A GAROTA SOBRE A CAMA
Ethan despertou assustado após ter mais um sonho com um dos vários bombardeios sofridos no tempo em que serviu o exercito. Estava afastado a dois meses e mesmo assim era afetado pelas lembranças das varias mortes e chacinas que havia presenciado.
Fitou o grande relógio pregado a parede perto a porta e ele marcava exatamente quatro e vinte da madrugada. Levantou-se e foi até a gaveta mais próxima procurar seus remédios, havia sido afastado de seu cargo como fuzileiro após ser diagnosticado com esquizofrenia e ter se envolvido em uma grande confusão.Depois de tomar um dos comprimidos, olhou para a cama mas havia perdido completamente o sono, talvez pela ansiedade de ir ao seu primeiro dia de trabalho. Julian, seu amigo que também serviu ao exercito, havia lhe arrumado um emprego temporário em um hospital que ficava aos arredores das montanhas no leste da cidade. Ethan foi até o banheiro e ligou o chuveiro, em seguida sentou-se no chão e ficou apenas sentindo a água morna tocar seus cabelos. Cada gota que batia contra sua cabeça o trazia recordações dos tiros e das bombas, havia abandonado a guerra mas pelo visto a guerra ainda não havia lhe abandonado.
Horas depois estava de frente para o pequeno espelho de seu quarto arrumando a gola e as mangas de sua blusa xadrez, não estava muito elegante mas sentia-se apresentável.
Aproximava-se das sete da manhã quando ele trancou toda a casa e seguiu pela calçada indo em direção ao ponto de ônibus. Pode avistar cinco aviões das forças americanas cruzando os céus rumo ao horizonte. Não sentia falta alguma daquilo, lá no fundo até agradecia por ser diagnosticado com uma doença.Ficou sentado em um banco de pedra até a chegada do ônibus, Julian havia lhe entregue o endereço em um bilhete mas mesmo assim sentia medo de se perder pois não conhecia bem a cidade, optava por passar o tempo preso dentro de casa sendo refém de sua propria mente.
Tinha medo de sair e acabar ferindo alguém devido a seu ultimo surto, mas agora com o dinheiro acabando ele precisava superar suas dificuldades e seguir em frente.
Não demorou muito para o ônibus chegar e ele embarcar. Sentou-se em um dos assentos no fundo e ficou encarando a janela, apenas olhando todas as pessoas que via pela viagem. Desde que se lembrava, sempre esteve sozinho, a guerra que o criou também havia retirado tudo e todos de sua vida.
Meia hora depois ele deu sinal para que o motorista parasse o ônibus, desceu em uma rua suja e olhou em todas as direções. Retirou o bilhete do bolso novamente para confirmar se havia desembarcado no lugar certo.Andou pela rua até chegar em uma área um tanto deserta, com bem poucas casas e estabelecimentos. Por ali havia bem mais natureza do que civilização, o que deixava tudo mais lindo aos seus olhos.
Logo avistou o maior prédio da redondeza com alguns letreiros no topo, para sua sorte havia encontrado o hospital sem muita dificuldades. Agora era rezar para que ocorresse tudo de acordo com o plano.
Por ali haviam algumas pessoas que andavam de um lado para o outro, também notou algumas crianças que brincavam perto a uma pequena fonte. Passou pela entrada do hospital e deu de frente com um senhor de idade que andava sem prestar atenção no caminho.— Desculpe, senhor — pediu Ethan.
— Olhe por onde anda — reclamou o homem seguindo seu caminho.Ethan ficou sem entender nada. A sua esquerda havia uma pequena fila e esta levava até a recepção.
Ficou atrás de uma senhora que usava uma blusa felpuda avermelhada, possuia cabelos loiros e um jeito sofisticado de olhar. Ela o fitou por cima dos ombros.— Um rapaz tão jovem procurando auxilio medico?
— Na verdade estou procurando emprego — ele sorriu — e não sou tão jovem, já tenho vinte e sete anos. Bom, farei em duas semanas.
— Me parece bem forte, deveria procurar em um lugar que pague melhor — ela deu um sorriso amigável, Ethan preferiu não mencionar sua doença, apesar dela não o afetar tanto como nos casos normais ele sempre escolhia não falar sobre o assunto. Quando chegou sua vez de ser atendido, a recepcionista, que parecia bem ranzinza, encarou suas mãos vazias.— Onde está sua senha?
— Eu sou o novo empregado aqui no hospital.
— E já assinou tudo?
— Sim. Meu amigo, Julian, me enviou os papeis e eu os entreguei pelo correio.
— Seu nome?
— Ethan.Ela o encarou mais uma vez.
— Completo.
— O que?
— O nome.
— Ethan Magnólios Calisto.Ela vasculhou as dezenas de papeis dentro de uma caixa e a demora deixou Ethan impaciente com medo de ter enviado os documentos errados.
— Sim, está aqui — ela levantou-se e rodeou a bancada da recepção — me siga.
Ele a seguiu por alguns corredores e pararam de frente a uma porta. Ela a abriu e lá dentro havia alguns armários de metal. Abriu um deles e entregou a Ethan seu uniforme.
— Você ficara responsável pela limpeza dos quartos 4B-1, 8B-9, AF-2 e os corredores 1 e 2. Seus equipamentos de limpeza estão todos aqui, vassoura, panos, produtos — ela virou-se para ele — você sabe limpar alguma coisa?
— Sim, fui responsável pela limpeza de alguns quartéis antes de me tornar um fuzileiro.
— Veremos, preciso repetir seus locais de trabalho?
— Não.
— Tem certeza?
— 4B-1, 8B-9, AF-2, corredores 1 e 2.
— Então não demore e comece logo.Após se vestir, Ethan pegou o que precisava e começou seu trabalho, pensava que seria fácil mas as pessoas que iam e vinham sujavam todo o corredor.
Seus dois primeiros quartos estavam sem nenhum paciente, o que facilitou ainda mais. Após limpa-los, subiu algumas escadas no fim do corredor que levavam ao andar de cima. Lá procurou pelo quarto AF-2 e este estava fechado.
Abriu a porta devagar e entrou, sobre a cama havia uma jovem loira desacordada com alguns equipamentos e tubos ligados ao seu corpo. Tropeçou em um carrinho velho que estava jogado pelo chão e deixou a vassoura cair, fazendo muito barulho. Encarou a jovem rezando para que não acordasse e para sua sorte ela nem se mexeu.Ethan começou a limpar o quarto e tentou fazer o minimo de barulho possível, antes de fechar a porta olhou para a mulher e esta parecia estar em um sono profundo.
Alguns raios de sol entravam pela janela aberta e batiam diretamente em seu rosto. Ethan escorou a vassoura e andou até a janela, em seguida a fechou para que o sol não incomodasse o sono daquela paciente.Fechou a porta e começou a limpar todo o corredor 2, estava feliz por finamente se encaixar em algo.
Ao fim da tarde terminou seu horário, então trocou de roupa e deixou o hospital.
O sol já se escondia atrás das montanhas e ali fora não estava mais tão movimentado como antes, quase não havia pessoas e um silêncio agradável tomava conta de tudo.
Fez o mesmo trajeto até o ponto de ônibus e o esperou, em menos de dez minutos encontrava-se dentro do veículo público.Quando chegou em casa foi direto para a cozinha fazer algo para comer, em seguida tomou seus remédios e ficou escutando tudo que diziam no pequeno radio em seu quarto, esse era um de seus passatempos preferidos.
O dia apesar de ter sido normal também foi muito cansativo, então jogou-se na cama e acabou pegando no sono, mas não sem antes ajustar o despertador.
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A Garota Em Coma
RomanceEthan, um ex-soldado que sofre de esquizofrenia começa a trabalhar em um hospital e lá conhece Elizabeth, uma paciente que está em coma e terá seus aparelhos desligados em cinco meses.