Capitulo 36

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Um ano antes

Nolan e Elizabeth estavam lado a lado fitando um grande chafariz diante deles.
— É como se eu fosse explodir a qualquer momento — disse ele ficando inquieto — Eu prometo que aquilo não vai acontecer de novo. Eu te juro...  É que só de pensar em perder você eu sou tomado por essa maldita raiva, eu sou capaz de fazer tudo só pra que ninguém separe a gente, até mesmo matar se for preciso.

Dia seguinte...

Ethan encontrava-se no quarto de Elizabeth andando de um lado para o outro enquanto explicava todos os acontecimentos recentes para ela.
— Ele não é um cara bom pra você, pode ser algum dia, mas nesse momento está longe disso. Não é muita ironia? Eu o reencontrar assim no meio de toda essa situação e descobrir que ele se tornou o inverso do que eu desejava — Ethan deixou escapar um suspiro enquanto parava perto a cabeceira da cama — e agora... Eu não tenho mais como te ajudar, eu não tenho recursos pra isso. Minha única esperança é de que você vai abrir os olhos quando eu terminar de te contar a minha história...

***

Duas semanas se passaram desde que Julian havia conseguido escapar e por todo esse tempo eu fui torturado e forçado a trabalhar com o corpo todo machucado. Cassandra me torturava durante o dia e a noite os maus tratos ficavam por conta de Peter.
— Você está um lixo, parece um cadáver — disse Vanda ao meu lado, ambos estávamos trabalhando junto as demais crianças.
— É.. — respondi enquanto trocava minha caixa pois já havia terminado de encher a primeira.
— Seu amigo nos fez de trouxa, ele só nos usou pra poder ir bem longe daqui.
— Isso não importa mais — eu conversava com dificuldades e mal conseguia abrir os olhos pois estavam muito inchados. Minhas roupas esfarrapadas encontravam-se sujas de sangue e eu havia me acostumado com a fome.
— Agora você sabe como as pessoas são de verdade.
— Isso não importa mais.
— Qual é? Não vai falar mais nada? Eles estão te matando aos poucos, todo dia escutamos os seus gritos. Entregue o Julian logo, diga para onde ele fugiu e acabe com seu sofrimento.
— Eu não sei para onde ele foi, eu nem sei em que cidade estamos, como poderia saber para onde ele foi?

— Invente algo, eu sinto pena de você, está um completo bagaço. É triste, então dê um jeito ou se mate sei lá.
— A única pessoa que vou matar será Cassandra — encarei Vanda e ela evitou o meu olhar, não sei se foi uma demonstração de medo diante daquelas palavras, frios ou simplesmente hesitação em olhar para a minha cara deformada e roxa.
— Então tá. Faça outra besteira, assim eles te matam de vez.
O silêncio foi interrompido pela única porta do local sendo aberta por um chute de Peter. Um calafrio descomunal percorreu todo o meu corpo ao ver que ele segurava o braço de uma criança, mas não era uma criança qualquer, era Julian.
— Olhem — gritou Peter — vocês acham que podem fugir de nós? Crianças miseráveis, vejam isso, esse vermezinho escapou de nós mas conseguimos por as mãos nele outra vez. Eu queria muito esfola-lo vivo mas tenho que esperar Cassandra chegar, até lá comece a chorar — ele empurrou Julian escada a baixo e em seguida fechou a porta.
Julian percorreu os olhos por todo o local enquanto as crianças o encaravam e enfim o seu olhar se encontrou com o meu.
— Ah não — disse ele vindo rápido até mim mas antes de se aproximar mais do que devia eu o acertei um soco na cara, o fazendo dar passos para trás, ele levar a mão até o rosto.
— Uau — disse Vanda sorrindo.

Em seguida voltei a trabalhar como se nada tivesse acontecido, eu não ligava para mais nada, as torturas arquitetadas por Cassandra pareciam estar me transformando em uma criança irreconhecível que só tinha um pensamento em mente: matar Cassandra a qualquer custo.
— Eu mereço isso, admito — disse Julian se recompondo enquanto as demais crianças voltavam a trabalhar.
— Você merece é muito mais — Vanda não perdeu tempo — além de nos usar para fugir ainda foi otário o suficiente a ponto de se deixar capturar.
— Cale a boca menina idiota, você não sabe de nada. Ethan — Julian me puxou pelo ombro e eu o empurrei — eu sei o que tudo isso parece. Eu fiquei fora duas semanas e você deve estar pensando que eu te abandonei.
— E não foi isso? — perguntou Vanda.
— Que menina chata — reclamou Julian.
— Você só precisava avisar a droga da policia e todos nós estaríamos a salvo — ela continuou.
— Ok, você vai me ouvir de qualquer maneira — Julian me puxou a força e ambos ficamos de frente, eu já havia cerrado o punho outra vez quando ele começou a falar enquanto trocava olhares comigo e com Vanda — escutem porra, acham que eu fiquei fora essas duas semanas fazendo o que?

— Algo útil que não foi — disse Vanda o provocando.
— Caso vocês não tenham notado, eu tenho o cérebro melhor do que o de todos nesse orfanato, e isso inclui o de vocês. Sou estrategista, calculista e nunca erro.
— Estamos vendo — falei sem balbuciar.
— Continuando, quando eu escapei pelo portão tive que passar dois dias escondido na mata por causa dos homens da Cassandra. Depois disso fui até a cidade mais próxima a procura de ajuda e em seguida comecei a criar um plano que não tivesse falhas para salvar todo mundo aqui.
— E olha só, conseguiu nos salvar — Vanda cruzou os braços — era só ter ido a uma delegacia.
— É mesmo? — Julian aproximou-se de Vanda e a olhou fixamente — e quem você acha que me mandou de volta pra cá?
— Isso é mentira, porque a policia te mandaria de volta para esse covil? — o questionei.
— Por causa do dinheiro, Cassandra parece ter domínio sobre as leis das cidades vizinhas e por isso esse lugar maldito ainda não foi destruído ou denunciado — ele me respondeu e aquilo até fazia sentido — eu fui até a delegacia ontem e dois policiais me colocaram em uma sala, me trancaram lá e hoje pela manhã me arrastaram de volta para esse lugar.

— Mas você está fora a duas semanas e só decidiu ir até a delegacia ontem? — quis saber Vanda.
— Sim, como eu disse antes, eu sou mais experto do que qualquer um aqui. Eu já desconfiava da influência de Cassandra sobre a policia, mas eu precisava ter certeza e agora tenho.
— E isso ajuda em que? — perguntei.
— Antes de ir até a delegacia eu planejei tudo, criei um plano caso a policia me trouxesse de volta pra cá. Ethan — ele colocou as mãos em meus ombros — eu não te abandonei, eu nunca faria isso. Eu só estava me certificando de que tudo desse certo pra que a gente pudesse ficar a salvo. Isso é tudo parte do meu plano final.
Nesse exato momento ouvimos um estrondo que parecia vir do lado de fora do orfanato e aquilo assustou todas as crianças.

— Que merda foi isso? — perguntou Vanda enquanto voltava seus olhos para a única entrada daquele lugar.
— Eles chegaram — Falou Julian fazendo o mesma coisa.
— Quem chegou? — perguntei curioso.
— Os civis da cidade vizinha, dezenas deles armados com todos os tipos de armas possíveis. Se preparem para sair dessa desgraça de lugar.
— Isso não pode ser verdade — eu não consegui acreditar naquelas palavras.
— Todos vocês! — gritou Julian chamando a atenção das crianças — parem de trabalhar, acabou os dias de tortura e trabalho forçado. Acabou os dias de banhos forçados e acabou as noites frias nesse maldito lugar. Graças a mim todos vocês ganharão um lar decente então podem me chamar de líder, rei, tanto faz.
— Nem fodendo — reclamou Vanda.
— Você trouxe os civis?
— Sim, os civis ficaram revoltados quando eu contei o que acontecia aqui e eu precisei de uma semana e meia até reunir pessoas o suficiente para destruir esse lugar.

— Isso só pode ser uma pegadinha — voltou a dizer Vanda.
— Façam silêncio — pediu Julian com os olhos vidrados na porta que ficava no fim da escada. Vários outros barulhos começaram a ecoar por todo o orfanato. Sons de objetos quebrando, pessoas discutindo e o grito de uma mulher.
Meu coração disparou, não era mentira de Julian, era real e estava mesmo acontecendo. fitei minha mão esquerda cujo os dedos Cassandra havia quebrado e esta estava apenas enfaixada de uma maneira desleixada. Aquilo iria custar muito caro a ela e eu mesmo me certificaria de que isso acontecesse. Só precisava de uma pequena chance.
— E agora? — perguntei.
— Agora esperamos — respondeu Julian indo em direção a escada. Ele subiu lentamente degrau por degrau tomando todo o cuidado possível, não podia afirmar ao certo quem poderia estar do outro lado e nem se a situação estava favorável para nós. Ele abriu a porta e inclinou a cabeça para poder ver o que estava se passando ali próximo.

A Garota Em ComaOnde histórias criam vida. Descubra agora