fome mesmo.— Pode mostrar a sua se quiser, tenho alguns biscoitos no meu bolso caso esteja com fome.
— Você não faz o meu tipo.
— É mesmo, acabo de lembrar que você prefere os gordinhos.
— Anta.
— Idiota.
— Calem a boca, estou pensando — ordenei, a falação deles estava me tirando do sério.
— Então pense logo — exigiu Julian. Todos ali estavam sendo afetados de alguma maneira.
— A situação não é tão ruim como parece — disse Vanda vendo o lado positivo das coisas — vocês estão se esquecendo de onde viemos? Tudo é melhor do que aquele orfanato maldito e nosso único problema no momento são os suprimentos.
— E encontrar os pais do Ethan.
— Também.
— Tomará que eles estejam em outra casa, assim o Ethan vai morar com eles e eu fico com está aqui pra mim.
— Ah claro, como se os pais dele fossem idiotas o bastante pra deixar você morando em uma das casas deles de graça.
— Eu posso pagar o aluguel.
— Pagar, isso — falei, atraindo a atenção dos dois — no quarto dos meus pais existe um compartimento secreto onde eles guardavam o dinheiro das vendas. Talvez ainda existe algo lá.
— E por quê diabos eles se mudariam e não levariam o dinheiro? — Julian cruzou os braços.— Eu não disse que eles não levaram, disse que talvez ainda exista algo lá.
— A pergunta não muda, por quê eles não levariam tudo?
— Podem ter deixado um pouco para o Ethan caso ele retornasse pela força de algum milagre — explicou Vanda em meu lugar.
— Exato — confirmei suas palavras.
— Então vá ver logo, espero que tenha dinheiro suficiente para comprar uma vaca bem gorda e algumas madeiras para o churrasco.
— Falando em vaca, você conhece sua mãe? — Vanda virou se para Julian.
Enquanto eles iniciavam uma nova discussão causada pela última pergunta de Vanda, eu saía da cozinha e ia em direção a escada. Já no segundo andar corri até o quarto dos meus pais e estar naquela comodo me trazia sentimentos ruins em meio a lembranças das vezes em que havia estado ali com eles. Andei lentamente pelo quarto escuro e abri a única janela que havia no local, fazendo com que o brilho do sol iluminadas cada canto. A cama estava arrumada, o chão varrido mas os demais móveis se encontravam da mesma maneira que os outros do andar de baixo: empoeirados.Voltei até a porta do quarto e me ajoelhei, o compartimento secreto ficava bem na entrada. Foi uma das ideias geniais de minha mãe, ela dizia que ninguém encontraria se o colocasse em um lugar óbvio demais. Olhei de um lado para o outro e em seguida me foquei em uma das tábuas falsas, a forcei para baixo e depois a empurrei para frente à encaixando em baixo do piso. Dentro do compartimento havia duas sacolas pretas e quando as retirei dali fiquei chocado ao ver que todo o dinheiro dos meus pais ainda estavam guardados naquele lugar.
***
— Não importava mais o que dissessem em relação aos meus pais — disse Ethan a Elizabeth — aquele dinheiro todo, toda a economia de anos ainda estava guardada lá. Era óbvio para mim, meus pais estavam mortos. Eles nunca deixariam tanto dinheiro para trás...
***
— Porra — os olhos de Julian brilhavam enquanto ele revirava as sacolas no chão da sala.
— Vou ao banheiro, não fujam com o dinheiro — falei enquanto me distanciava deles. Virei para o corredor que ficava ao lado da escada e adentrei na última porta deste mesmo local. Me tranquei lá dentro e de joelhos comecei a dar socos contra o chão.
Cada golpe para cada dia preso no maldito orfanato, cada golpe para cada membro da minha família, cada golpe para cada facada contra o corpo de Cassandra.
Minutos depois voltei a sala e Julian parecia contar o dinheiro, sentado no sofá ao lado de Vanda.
— Ethan, você nunca me disse que seus pais eram ricos — Falou Julian balançando um dos maços.
— Olhe em volta, é uma casa simples, uma fazenda pequena. Meus pais apenas souberam economizar e guardar caso precisassem de última hora. Agora volte o dinheiro para as sacolas, temos muito o que fazer.
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A Garota Em Coma
RomanceEthan, um ex-soldado que sofre de esquizofrenia começa a trabalhar em um hospital e lá conhece Elizabeth, uma paciente que está em coma e terá seus aparelhos desligados em cinco meses.