Capitulo 18

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Sua mente se perdia em pensamentos, todos voltados para as palavras ditas por Margareth em relação ao desligamento dos aparelhos de Elizabeth. Ele retirou um pedaço de papel do bolso e o desdobrou, olhando pela quarta vez a localização da casa onde morava a avó da bela garota em coma, estava decidido a salva-la de ter um fim tão triste como aquele, perder a vida por escolha de outras pessoas.
Quando o ônibus enfim parou em seu ponto, ele desceu e olhou para o céu, de certa forma aquilo o trouxe uma pequena sensação de confiança e positividade.
Andou pelas calçadas, fitando as casas, principalmente as que estavam com as luzes acesas, ficava imaginando o que as pessoas estariam fazendo lá dentro.
Talvez estivessem reunidas conversando algo em família, coisa que ele não fazia desde sua infância, quando foi bruscamente arrancado de seus pais e irmãos.
Andou até a sua residência e destrancou a porta, todas as luzes estavam apagadas e isso significava que Julian não estava ali dessa vez. Passou  mão pelo interruptor, fazendo a luz se dispersar pela sala, revelando todo o cenário.

Nebulosa, ao ver que seu dono atual havia chegado, não perdeu tempo e foi logo se esfregando em suas pernas enquanto ronronava.
— Nebulosa, você não viu o Julian por ai, viu?
Ethan a pegou no colo e acariciou seus pelos sedosos, indo em direção a cozinha, no intuito de pegar algum alimento para ambos.
Enquanto nebulosa tomava leite em sua tigela no canto da sala, Ethan se arrumava em seu quarto para ir até a casa de Kathy, precisava arrumar bons argumentos para convencer ela a o ajudar em sua missão do dia seguinte, também estava contando com a ajuda de Julian.
Minutos depois, ele deixava a casa indo em direção a calçada.
— Ethan.
Alguém o chamou, era uma voz feminina. Ele parou de andar e hesitou em se virar para trás, de certa forma reconhecia a quem ela pertencia.
Novamente a ouviu chamar seu nome e sem ter outra escolha, virou-se, via perfeitamente Elizabeth parada na porta de sua casa, usava um vestido azul escuro e estava com os cabelos soltos.
— Você não é real...
— Não sou?

Ethan deu as costas, sabendo que aquilo não passava de meros reflexos da doença em sua cabeça.
A mulher insistiu em persegui-lo pela calçada.

— Eles vão desligar meus aparelhos, sabe o que significa certo? Isso mesmo, eu vou morrer Ethan. Vou morrer por sua culpa.
— Saía da minha cabeça — pediu ele, ainda andando.
— Você não quer isso, está na cara. Esta vivendo uma ilusão criada por você mesmo nessa cabecinha doente. Isso de me salvar, de contar sua história a uma desconhecia, não passa de desculpas esfarrapadas e você sabe. Aceite a realidade, pobre Ethan, se remoendo de dor e culpa por dentro. Acha mesmo que pode me ajudar? Você não consegue ajudar a sí mesmo.
— CALE A BOCA! — Ethan se virou para trás, mas nada viu além de uma pessoa que andava na direção oposta que ele, no fim da rua. Voltou a andar, indo em direção a casa de Kathy e todas as luzes estavam acesas, pode ver também que a porta estava aberta e tocava uma música baixa.

Ele se aproximou da porta e dali pode ver algumas pessoas andando de um lado para o outro, segurando seus copos de vidro, cheios de bebidas alcoólicas. Ficou as observando, parado, pensando seriamente em dar meia volta e fugir de tudo aquilo, não gostava de socializar.
Se virou para ir embora, mas para o seu azar deu de frente com Kathy. Ela segurava uma caixa de plástico contendo algumas garrafas de bebida.
— Ethan, você veio.
— Sim, eu vim.
— É impressão minha ou você estava tentando ir embora sem nem ao menos falar comigo?
— Eu.. Bom, não vou mentir. Estava mesmo indo embora, eu te disse que não sou muito sociável.
— Relaxa, você vai gostar do pessoal, pode me ajudar com essa caixa?
Ethan pegou a caixa de suas mãos e Kathy segurou em seu braço, quase que o puxando para dentro de casa.
— Quer me deixar sem braço.
— Não vou correr o risco de você sair correndo com medo.
— Não é medo...

Kathy abaixou a música, o que deixou Ethan mais nervoso ainda.

— Pessoal! Quero que conheçam um amigo. Este é Ethan, dêem um ola para ele.

Todos presentes disseram "ola", e aquilo deixou Ethan morrendo de vergonha. Ele respondeu da mesma maneira, dando um leve sorriso forçado enquanto fitava todas as pessoas presentes na sala, haviam cerca de vinte ou quinze.
— Muito obrigado por isso — murmurou, fuzilando Kathy que riu da situação, logo após isso ela voltou a aumentar a música.
— Você toma bebidas alcoólicas?
— O que você acha?
— Hmm — ela fez caras e bocas — tenho certeza que não.
— Acertou.
— Você é um porre Ethan.
— Sou.
— Esta vendo? Parece um uma maquina com defeito.
— Ou um defeito em uma maquina. Agora se puder, por gentileza me dizer aonde posso largar essa caixa...
— Ah, desculpe — ela riu — venha.

Kathy o acompanhou até a cozinha e ele colocou a Caixa sobre uma mesa de mármore, seus braços ficaram avermelhados.

— Kathy, preciso te pedir uma coisa.
— Pedir? O que seria?
— Preciso ajudar uma pessoa que esta entre a vida e a morte, e para isso preciso ir na casa de outra pessoa, parente da primeira pessoa, para convencer essa pessoa a salvar a primeira pessoa...
— Parou ai, eu não estou entendendo nada, que tal me explicar tudo bem detalhado, e eu quero os nome das pessoas também.
— Ta certo, estava tentando encurtar a história.
— Agora comece do inicio.
— Existe uma garota, no hospital onde eu trabalho...
— Sabia! Aposto que é sua namorada.
— Não, ela não é. No estado em que ela esta, nem poderia ser.
— Por que?
— Porque ela está em coma.

— Em coma? — perguntou Kathy.
— Sim, e ela vai ter os aparelhos desligados em um mês.
— Isso é triste.
— Isso é algo inaceitável, eles escolheram o destino dela.
— E ela é sua parente?
— Não.
— Conhecia ela?
— É complicado te explicar isso...
— Complicado?
— Sim, preciso da sua ajuda para tentar salvar ela.
— Como?
— Não sei ainda, talvez convencer a avó dela de que fazer isso é a mesma coisa que estar cometendo um assassinato.
— E o que eu faria exatamente?
— Você pode me levar até a cidade vizinha, eu pediria o Julian, mas não confio muito no carro dele.
— Então essa garota não é desta cidade?
— Creio que não, acho que ela morava com a avó, ou com o namorado, não sei bem.
— Ela tem um namorado?
— Não. Não mais, pelo que sei, ele a abandonou no hospital, mas teve a cara de pau de aparecer lá esses dias. É um babaca.

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora