Capitulo 30

4.3K 437 48
                                    

Meia hora depois

- Essa é a minha deixa - disse Ethan enquanto Kathy parava o carro próximo a sua casa.
- O que vai fazer agora? - perguntou Julian.
- Alimentar minha gata, limpar as coisas e descansar para voltar ao trabalho amanhã. A tarde ainda está começando mas é como se o meu corpo estivesse passado por três guerras.
- Exagerado.
- Vejo vocês por ai - terminou Ethan enquanto abria a porta do veículo.
- E você? - perguntou Kathy encarando Julian.
- Eu o que?
- Não vai descer também?
- Claro que não, minha casa não é aqui.
- E o que te impede de sair e ir andando?
- O seu carro me impede. Vamos logo, me leve até minha casa estou ficando entediado.

- É serio isso?
- Caiem a boca vocês dois - disse Ethan os olhando pela janela do veículo - vão acabar se matando desse jeito.
- Sua amiga não quer me levar até a minha casa. Vou processa-la pois tenho meus direitos de deficiente.
- Não faça drama, e você não é um deficiente normal.
- Ethan seu imbecil, não existe isso de deficiente normal. Deficiente é deficiente.
- Não. Não você. Em breve vai chegar a sua prótese tecnológica, não se lembra? Agora você é um deficiente futurista, está além do nosso tempo.
- O seu filho da puta - Julian tentou agarrar Ethan, mas este deu alguns passos para trás enquanto ria.
- Se cuidem - pediu ele dando as costas e andando até a porta fechada de sua casa.
- Bom - Kathy suspirou - vejo que não tenho outra escolha a não ser te levar.
- Não seja dramática, eu moro logo ali.
- Que seja - ela deu partida no veiculo. O bairro estava calmo e silencioso, nada de muito diferente dos outros dias da semana.
- Então - Julian pulou para o banco dianteiro - como conheceu o Ethan?

- Nem comece, não iremos dialogar.
- E porque não? Temos assuntos em comum então devemos conversar mais, se conhecer mais.
- Não vai rolar.
- Como você é irritante.
- Penso o que? Que iriamos ficar sozinhos e nos tornar melhores amigos?
- Mais ou menos isso. Eu sou bom em convencer as pessoas a socializarem comigo.
- Insistindo até elas cederem?
- Exato.
- Essas coisas não funcionam comigo.
- Veremos.
- É, veremos.

Julian ficou olhando para Kathy durante alguns segundos, claramente era uma das mulheres mais lindas que havia visto em toda a sua vida.

- Perdeu algo? - perguntou ela percebendo a fixação dele em seu rosto.
- Perder? - ele riu enquanto voltava sua atenção para frente - Eu acabei de achar.

Ethan enchia uma vasilha com leite para Nebulosa que não parava de se esfregar em suas pernas enquanto ronronava.

- Isso é saudade ou fome? - perguntou ele enquanto a observava beber - espero que Kathy e Julian não tenham se matado ou algo assim.

Ethan voltou até a cozinha e guardou a caixa de leite na geladeira, em seguida revirou o armário a procura de alguma coisa que pudesse comer sem precisar preparar.

- Você devia comprar mais biscoitos - disse a mesma voz feminina de sempre. Ethan se focou na direção da voz e lá estava Elizabeth, parada na entrada da cozinha.
- Inferno - reclamou Ethan enquanto passava por ela indo em direção a sala.
- O que eu fiz? - perguntou ela o seguindo.
- Nada, você não passa de uma ilusão criada pela minha cabeça ferrada - respondeu ele virando para um dos corredores e indo em direção ao seu quarto.
- Mas e se tudo for uma ilusão? E se você estiver em coma e não eu? - ela continuou seguindo ele.
- Ah claro - ele adentrou no quarto e andou rápido em direção a uma das gavetas a procura dos seus remédios.
- Converse comigo, Ethan.
- Quer me convencer a pular de um penhasco novamente? - ele revirou todos os itens da gaveta até encontrar sua cartela de cumpridos.

- Você não precisa tomar se não quiser, assim podemos conversar o dia todo. Não é isso que você quer?
- Não - ele passou por ela novamente e voltou a cozinha para pegar água.
- Ethan, eu sou o mais próximo daquilo que você tanto deseja - ela insistiu - fique comigo, aliás é só comigo que você poderá ficar. Se a outra morrer, você a perde, se ela acordar, você a perde do mesmo jeito.
- Isso não é sobre conseguir a droga da garota - disse ele em um tom mais alto enquanto virava-se para Elizabeth.
- Ambos sabemos o que você pensa quando olha para o meu lindo rosto adormecido - ela sorriu sarcasticamente.
- Cale a boca.
- No fundo você me olha e por alguns segundos se deixa pensar que sou realmente ela. E de fato eu sou, então você pode desistir se tudo e simplesmente ficar comigo, me aceitar. Por favor Ethan, me dê o seu amor. Precisamos ficar juntos e para isso acontecer você só precisa desistir e morrer. Se deixe ser feliz pelo menos uma vez, depois de tudo que passou essa é o final mais feliz que você pode ter.

Ethan virou-se para o armário e ficou alguns segundos fitando os copos, pensando naquelas palavras e sendo tomado pelo desejo de as tornar realidade. Levou a mão até um dos copos de vidro e pegou uma garrafa de água dentro da geladeira.

- Quer mesmo fazer isso? - Perguntou Elizabeth se colocando a frente dele.
- Suma da minha cabeça - ele olhou fundo nos olhos dela, mesmo sabendo que não era ela, aquilo tudo parecia muito real.
- Você não pode fugir de mim e muito mens da verdade. É um fracassado e vai morrer assim, sozinho, sem ninguém. Nunca será amado e nunca ficará com a garota.

Ethan colocou o cumprindo na boca e em seguida tomou um gole da água. Após isso saiu da cozinha e foi para a sala se sentar no sofá. Jogou o corpo para trás e começou a fitar o teto sem vida. No fundo todas aquelas palavras ditas pela alucinação não passavam de verdades que ele cultivava dentro de sí mesmo. A felicidade da morte lhe cairia melhor do que a tristeza de uma realidade inalcançável.
Se assustou quando Nebulosa deu um pulo sem prévio aviso em seu colo.

- Não me assuste assim - pediu ele enquanto acariciava os pelos negros da felina que em resposta deu um miado.

Ethan ficou no sofá por alguns bons minutos apenas refletindo e pensando em uma maneira de encontrar Nolan e convence-lo a ajuda-los a salvar a vida de Elizabeth.
Quando decidiu se levantar para alongar as pernas se viu no mesmo penhasco onde estava horas antes, olhou assustado para todas as direções e atrás dele pode ver Julian, Kathy e Elizabeth. Todos os três sentados em cadeiras pretas segurando sacos de pipoca.

- Não vai pular? - perguntou Julian.
- Deve estar esperando algum tipo de sinal - Kathy riu.
- O sinal que ele quer está bem aqui - Elizabeth deu continuidade aos comentários.

Ethan se voltou para frente e por mais que tentasse não conseguia se afastar de beirada do penhasco. Era como se estivesse paralisado, se inclinou para frente e no fim daquela queda não havia mais um rio e sim uma enorme escuridão sem fim. No centro dela surgiu duas luzes paralelas idênticas ao farol de um veiculo e estas começaram a piscar sem parar.
Ethan despertou assustado, ainda estava no sofá e Nebulosa dormia em seu colo. Olhou para todas as direções e a casa estava completamente escura devido a chegada da noite. Ele colocou a felina sobre o sofá e andou por toda a residência acendendo as luzes, após isso foi para a cozinha preparar algo para o jantar.

Dia seguinte...

Ethan foi despertado pelo despertador e ao tentar se levantar quase esmagou Nebulosa que dormia ao seu lado. Por sorte conseguiu fazer uma manobra inexistente até o momento para poder sair da cama sem machucar o animal que continuava a dormir sem se importar com nada.
Após tomar banho, Ethan se arrumou e como de costume ficou alguns minutos olhando-se frente ao pequeno espelho de seu quarto. Estava ansioso para ver Elizabeth, ainda havia muita coisa que ele queria lhe contar sobre o seu passado. Quando enfim deu a hora de sair, ele encheu a vasilha de Nebulosa para que ela não sentisse fome e deixou a casa indo rumo ao ponto de ônibus.
O céu estava mais escuro que o de costume, mas isso se dava ao fato dele estar tomado por nuvens negras indicando uma grande chuva que ocorreria em algum período do dia. Ethan passou por um pequeno grupo de pessoas que conversavam algo sobre o clima e como ele estava estranho, hora fazia sol e hora começava a chover repentinamente.

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora