Capitulo 29

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— O orfanato... Lugar maldito.
— Concordo. Está contando isso para  ela também?
— Estou...
— Contando o que? — quis saber Kathy.
— Toda a história dramática minha e do Ethan desde o dia em que nos conhecemos. Vou resumir pra você, o médico particular do Ethan disse que ele precisa se abrir mais em relação aos seus problemas internos envolvendo o passado pois isso pode diminuir as perturbações de sua doença. Então ele está contando toda a história para Elizabeth, acho que ele não confia em psicólogos.
— Justo, eu também não confio. Mas estou curiosa em relação a historia de vocês.
— Bom, vejamos — começou Julian — eu morava em um orfanato clandestino quando conheci o Ethan. Lá eles forçavam os meninos a trabalhar com drogas e as meninas a se prostituirem.
— Que coisa horrível..
— Horrível foi para os donos do lugar, isso sim. Nós demos um jeito neles, não é mesmo Ethan?
— Um dia que nunca esqueceremos — Ethan ajeitou o travesseiro de Elizabeth.
— Temos muitos dias assim.
— Muitos dizem que devemos esquecer o passado, mas eu digo que devemos nôs lembrar pois somos o reflexo do que um dia vivemos.
— Caramba — disse Julian olhando em todas as direções procurando algo — uma caneta e papel, por favor! Preciso anotar essas sabias palavras.
— Bom, agora que já conhecem ela podemos ir embora — disse Ethan virando-se para seus amigos.

— Calma ae — Kathy o encarou — por que a pressa? Ainda não planejamos como vamos encontrar o Nolan.
— Pensarei nisso depois, já envolvi vocês demais nisso.
— Três cabeças pensam melhor que uma — ela insistiu.
— Três? — perguntou Julian —vejamos, eu, Ethan. Eu, Ethan. Ue, você disse mesmo três?
— Que engraçadinho você.
—  Obrigado — Julian deu um enorme sorriso sarcástico.
— Vamos — disse Ethan enquanto andava até a porta aberta do quarto sem dizer mais nenhuma palavra.
— Temos que ajudar ele — disse Julian olhando para Kathy — esse idiota é o idiota que mais amo nesse mundo.
— Isso, não importa se ele quer a nossa ajuda ou não. Vamos ajuda-lo a encontrar esse cara, só precisamos pensar mais.
— Certo.
Ambos deixaram o quarto e ao saírem no corredor avistaram Ethan descendo a escada que levava ao primeiro andar.
— Nos espere — pediu Kathy se apressando.
— E mais uma vez deixaram o deficiente para trás — reclamou Julian tentando acompanhar os amigos.

Já no primeiro andar, Ethan se despediu de Margareth antes de deixar o local. Do lado de fora foi abordado por Kathy enquanto andava em direção ao veiculo.
— Onde pensa que vai? — ela o segurou pelo braço.
— Bom, para o seu carro?
— Nada disso, vamos fazer algo antes de irmos embora.
— Ninguém vai me deixar pra trás quando minha prótese chegar — disse Julian aproximando-se.
— Fazer o que? — quis saber Ethan.
— Super trilha — respondeu Kathy apontando para as montanhas atrás do hospital.
— Eu apoio — disse Julian — e no caso não seria trilha e sim escalada.
— Tem uma floresta antes das montanhas, então é trilha, idiota — Kathy retrucou.
— A mata é pequena, idiota. Depois dela tem um caminho que leva ao penhasco entre as montanhas. Quero levar vocês lá e não se preocupem, não vamos precisar escalar.
— Perfeito — comemorou Kathy.
— Estão mesmo falando serio? — perguntou Ethan suspirando.
— Claro, e você vai vir junto — respondeu Kathy — não seja um pé no saco.
— Bom, não tenho como recusar, estão fazendo muito por mim.
— Eu já ia dizer isso — comentou Julian.
— Então vamos logo — pediu Kathy começando a andar.

Minutos depois encontravam se numa trilha de terra entre algumas arvores, galhos secos e folhas espalhadas por todos os cantos. Aquilo fazia Ethan se lembrar da zona rural onde havia vivido na infância, sentia falta do cheiro da terra molhada em dias de chuva.

— Que ódio — reclamou Kathy tentando matar alguns insetos que voavam de um lado para o outro.
— Você não queria vir aqui? Agora aguente — disse Ethan fitando as costas da amiga que o encarou por cima dos ombros.
— Se falar mais alguma coisa vou esmagar você — reclamou ela e após isso acabou esbarrando em Julian que havia parado de andar.
— Ei,ei,ei — disse ele quase caindo — eu sei que sou gostoso mas não precisa se jogar assim em mim.
— Porque parou do nada, idiota? — perguntou ela se recompondo.
— Estou tentando me lembrar de uma coisa — respondeu ele enquanto fitava a divisão de caminhos a sua frente. O caminho da direita continuava a ser de terra, já o da esquerda era feito de pequenas pedras amontoadas.
— Ah pronto, você disse que já tinha vindo aqui antes.
— Silêncio, seu rei está pensando.
— Meu o qu...
— Esquerda — disse ele a interrompendo de proposito — vamos escoteiros.
Ambos o seguiram e quinze minutos depois chegaram ao ponto mais alto do caminho. Este levava a um penhasco entre duas montanhas e dali era possível ver as cidades vizinhas.

— Que lugar lindo — disse Kathy se colocando a frente de Julian e Ethan.
— Cuidado, você não vai querer cair dai — alertou Julian a acompanhando.
— Só quero ver... um pouquinho — disse ela aproximando-se da beirada e olhando para baixo. Pode ver um enorme rio repleto de rochas — um trágico fim aguarda aquele que cair daqui.
— Sim — Julian ficou ao seu lado — mas não é isso que eu queria mostrar. É todo o resto, vejam que bela vista, a noite é mais lindo ainda.

Ethan ficou alguns passos atrás dos amigos, possuía um certo medo de altura e aquele penhasco por mais bonito que fosse, ainda era perigoso demais.

— Ethan, vem ver — chamou Kathy.
— Estou bem aqui, obrigado.
— Não vai me dizer que tem medo de altura?
— Prefiro não comentar. Aproveitem a vista e vamos logo embora daqui.
— Medroso — Julian zombou e em seguida voltou a analisar a vasta vista.
— Bonito, não é mesmo Ethan? — perguntou uma voz feminina vinda de trás dele. Ele se virou mas não havia ninguém ali, ao se voltar para frente se deparou com Elizabeth o olhando.
— Não é real — sussurrou para sí mesmo enquanto fechava e abria os olhos repetidas vezes na intenção de faze-la desaparecer.
— Não sou real? — ela aproximou se dele — e o que é real? Isso é real? Seus amigos são reais? Este penhasco é real?
— Não é real — voltou a sussurrar.
— Você só saberá o que é real se fizer o teste, vamos lá, pule desse penhasco. Quer ficar comigo, não é mesmo? Só ficaremos juntos se você pular, vamos Ethan. Está na hora de acabar com isso, com toda a dor e com toda a insegurança. Pule!
— Saía da minha cabeça...
— Você não quer isso.  Contou a eles, Ethan? Não, você não contou. Eles estão te ajudando em tudo isso e você nem ao menos contou seu segredinho podre a eles? Que feio.
— Eu vou contar...
— Não, sabe que não vai.
— Vou...
— Agora pule, pule, pule. — Elizabeth o abraçou — está na hora de morrer.

— Julian — chamou Ethan.
— O que? — Julian se virou para ele e logo notou que o amigo estava estranho, Ethan balançava um pouco a mão direita enquanto seus olhos estavam vidrados no nada.
— Ei,ei,ei — disse Julian indo rápido até ele, em seguida o abraçou — não é real, você sabe que não é.
— Eu estou vendo ela... estou escutando ela.
— Se foque apenas em mim, ok? Eu sou real, a Kathy é real. Bom, pelo menos eu acho. Já percebeu  como ela tem um bumbum surreal? — aquilo fez Ethan rir.
— Você só pensa nisso?
— Será o nosso segredinho.
— O quê estão fazendo? — perguntou Kathy observando a cena.
— Não está vendo? Estamos namorando, achamos que este lugar favorece ao nosso romance — respondeu Julian.
— Não tem romance nenhum — reclamou Ethan.
— Tem sim, eu e você. Um caso proibido de amigos gays — Julian continuou, na intenção de deixar seu amigo com vergonha.
— Não tem gay não.
— Tem sim.
— Kathy, ele estava falando do seu... — Julian tapou a boca de Ethan.
— É, pelo visto voltou ao normal. Não é mesmo pequeno neandertal fofoqueiro?

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora