Capitulo 40

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Minutos depois chegamos no destino desejado, o grande pasto verde portador da grande árvore que  meu pai alegava ficar no centro do mundo. Dali podíamos ver grande parte de toda a redondeza e quando me foquei na pequena fazenda onde morava percebi rápido que algo estava fora do normal. As pressas comecei a correr em sua direção deixando os demais sem entender nada.
Continuei ignorando os gritos de Julian e parei próximo a porta de minha casa, perto a ela havia uma placa torta escrito "Vende-se" e mais a baixo um número de telefone que eu desconhecia.
— Mãe! Pai! — girei a maçaneta e a porta não estava trancada.
— Ethan — disse Julian enfim chegando até mim — acho que não têm ninguém aí não — comentou ele após passar pela placa.
— Claro que tem, meu pai sempre tranca a porta antes de sair e como  pode ver ela estava destrancada — fitei todo o cenário a minha frente mas tudo estava escuro devido ao fato das janelas estarem fechadas.
Andei pela sala abrindo uma por uma e todos os nossos móveis estavam empoeirados e com teias de aranha.
— Parece que seus pais não limpam a casa a um bom tempo — disse Vanda adentrando no local.
— Mãe — chamei enquanto subia os degraus de madeira indo em direção ao segundo andar. Fui até o quarto dos meus pais más eles não estavam lá. Fiz todo o percurso por toda a casa e nada, nem mesmo os porcos que ficavam nos fundos da casa eu encontrei.

***

— Foi como sair de um buraco e entrar em outro — comentou Ethan fitando o horizonte pela janela do quarto — Não havia ninguém lá, sem pais, irmãos ou animais. O mistério que eu esperava resolver apenas se expandiu mais. Só o que eu pude fazer foi sentar próximo ao pequeno chiqueiro dos porcos e chorar, aos poucos eu ia sendo consumido pelo desespero e pelos fatos unindo-se na minha cabeça. O tiro que eu levei, acordar em um orfanato, a placa anunciando a venda e a casa completamente vazia.

***

— Ethan — Julian colocou a mão em meu ombro — por que diabos está aqui chorando?
— Eles estão mortos...
— Quem? Seus pais? Não seja um babaca, só porque não estão aqui não significa que estejam mortos.
— Qualquer idiota perceberia isso, até mesmo uma criança como eu. Sabe por que eu fui parar naquele maldito orfanato? Foi um tiro, a droga de um tiro. Quem atirou em mim deve ter matado os meus pais... por isso eles não foram me procurar.
Me sentei no chão e fiz o que qualquer criança faria, continuei chorando intensamente enquanto Julian apenas dava as costas e voltava para dentro da casa. Ele sabia que eu estava certo e que precisava ficar sozinho. Eu não era mais tão ingênuo como antes, agora sabia um pouco mais da realidade sangrenta do mundo. Meia hora se passou desde que me deixei engolir pelo desespero, mas agora eu não estava mais chorando, apenas olhando fixamente para as tábuas do chiqueiro.

Meus pensamentos estavam todos aéreos, em alguns momentos eu me recordava de cada vez que havia estado ali com meu pai. Ele vivia dizendo que os porcos que desapareciam iam embora para suas famílias. Uma mentira boba para não me deixar triste com a verdade de que ele os matava para vender na cidade. Mas agora não importava mais, nada importava.
— Ethan — Vanda aproximou-se e sentou-se ao meu lado — Julian me contou o que você disse pra ele e eu tenho que discordar. Você não pode achar que seus pais estão mortos só pelo fato de não estarem aqui.
— Isso não importa. Eles não estão.
— A placa de venda pode ter sido colocado lá por eles, sabia?
— E por que venderiam este lugar? Eles amavam tudo aqui, por quê não iriam atrás de mim?
— Talvez tenham ido, procurado, mas como não  encontraram decidiram partir.
— Não. Não faria sentido algum. Eu levei um tiro e o único motivo por não estar com meus pais é porque quem atirou em mim também atirou neles.
— Pode ter sido uma bala perdida.
— E porque eu acordaria em um orfanato? De certo acordaria em um hospital com meus pais lá.
— Não sei o que dizer, isso o que você disse faz mais sentido.
– É... — comecei a desenhar no chão e por algum tempo tudo ficou silencioso. Até que Vanda quebrou o silêncio.
— Acabei de pensar em algo — disse ela agitada.
— O quê?

— Escute bem, você pode ter sido atingido por uma bala perdida, após isso foi levado as pressas para o hospital e nesse meio caminho os homens da Cassandra te sequestraram e te levaram para o orfanato. Isso justifica ela conseguir  tantas crianças, pode ter homens infiltrados em hospitais, entre outros lugares.
— Ou eu estou certo e estão todos mortos.
— É uma possibilidade, mas agora existem mais de uma então pare de agir como uma criancinha e aja como um homem a procura dos pais.
— Eu sou uma criança, e mesmo se eu tivesse sido sequestrado, os meus pais não me procuraram e se procuraram foi de uma maneira bem desleixada.
— Você não sabe. Podem até ter ido a policia mas você sabe bem quem controla a justiça por aqui, ou melhor, o que controla.
— Hmm.
— É só isso? Não está nem aí?
— Não. Como eu disse antes, eles estão mortos. O mundo é assim — meus pensamentos estavam tão vazios que eu nem me importava mais. Estava me adaptando rápido a nova realidade que havia descoberto.
— Não vai fazer mais nada?
— Não tem o que fazer. Não se importam comigo, vocês queriam uma casa, não é? Ela está aí, aproveitem.

Por mais uma vez o silêncio predominou e por mais uma vez Vanda fez questão de quebra-lo.

— A casa, é isso. A casa é a sua resposta.
— Do que está falando?
— A casa está a venda, só precisamos ligar para a pessoa que está vendendo e encontraremos os seus pais, caso eles estejam vivos.
— Cassandra pode ter colocado a cada a venda, ou o Peter.
— Ou foram os seus pais, então você reencontra eles e tudo acaba bem, como planejado.
— Cassandra, eu a matei, sabia disso? Sou um assassino. Que pais aceitariam um assassino?
— Julian mencionou algo do tipo, mas ela mereceu. Ela te torturou, torturou todos nós. Você fez um favor para o mundo.
— Ela estava machucada e fraca, sem condições nenhuma de se defender.
— Idai?
— Idai que eu me tornei pior que ela no exato momento em que a matei. Assim como aquele outro homem na cozinha, naquele dia em que nos conhecemos.
— Você não se lembra, certo?
— Não, mas o Julian afirma que fui eu.
— Não precisa carregar o fardo de tê-lo matado, porque não foi você.
— Então foi quem?

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora