Capitulo 4

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***

— A princípio eu pensei que aquele homem que se parecia um médico fosse uma boa pessoa — Ethan decidiu fechar um lado da janela pois estava começando a ventar, varias nuvens negras tinham tomado conta do céu.
Ele certificou-se de arrumar os lençóis para que ela não sentisse frio, em seguida tocou seu rosto para ver se estava quente.
— Pra que isso? — perguntou Margareth chegando no local mais uma vez.
— Para checar a temperatura do corpo dela.
— Agora você também é medico?
— Ficaria surpresa com as coisas que sei fazer, sou um pouco de tudo.
— Lá vem você com esse papo de exército.
— Quem sabe.
— Estamos dispensando os poucos funcionários devido ao clima, parece que vai chover muito, então você pode ir embora.
— Margareth.
— O que?
— Eu pago — Ethan fitou Elizabeth.
— O que você paga?
— O tratamento dela, eu pago o que for necessário.
— Por que isso? Nem a conhece.
— Não tem como te explicar, apenas não quero que ela morra.
— Quem sabe nem morra, ela ainda tem esses meses para acordar.

— Eu não ligo, apenas quero pagar.
— Você não pode pagar, Ethan.
— E por que não?
— Você tem alguma conta recheada no banco por acaso? Por que com o salario que pagam aqui você não pagaria nem os seus próprios custos caso fosse internado.
— Eu posso tentar.
— Ethan — Margareth ficou com o semblante mais sério — Os papeis já foram assinados, não tem volta e mesmo se recorresse ao ministério isso iria demorar mais tempo do que ela tem de vida. Eu não quero ser grossa, afinal somos amigos, mas apenas faça o seu trabalho. Estou nisso a muito tempo e sei como dói ver as pessoas partindo, mas essa é a vida. Agora faça o que eu te pedi e aceite o meu conselho.

Ethan passou por Margareth de cabeça baixa e foi em direção as escadas, trocou de roupa e saiu para fora daquele lugar. Olhou para o céu e ele estava mais nublado do que quando havia visto minutos antes.
Estava começando a ventar, então seguiu para o ponto de ônibus e embarcou. Ficou a viagem toda perdido em seus pensamentos, pensamentos que giravam em torno daquela paciente deitada sobre a cama.
Após aproximar-se de sua casa notou que a porta estava entre aberta. Ficou atento a qualquer ameaça, lembrava-se bem de a ter trancado tudo antes de sair.
Entrou lentamente mas logo foi surpreendido pela figura de um homem mais alto, parado na sala. Este segurava uma muleta pois não possuía uma de suas pernas.

— Você chegou mais cedo — disse o sujeito sentando-se no sofá.
— Julian, o que faz aqui e como entrou?
— Você não trancou direito então foi fácil, eu precisava sair um pouco então vim pra cá.
— Cuide da casa por mais alguns minutos, preciso fazer uma coisa — Ethan foi em direção ao quarto e quando voltou estava segurando uma sacola azul.
— O que tem ai?
— Nada muito importante, eu vou voltar logo.
— Ok então, tem bebida?
— Na geladeira.
— Pensei que não bebia.
— E não bebo.
— Então por que tem?
— Por que você bebe, e passa mais tempo por aqui do que em casa, então decidi deixar ai pra você. Espere ai — Ethan saiu apressado e sabia exatamente onde ir.

Vários minutos depois estava descendo do ônibus e indo em direção ao hospital, pegou um caminho diferente pois não queria que nenhum funcionário o visse, principalmente Margareth.
Foi para a direita do hospital e passou perto a uma grande janela, fitou rápido todo o corredor e em seguida voltou até ela. Entrou e subiu rápido algumas escadas indo em direção ao segundo andar, mas acabou se esbarrando em um funcionário que também trabalhava na limpeza do hospital.

— Desculpe.
— Onde está indo? Todos estão deixando este local.
— Esqueci algumas coisas e voltei para buscar, tenha uma boa tarde — Voltou a subir rápido antes que mais alguem o notasse ali.
Chegou no corredor desejado e adentrou no quarto de Elizabeth, em seguida fechou a porta. Foi em direção as janela e se certificou de que estivesse bem fechada para não entrar aquele vento gelado.
Depois disso abriu a sacola que tinha em mãos e retirou um cobertor escuro bem felpudo.
— Trouxe isto para você, este ai é muito fino e a noite promete ser bem fria, não quero que pegue uma doença, afinal esta cama fica muito perto da janela - ele a cobriu e por alguns segundos ficou lhe olhando, parecia que ela abriria os olhos a qualquer momento — você vai ficar bem, sei que vai.

Ethan ficou alguns segundos com os olhos vidrados no rosto de Elizabeth, tinha a impressão de que a qualquer momento ela se levantaria dali, tinha tanta coisa para lhe contar. Mas era apenas impressão, ela continuava dormindo e nem se quer se mexeu.
Após checar mais uma vez se tudo estava nos conformes para que ela não sentisse frio, Ethan saiu rápido do quarto e fez o mesmo percurso para sair do hospital sem ser visto por ninguém.
Estava ansioso para chegar o dia seguinte, assim poderia voltar a olhar para o rosto pálido de Elizabeth. Mesmo estando naquele estado, sua beleza continuava inabalável.
Voltou para sua casa e Julian ainda estava lá, a sua espera, sentado no sofá pensando em algo.
— No que está pensando? Problemas com a Amélia? — Perguntou Ethan sentando-se no sofá.
— Nós terminamos...

— Isso não é novidade, vocês sempre terminam e depois voltam.
— Não dessa vez, ela está com outro cara, um riquinho do caralho.
— Sinto muito, eu não sabia.
— Eu fui na casa dela para tentar reatar e a vi aos beijos com um idiota, em seguida entraram em um carro. Um puta carro que compraria nossas casas juntas. Depois que vi isso o único lugar que eu pensei em ir foi para cá, para perto de você. O irmão que eu nunca tive.
— Isso foi gay.
— Isso foi sincero.
— Eu sei — Ethan colocou sua mão sobre o ombro de Julian — Sei que sou um amigo problemático, mas sempre estarei aqui quando precisar, para unir nossas desgraças e gritar juntos ao mundo um grande grito de "Fodas"

Aquilo fez Julian rir.

— Mas e você? Agora vai ter que me dizer o que tinha naquela sacola e onde você foi.
— Voltei ao hospital
— Por que?
— Tem uma garota... — Antes que pudesse prosseguir foi interrompido por Julian.
— Agora entendi, está lá apenas a uma semana e já está de namoro, você é rápido.
— Você entendeu errado.
— Entao não pediu ela em namoro? Você sai nesse clima chuvoso, percorre toda essa distância até o hospital levando não sei o que em uma sacola e são apenas amigos?
— Era um cobertor, não queria que ela sentisse frio.
— Ela é bonita?
— Muito — Os olhos de Ethan brilharam.

— E você está interessado?
— Não... claro que não... eu não poderia, nem deveria.
— E por que não? Ela tem namorado.
— Tinha, há alguns meses. Ele a abandonou.
— Então, ela deve estar lá apenas a espera de alguém para cuidar dessa ferida.
— Impossível...
— Por que?
— Ela nem sabe que foi abandonada pelo namorado.
— Como não sabe, essa sua história está muito estranha.
— Não, ela não sabe pelo simples fato de estar em coma.
— Coma?
— Sim.
— Não sei o que dizer.
— Ela terá os aparelhos desligados em cinco meses, foi deixada lá para morrer e nem se quer sabe disso. Ela não merecia.

Ethan levantou-se do sofá.

— E se ela acordar?
— Não sei se existe essa possibilidade, lembra do que eu te falei sobre meu médico?
— Qual parte?
— A que eu precisava conversar mais, falar sobre minha doença e sobre meu passado.
— Lembro.
— Estou me abrindo com ela, a garota em coma, não conseguiria me abrir para outra pessoa, que não fosse você é claro, mas você já sabe toda a minha história.
— Ótimo, isso pode ser uma boa terapia para os dois.
— Não vai rir? Ou me achar um idiota por fazer isso? Conversar com uma garota em coma.

— Não, eu não vou.
— Por que?
— Porque você é meu amigo, e os amigos se apóiam sem se julgar.
— Obrigado.
— Qual o nome dela?
— Elizabeth, Elizabeth Watson.
— Nome de burguesa.
— Eu sei — Ambos riram — mas ela não tem nada de burguesa, é simples, humilde e já passou por muitas coisa. Sinto isso toda vez que olho para aquele rosto perfeito.

— Cinco meses, certo?
— Sim.
— E se ela acordar?
— O que tem?
— Chamaria ela para sair?
— Claro que não.
— Por que? Está na cara que se interessou. O que é muito raro.
— O que eu poderia oferecer a uma garota como ela? Sou apenas um ex-soldado que vê e escuta coisas que não existem. Um doente, não poderia oferecer nada a ela.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Faça.
— Voce chegou na sua casa e voltou rápido ao hospital levando um cobertor para que ela não sentisse frio, pois se preocupou a ponto de não pensar duas vezes, certo?
— Sim.
— Então você tem tudo a oferecer. Continue fazendo o que está fazendo, e Ethan.
— O que?
— Vamos acordar ela, por você e para você — Julian sorriu passando confiança ao seu amigo.

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora